Sem categoria

Crise imobiliária afeta brasileiros nos EUA

A crise no mercado imobiliário afetou brasileiros que migraram para os Estados Unidos. Iludidos pelo crédito fácil e abundante oferecido nos últimos anos, contraíram dívidas bem maiores do que o seu orçamento suportava, lançaram mão de hipotecas astronômi

Os imigrantes brasileiros fazem parte de um segmento do mercado consumidor para quem foram desenhados os chamados financiamentos imobiliários “subprime”. Com eles estão outros estrangeiros em situação legal e a parcela mais pobre da população americana, cidadãos sem emprego ou renda fixa que, por isso, apresentam um histórico ruim como pagadores. Para esse público de alto risco, os bancos emprestam dinheiro com juros superiores à média -atualmente, de 9% a 9,5% ao ano, contra 5% a 6% ao ano.


 


Pés no chão


 


Até pouco tempo atrás, segundo contam moradores de Newark -cidade vizinha a Nova York que abriga uma comunidade de 50 mil brasileiros-, era comum ver corretores de imóveis laçando potenciais clientes no meio da rua.
“Muitas vezes me ofereceram. Diziam: “Olha, se você gasta US$ 700 com aluguel, colocando apenas outros US$ 300 você já pode entrar em um financiamento e ter o seu cantinho”. Eu nunca quis, porque não tinha condições e achei melhor manter os pés no chão”, diz a faxineira carioca Regina Araújo, 43, nos EUA há oito anos.


 


Outros viram a oportunidade pela qual estavam esperando. Além de financiar até 100% do valor da casa, recebiam no ato mais US$ 10 mil ou US$ 20 mil para gastar como quisessem (montantes incluídos no valor emprestado). “Conheço gente que pegou logo de uma vez três imóveis e embolsou US$ 60 mil”, diz José Francisco da Silva Filho, o Sampa, presidente da Baua (Brazilian American United Association), que reúne os brasileiros de Newark.


 


Empolgação


 


No entanto, nem tudo saiu conforme o previsto. “Levadas pela empolgação, as pessoas esquecem que uma casa traz gastos adicionais: seguro, impostos, manutenção. Isso faz subir o montante mensal a despender”, diz o corretor de imóveis brasileiro Alexandre Ricardo.


 


Os brasileiros e os clientes “subprime” em geral tinham a expectativa de, passados três ou quatro anos, renegociar o empréstimo, pegando mais dinheiro vivo, diminuindo o valor da prestação e estendendo o prazo dos 30 anos habituais para 40 ou 50. Eles só não contavam que os juros subiriam e o valor dos imóveis despencaria.


 


Foi o caso de Fausto da Rocha, 47, diretor do Centro do Imigrante Brasileiro em Boston. Em 2001, ele comprou uma casa por US$ 240 mil. Deu 10% de entrada e financiou o restante, pagando uma prestação de US$ 1.200. No primeiro refinanciamento, fez uma retirada de US$ 70 mil e sua parcela passou a US$ 2.500.


 


Depois, refinanciou de novo, pegando mais US$ 50 mil para saldar dívidas dos seus seis cartões de crédito e dos dois carros que havia financiado -a mensalidade subiu para US$ 3.300.


 


Fausto estava com a documentação pronta para outro refinanciamento no início deste ano quando foi surpreendido pela desvalorização da sua casa: o seu saldo devedor pulou para US$ 364 mil, quando no mercado o imóvel pode ser vendido por menos de US$ 300 mil. Aí o banco não quis conceder um novo empréstimo. Ele relata que muitas pessoas têm ido ao centro em busca de orientação e outras tantas simplesmente voltam ao Brasil, perdendo tudo o que investiram na casa própria, tomada pelo banco devido à inadimplência.