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Distanciamento de governo iraquiano irrita EUA

Os laços cada vez maiores do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki com o Irã fraturaram o governo do país, apoiado pelos Estados Unidos. Vários grupos sunitas e xiitas (ramo religioso do premiê) abandonaram a administração, seguindo os passos do blo

As últimas visitas do premiê ao Irã e à Síria, dois alvos do imperialismo americano no Oriente Médio, jogaram mais gasolina à fogueira. O presidente dos EUA, George W. Bush, demonstrando irritação com a “molecagem” de Maliki, resolveu abrir fogo contra o primeiro-ministro e a mídia americana cedeu amplos espaços para suas palavras.



Maliki está sob crescente pressão e é acusado pelos EUA de adotar medidas que respondem aos interesses do governo xiita do Irã. Após a visita dele a Teerã, o presidente americano lhe fez uma advertência de que não se aproximasse “demais” dos iranianos. Ameaçou até mesmo com um castigo o vassalo rebelde.



“Minha mensagem para ele [Maliki] é a seguinte: se o surpreendermos em uma atitude que não é construtiva, terá de pagar um preço por isso”, vituperou Bush.



Em sua viagem a Teerã, em 8 de agosto, Maliki agradeceu ao Irã por sua colaboração “positiva e construtiva” para “oferecer segurança e comabter o terrorismo no Iraque”.



Em seguida às críticas de Bush, ainda em território sírio, Maliki rebateu o presidente americano: “Ninguém tem o direito de estabelecer calendários para o governo de Bagdá. Este foi eleito pelo povo e só ele pode decidir o seu futuro”.



Ainda mais. A reação de Maliki foi mais além, com a promessa de “procurar novos amigos” se os EUA causaram algum problema à confiança que ainda teria com o seu “senhor” ocupante.


 


Após a troca de farpas, Bush recuou alguns milímetros e, no dia que fez seu mais criticado discurso do ano, no Missouri, a veteranos de guerra, tentou ser “compreensível” com o indisciplinado. “Maliki é um cara legal [nice guy, em inglês], que faz um trabalho difícil. Dou-lhe todo o meu apoio.”



Em Washington, onde a oposição à guerra cresce tanto entre a oposição democrata como entre alguns republicanos mais moderados, o discurso de Maliki provocou “preocupação”. Em um relatório das agências de espionagem americanas, a preocupação tomou forma. O New York Times publicou na quinta-feira algumas “conclusões” às quais chegaram os arapongas americanos.



“O governo iraquiano vai tornar-se mais frágil durante os próximos seis a 12 meses, em conseqüência das críticas dos outros membros da principal componente xiita, dos sunitas e até mesmo dos curdos”, vaticina a conclusão.



Não é preciso ser agente secreto dos serviços americanos para descobrir tal coisa. Agências internacionais, como a IPS, noticiaram amplamente que o governo iraquiano está cindido e Maliki, enfraquecido.



Mahmud Othman, um membro curdo da Assembléia Nacional, indicou que “a situação é muito delicada para deixá-la como está” e pediu mudanças.



“Não represento a totalidade do bloco curdo, mas como um deputado que se representa a si mesmo a a aqueles que votaram em mim, digo que este governo afronta muitos problemas com todos, inclusive os curdos”, assinalou Othman à IPS.



Os setores políticos que representam a maioria xiita da população iraquiana adquiriram um poder considerável nas eleições realizadas desde que os Estados Unidos invadiram e ocuparam o país, em março de 2003, tirando do poder a minoria sunita, que dominara os cargos públicos durante os anos da administração de Saddam Hussein (1979-2003).



Mas o governo de Maliki, que surgiu de acordos entre os grupos que dizem representar os três principais setores étnicos e religiosos do país, os muçulmanos xiitas e sunitas e a minoria étnica curda, é desacreditado por vozes que ressoam de todos os setores.



Maliki visitou Teerã no dia do aniversário em que Hussein declarou a vitória na guerra contra o Irã (1980-1988).



“Se a visita foi planejada para coincidir com essa data de forma intencional, estamos diante de um tremendo erro de Maliki”, disse Nadim al-Jaburi, secretário-geral do partido xiita al-Fadhila, que integrou a coalizão de governo até março passado.



“Estou certo de que os iranianos não teriam visitado o Iraque nessa data. Se foi uma coincidência, então mostra que pouca consideração ao nosso país tem Maliki”, completou.



“Maliki é iraniano e foi a Teerã para mostrar sua solidariedade com sua própria gente. Não tem autoestima nem consideração pela história de seu país, que esteve em guerra com o Irã”, disse irritado um advogado de Bagdá, Majid Hamid.



Maliki é secretário-geral do Partido Dawa e esteve exilado no Irã depois de liderar grupos rebeldes contra o governo de Saddam Hussein.



“Foi uma última tentativa para obter apoio de seus amos no Irã”, disse à IPS Abdul-Hussien Ali, um professor que dá aulas no distrito de Kadhimiya, zona norte de Bagdá, predominantemente xiita.



“O Irã matou a quase um milhão de iraquianos no conflito e agora nosso chamado primeiro-ministro os apóia, no mesmo dia que eles perderam a guerra”, observou.



Da redação, com informações da agência de notícias IPS