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Renan: 'Setores levianos tentam atropelar a opinião pública e impor seus interesses'

Em entrevista ao Vermelho, o presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), comenta o calvário a que está sendo submetido em consequência das sucessivas denúncias feitas contra ele por setores da mídia e da oposição. Renan reclama que ''a manipu

 


Confira abaixo a íntegra da entrevista:


 


O senhor acha que a insatisfação da sociedade com os políticos em geral – segundo o Ibope, menos de 10% da população confia nos políticos – refletiu no seu caso em particular? Em outras palavras, o senhor acha que quem está sendo julgado é o senador Renan Calheiros ou a classe política em geral?


 


Renan – Desde o início, denunciei que o processo contra mim era de natureza absolutamente política, assim como a campanha leviana movida por setores da imprensa. Num processo político, explicações e documentos pouco importam. Em nenhum momento, as acusações absurdas levantadas contra mim vieram acompanhadas por provas. Fui eu, pelo contrário, que apresentei todas as provas, desmentindo uma a uma as calúnias alimentadas por adversários regionais rancorosos.


 


A manipulação da opinião pública, já cansada depois de tantos escândalos e denúncias de corrupção, foi evidente.  Mas a sociedade precisa ter consciência de que a instituição, o Parlamento tem papel relevante na democracia e precisa estar acima de qualquer crise. Se há algo que foi superado, que apodreceu, foi nosso sistema político-eleitoral. Não existe mais qualquer desculpa para não se votar a reforma política.  É muito importante para as gerações futuras que os jovens continuem acreditando que a política ainda é o melhor instrumento para mudar o mundo.


 


Então, para o senhor, o problema é de credibilidade… Como o senhor pretende fazer para mudar a imagem do Parlamento, abalada inclusive por este processo?


 


R – A única maneira que o Legislativo tem para mudar sua imagem é trabalhar. Trabalhar para o bem do país. Trabalhar em uma agenda positiva, suprapartidária, que garanta uma vida melhor, mais digna para todos os brasileiros. Uma agenda que garanta qualidade na segurança pública, saúde, educação, moradia. Para avançar nessa agenda, o único caminho é o diálogo, o entendimento. É esse o caminho que sempre procurei trilhar na Presidência da Casa e que continuarei trilhando.  


 


Fundamental, também, é continuar apostando na autonomia e na independência do Parlamento. Não podemos mais admitir, por exemplo, que o excesso de medidas provisórias continue atropelando o processo legislativo ou que divergências partidárias paralisem votações importantes para o país.


 


A sua absolvição veio na contramão de setores da opinião pública. Será possível manter o cargo, apesar das pressões?


 


R – A minha absolvição não veio, de forma alguma, na contramão da opinião pública. Setores levianos é que tentaram, sem sucesso, atropelar a opinião pública e impor seus interesses mediante intrigas e calúnias. É um absurdo que parte da imprensa se arvore o poder de derrubar aqueles que não lhe são convenientes. Opinião pública para mim é a que está expressa no voto. Aquele que me elegeu como senador e elegeu os senadores que me colocaram e me ratificaram para o posto – a presidência do Senado.


 


No mundo inteiro, há uma disputa entre os Parlamentos e a mídia em torno da representação da sociedade. Alguns órgãos de imprensa, muito poderosos, acreditam ter a legitimidade de ser porta-voz único da opinião pública, mas o Senado e a Câmara foram concebidos primordialmente para isso. Na verdade, são anteriores à imprensa. Esse papel fiscalizador que a mídia exerce é fundamental na democracia e pode ser dividido, sem problemas, com os parlamentos.


 


Mas a minha absolvição foi uma vitória de todos os que acreditam na verdade e no senso de justiça; uma vitória do Senado, que comprovou, através do voto, sua isenção e responsabilidade. Os senadores deixaram bem claro que não se dobram a pressões ilegítimas e interesses escusos. 


 


Por que o senhor decidiu não se afastar do cargo? O senhor teme que longe da Presidência não tenha forças para resistir à pressão de alguns parlamentares e de setores da mídia?


 


 R – Não é uma resistência por teimosia, vaidade pessoal ou apego ao cargo. A democracia tem seus procedimentos, sua lógica, sua liturgia, que precisam ser respeitados. Para se eleger, uma pessoa tem de ter o apoio da maioria. Foi isso que aconteceu nas eleições que enfrentei. Na verdade, de certa forma, eu fui o único Presidente de uma Casa Legislativa no país a enfrentar três eleições para a Presidência, porque a absolvição da semana passada teve um caráter plebiscitário.


