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O Le Monde e a crise imobiliária nos EUA

O jornal francês Le Monde publicou no último fim de semana uma análise sobre o perigo que representa a atual crise do setor financeiro dos EUA.  “Se, como pensam inúmeros analistas, a crise do imobiliário nos Estados Unidos se anuncia como a pior que

A mundialização da finança obriga a que as dificuldades de vários bancos norte-americanos se repercutam sobre os outros continentes. O Banco Central Europeu, intervindo nos mercados de forma inédita desde 12 de setembro de 2001, provou-o de forma evidente.



O instituto monetário quis sossegar os mercados, nesta crise surgida em fevereiro no crédito imobiliário. Era necessário: algumas horas antes o BNP Paribas tinha desestabilizado os profissionais da finança decidindo congelar três fundos de investimento de risco no crédito imobiliário norte-americano. Neste momento, não há no mercado comprador para este tipo de produto, constatou o banco francês. A sua decisão é tanto mais surpreendente quanto, uma semana antes, o BNP Paribas, ao apresentar os seus resultados trimestrais, tinha mostrado uma serenidade a toda a prova.



Ao intervir o BCE correu um risco. No começo do mês de agosto, o seu presidente Jean-Claude Trichet quis tranquilizar e parecia pensar, como o seu homólogo norte-americano, Ben Bernake, que o maior risco continuava a ser a inflação. Hoje, a injeção massiva de liquidez permite pensar que o instituto de Frankfurt pesa na actual situação dos mercados financeiros. Por causa da dispersão do risco, ninguém parece em condições de o avaliar com realismo.



Em fins de julho o banco Natixis pensava que esta crise era “muito pequena”: “o máximo que se pode perder num ano são 13 bilhões de dólares” Uma ninharia em comparação com os ativos em circulação, avaliados em 110 trilhões de euros. Todavia, se, como pensa a Standard & Poors, a crise do setor imobiliário nos Estados Unidos se anuncia como a pior que este país conheceu depois de 1929, razões para estar pessimista não faltam.



Para o BCE e para os outros bancos centrais, principalmente o FED norte-americano, o que está em jogo é evitar que a crise financeira se propague ao conjunto da economia. Este é um dos paradoxos da crise atual. Com excepção do setor imobiliário norte-americano, a economia mundial não tem grandes problemas.



O crescimento econômico é elevado em numerosos países, tanto emergentes como desenvolvidos; as empresas – incluindo os bancos – estão pouco endividadas e apresentam lucros muito elevados, e as faltas de pagamento das famílias diminuem por todo o mundo, salvo no sector imobiliário norte-americano.



As bases da economia estão alicerçadas. Até aqui, a mundialização do setor financeiro, ao repartir os riscos por diversos parceiros, aparecia como a melhor garantia contra uma crise maior. As semanas futuras dirão se os principais actores brincaram ou não com o fogo.