Festa do Avante!: não há festa como esta
Por Ana Maria Prestes Rabelo, especial para o Vermelho
Pode-se dizer que o coração de cada comunista português bate mais forte durante os três dias da Festa do Avante!. A festa é cativada e defendida como se fosse um filho para cada um
Publicado 02/09/2007 18:22
Como ocorre com o Carnaval no Brasil, todos os dias que não são da festa propriamente dita constituem a sua véspera. São meses de expectativa construída com base no planejamento e na construção prática do território que abriga o encontro. Dentro do espaço da festa, meses antes da sua realização, se reúnem milhares de voluntários, sendo alguns fixos e vários que vão se alternando durante as seguidas semanas necessárias para erguer a cidade do maior encontro político-cultural de Portugal e um dos maiores da Europa.
A construção
O trabalho de construção da festa é um capítulo a parte. Não importa se é o secretário de Relações Internacionais do PCP, um euro-deputado ou um militante recém-ingresso. Todos se transformam em construtores, todos colocam literalmente a mão na massa e não surpreende encontrar tanto os destacados quadros, como os ilustres desconhecidos militantes, todos sujos de tinta e com as mãos calejadas após um dia de trabalho na cidade festiva.
É também na preparação da festa que se forjam e se formam os militantes e dirigentes partidários, independente do tempo de militância e das funções que cumprem do lado de fora da festa. Com esse processo surgem novas lideranças, testa-se a democracia interna e principalmente exercita-se a humildade comunista tão defendida por Álvaro Cunhal.
Grande parte deste trabalho é organizada em forma de jornadas que têm início normalmente em junho e se repetem todos os dias, incluindo feriados e fins de semana até a abertura da festa. Destaca-se aqui a forte presença da juventude, por isso mesmo antes de sua abertura os comunistas consideram a festa como da juventude.
Pelos cálculos do PCP mais ou menos 4 mil pessoas participam nas jornadas, efetuando-se cerca de 20 mil horas de trabalho voluntário empregados em erguer, decorar e equipar os quase 22 mil metros quadrados de área construída. Também nos dias da festa, o trabalho voluntário é imprescindível – em torno de 12 mil voluntários se desdobram para cobrir o funcionamento dos pavilhões, bares e restaurantes.
A história
A festa nasceu no período pós-Revolução dos Cravos (Abril de 1974) no ano de 1976. E desde então se consolidou como uma obra dos comunistas portugueses e de seu partido. Nas palavras do PCP a Festa do Avante é a “grande festa que a juventude fez sua, festa aberta a todos, que a todos acolhe e respeita e em que todos podem encontrar algo que os enriqueça”.
É “o lugar destacado da arte e da cultura e do seu amplo encontro com o povo; o ambiente caloroso, tolerante e fraterno; o valor do trabalho humano e do papel dos trabalhadores, da solidariedade e do esforço coletivo; a informação e o debate sobre as grandes questões do nosso país, do nosso mundo e do nosso tempo; a participação massiva da juventude afirmando a sua própria maneira de ser, de estar e de viver; os ideais, o patrimônio histórico e o projeto de futuro que os comunistas portugueses empunham e que têm o seu símbolo maior na sempre insubmissa bandeira vermelha que ondula no ponto mais alto da Atalaia”.
A festa leva o nome do jornal dos comunistas portugueses Avante! e tem a duração de três dias. Atualmente, é realizada em território adquirido na quinta (chácara) da Atalaia na margem sul do rio Tejo, na outra margem está Lisboa. Mas ao longo dos seus 31 anos, a festa já se realizou em cinco lugares diferentes sempre sob ameaça de ser desalojada por autoridades que não conseguem disfarçar um certo desconforto com a magnitude do encontro. Ficaram marcadas especialmente as edições de 1980, com o concerto de Chico Buarque; a de 1985, com o lançamento do livro O Partido com Paredes de Vidro, de Álvaro Cunhal; e a de 1994, ano do 20.º aniversário do 25 de Abril.
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