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Laerte Braga: Ascensão e queda de William Bonner

Para quem acha que o “messias” volta, está aí um prato feito. Volta ou não volta, quem sabe já não está aí? Ao que me conste William Bonner é o próprio. Cristo entrou em Jerusalém montado num jerico. Bonner, dois mil e tantos anos depois entra na casa

Pena que não lhe tenha sido atribuída a energia de promover milagres. Teria enchido a pista principal do aeroporto de Congonhas de ranhuras e evitado o acidente com o avião da TAM. Os texanos, por exemplo, resolveram esse problema de forma simples. Ou o Superman, ou a família Marvel e nas selvas de Bengala o Fantasma que anda. E tem o Homem Aranha, o Aqua Man, a Mulher Maravilha, isso, mais aquilo, aquiloutro e tudo a cores produção Metro Goldwin Mayer, direção de George Walker Bush.


 


Desconfio que esse Walker de Bush seja uma espécie de código para o Fantasma. É que o herói, quando vem a plagas ditas civilizadas, se auto-denomina “Mr. Walker”. Para os urbanos mr. Walker é apenas o marido da milionária Diana Palmer. Leva vantagens de léguas sobre Superman e Lois Lane. O cara conseguiu reverter a lua de mel, falo do homem de aço.


 


O fiel/incauto não tem culpa de ser fiel/incauto. Vem sendo condicionado desde tempos imemoriais, desde aquele negócio que cuidado ao abrir a porta. Pode ser o messias chegando, preste bastante atenção.


 


A ascensão de Bonner vai ser transmitida a cores e ao vivo, assim como o nascimento de Sasha, a filha da deusa Xuxa, transmissão exclusiva de Fátima Bernardes, direto da pista central do aeroporto de Congonhas e das pesquisas do Ibope. É que a Globo não sabe bem onde enfia ditas pesquisas, pois não sabe como arrancar do altar central o “deus” fabricado na mesma fábrica que fabricou o “o homem de seis milhões de dólares”.


 


Bat Masterson era mais palatável. Jogaram no lixo. Usava chapéu coco, estava sempre com uma derringer na manga, ganhava no pôquer e o tema musical era “no velho oeste ele nasceu/e entre bravos se criou …”


 


“Senhores e senhoras telespectadores, com tecnologia da Nasa o venerável William Bonner está subindo aos céus ao quadragésimo dia da constatação de falta de ranhuras. Bonner usa equipamentos de última geração produzidos pela Agência Espacial Texana e dentro de alguns minutos, assim que atingir planos celestiais, vai enviar mensagem direta a todos os incrédulos e impuros na tentativa de salvá-los da Record, da Bandeirantes, do SBT, de todos os concorrentes, tudo sob o patrocínio da TAM.


 


Assim que chegar a ionosfera, ou qualquer fera significativa, Bonner vai confirmar se Gagarin estava certo ou não ao dizer que “a Terra é azul”. Com a poluição e o processo de degelo da Antártica e do Ártico, é possível que já esteja meio para cinza.


 


Quando estiver alojado no firmamento superior o robô/deus terá três minutos diários no Jornal Nacional para falar sobre ranhuras e dizer que a tecnologia usada para sua ascensão, mesmo fabricada pela Nasa, tinha dez por cento de componentes nacionais, todos saídos das oficinas mecânicas da TAM.


 


É lógico que isso é conversa fiada, mas os custos elevados obrigam-no a esse sacrifício. “Itaú/Visa” é o segundo patrocinador e a OI. Será possível falar com céu usando OI, o celular democrático.


 


Fecha tudo com a constatação que 36% dos anjos preferem Skol porque desce redondo. 14% Brahma por conta das músicas de Zeca do Pagodinho, outro tanto Antártica, e o resto ou bebe coca cola, ou outras marcas menos conhecidas. Nos redutos mais puros se bebe Bohêmia e nos mais elevados só malte escocês de pelo menos 500 milhões de anos envelhecido em barris de ossos de tiranossauros rex.


 


Moet e Chandon e Chateau Mouton Rotschild só mesmo nos gabinetes divinos supremos.


 


Sobre os planos inferiores Bonner não fará comentários, pois perceberá que ali se bebe é a marvada pinga batizada com álcool e às vezes o etanol da Roça de Cana.


 


O que vai deixar Bonner assustado será descobrir a quantidade de mesas de sinuca em amplos salões com ar celestial condicionado e um galpão só de pastas com divisórias para tudo.


 


O fim será uma lágrima furtiva de Fátima Bernardes agradecendo a Rede Globo a mentira nossa de cada dia e um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) dizendo que pode mudar de idéia, mas aparentemente a rede fez tudo de forma legal.


 


Tentaram negociar com o detentor dos direitos autorais o fundo musical de 2001, Uma Odisséia no Espaço, mas só foi possível mesmo “eu sou o pirata da perna de pau/pau pau/do olho de vidro//vidro vidro/da cara de mal…”


 


Galvão Bueno vai ajudar na transmissão. Foi avisado que ao final não tem que gritar “toque o tema da vitória”. O “negócio” ali é outro. É falta de ranhuras na pista central do aeroporto de Congonhas.


 


Isso vai garantir à Globo pelo menos mais vinte anos de liderança e a capa de Veja vai trazer Calígula, sua irmã e o cavalo Incitatus ao fundo, Bonner em primeiro plano, só o rosto e ao lado: “Globo chega aos céus primeiro que texanos”.


 


Quando você virar a capa e entrar na revista (epa), vai ter um anúncio de três páginas do Itaú, outro de dois da TAM (Uma página fica para a manutenção dos aviões), uma para a Skol e o bonequinho da OI gritando Viva a Democracia, Deus Salve o Cansei.


 


Ah! Bonner vai subir de tênis da Nike, depois de demoradas negociações com os concorrentes. É que a turma lucra mais com trabalho escravo na Indonésia, no Timor e a concorrência chinesa precisa ser enfrentada, antes que o Zingbon ner suba primeiro.


 


Renan Calheiros até lá, pelo jeito, vai ser defenestrado.