Chanceler colombiano defende o uso da força contra as Farc
O chanceler colombiano, Fernando Araújo, durante sua passagem pelo Brasil nesta semana, conseguiu demonstrar que o presidente Alvaro Uribe não representa o que há de mais reacionário em seu país. Essa referência pertence a ele próprio.
Publicado 23/08/2007 16:18
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Araújo disse com todas as letras que só vê o uso da força contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como solução para o conflito em seu país.
Confira abaixo trechos da entrevista:
Após ter sido mantido refém por seis anos, o sr. realmente crê que seja possível chegar a um acordo de paz ou derrotar as Farc?
Creio que é mais fácil derrotá-la que chegar a um acordo de paz. Porque a guerrilha que eu conheci não tem nenhum compromisso com a paz da Colômbia. São guerrilhas que se originaram na época da Guerra Fria, que se formaram sob os princípios marxistas da congregação de todas as formas de luta e que sempre interpretam qualquer ato de generosidade do governo colombiano como um ato de fraqueza. Além disso, se financiam com o narcotráfico, que produz uma rentabilidade muito alta, e essa riqueza faz borrar a fronteira que poderia existir entre sua antiga luta política e seus atuais interesses econômicos. Se tornaram arrogantes, são fanáticos. E é muito difícil comunicar-se com fanáticos.
Até agora, a tentativa de derrotar a guerrilha pela via militar não funcionou.
[interrompendo] Sim, funcionou. Fui testemunha durante seis anos de como os terroristas das Farc foram cedendo terreno militarmente. Quando me seqüestraram havia naquela região duas frentes, a 37 e a 35. Hoje elas são uma só. Conheci mais de 150 guerrilheiros que me vigiaram em diferentes períodos. Garanto que ao menos 60% deles estão mortos, presos ou desmobilizados. E não foram substituídos, porque as Farc não têm como recrutar jovens onde atuam. Estão, sim, enfraquecendo.
Para o sr. então a saída é aumentar a ofensiva militar?
É o que estamos fazendo. Dentro do conceito de Segurança Democrática [política de segurança do governo Álvaro Uribe], estamos fortalecendo o Exército mediante o aumento do efetivo, da capacidade de inteligência, da modernização dos equipamentos e também do respeito dos direitos humanos e da liberdade de todos os colombianos. É diferente da teoria da segurança nacional da época das ditaduras militares, que se baseava na restrição das liberdades.
Como alcançar isso sem os fundos do Plano Colômbia, que sofreram corte no Congresso dos EUA?
Recebemos fundos importantes pelo Plano Colômbia, mas a cada dia somos mais autônomos na solução de nossas necessidades militares e de todo tipo. Criamos um imposto no ano passado, pago pelas empresas com patrimônio superior a US$ 1 milhão, que vai nos permitir arrecadar nos próximos quatro anos aproximadamente US$ 4 bilhões, que vão servir para o fortalecimento de nossas forças militares.
Há uma forte pressão internacional pela libertação dos reféns das Farc. Essa pressão pode fazer Uribe negociar pontos que normalmente não aceitaria?
Tem havido grande pressão, mas essa pressão deve ser contra as Farc, que são os seqüestradores, e não contra o governo colombiano. Não existe nenhum suporte moral para a ação terrorista das Farc. A Colômbia é uma democracia plena, em que todas as pessoas podem se manifestar com liberdade. Então não há motivo que justifique que grupos violentos tentem impor sua vontade contra a maioria dos colombianos.
A Colômbia sofreu uma derrota importante ao não conseguir aprovar o Tratado de Livre Comércio no Congresso americano…
[interrompendo] Você está mal informada. Primeiro que não sofremos nenhuma derrota ainda, porque o tema não foi apresentado formalmente para votação no Congresso. Os congressistas democratas chegaram a um acordo com o governo Bush para incluir nos tratados de livre comércio um marco geral que fixa padrões em matéria trabalhista, ambiental e de propriedade intelectual. Esse novo marco já foi firmado entre o governo Bush e a Colômbia e acabamos de apresentá-lo ao Congresso colombiano. Depois, Bush deve colocá-lo para votação. Enquanto isso não ocorrer, não se pode falar de derrota.
A demora na aprovação teve algo a ver com a emergência do escândalo da parapolítica?
Não há demora. Os acordos do Peru e do Panamá também não foram aprovados. Que o tema da parapolítica tenha surgido no debate é natural. As forças discordantes magnificam os problemas que temos na Colômbia e diminuem nossos êxitos. Mas as pessoas não se deixam enganar, e a verdade vem à tona.
O que veio à tona foram as evidências de vinculação de políticos, alguns aliados de Uribe, com paramilitares e da infiltração do Exército por narcotraficantes.
Todas essas coisas saíram à luz pública pelo firme compromisso do governo colombiano em que se conheça a verdade e se castiguem os responsáveis pelos atos ilícitos. As pessoas próximas a Uribe estão sendo processadas pela Justiça com o respaldo do governo.