 


E tudo funciona assim: a minoria tem seus instrumentos, tem seus direitos preservados pelo Regimento Interno e pela Constituição, mas o processo democrático caminha pela vontade da maioria. E as decisões da maior parte dos senadores têm de ser acatadas, por mais que elas desagradem a setores políticos, no caso minoritários.


 


Mas essa é, também, uma questão de foro pessoal. Simplesmente, não posso compactuar com a mentira, com a calúnia e a intriga. E é à frente da Presidência que devo provar minha inocência e lutar por minha defesa. Não poderia trair os 73 votos que me elegeram, os 51 que me reelegeram e os 46 que me absolveram.


 


A Oposição comemora uma obstrução que parou o plenário por duas sessões. O senhor não acha que está prejudicando o Senado e a votação de projetos importantes para o País, ao não se afastar do cargo?


 


R – Não há obstrução contra ninguém. Há uma obstrução em função de uma pauta que tem de ser negociada pelos partidos, pelos líderes partidários. Cabe ao Presidente do Senado presidir. É o que eu tenho feito, com a autoridade que o cargo requer. Lembro que no ano passado, pela primeira vez desde a
Constituinte, foram votadas mais matérias originárias do poder Legislativo que do Executivo, em função justamente do entendimento costurado entre as lideranças políticas. Se não voltar a haver um entendimento entre os líderes partidários as votações continuarão a ser prejudicadas.


 


O que não se pode fazer é colocar os interesses pessoais e políticos acima dos interesses do país. A CPMF, por exemplo, deve chegar em algumas semanas ao Senado e ela tem sua importância. Claro que ela seria mais bem aceita pelos senadores no bojo de uma ampla reforma tributária, que, aliás, já aprovamos. Mas se não aprovarmos a renovação da contribuição, isso pode representar o fim do Bolsa-Família, que recebe cerca de 11 bilhões de reais da CPMF.


 


O senhor acredita que a CPMF passa no Senado?


 


R – Quando a CPMF chegar o Senado, aí vamos falar sobre ela. Eu já disse que podemos discutir alguns aspectos, como o compartilhamento com outras esferas da federação e uma redução gradual de alíquotas. Tudo isso pode ser discutido.


 


O senhor não fica constrangido em presidir o Senado, diante de tantos apelos pelo seu afastamento do cargo?


 


R – Por que ficaria? Respeito e sempre respeitei o trabalho da imprensa séria. Mas diante da campanha infame que tem sido movida contra mim até grandes nomes do jornalismo, como Carlos Chagas, Paulo Henrique Amorim, Elio Gaspari, Luiz Nassif e vários outros têm reconhecido que a imprensa passou dos limites e tenta manter, de forma artificial, uma crise. Tenta impor à sociedade a sua vontade e a sua decisão, não se importando com o mais simples dos princípios: a verdade. Entendo que a imprensa deve continuar livre e cumprindo seu papel de fiscalizar as ações dos Poderes, mas não pode avocar para si o direito absoluto de julgamento e condenação de quem quer que seja.


 


Existe, ou existiu, o acordo onde o senhor teria se comprometido a se licenciar em troca da preservação de seu  mandato?


 


R – Jamais fiz e nem faria qualquer acordo para garantir meu mandato. Mesmo porque isso seria, de certa forma, admitir ter feito alguma coisa errada. Não há, não houve e nem haverá qualquer acordo. O que há é a verdade, não importa o que digam. Continuarei conduzindo os trabalhos da Casa como tenho feito desde meu primeiro mandato. E é importante lembrar que o Senado tem trabalhado muito pelo País. Temos aprovado centenas de projetos e em momento nenhum, é preciso frisar isso, em momento nenhum o Senado ficou paralisado diante dessa crise artificial.


 


O senhor acredita que o Senado retomará a normalidade, sob sua condução?


 


R – Em nenhum momento o Senado deixou de lado a normalidade constitucional. A Casa cumpriu à risca suas responsabilidades. Desde que se inventou esse falso escândalo envolvendo meu nome, o Senado votou mais de 300 matérias, algumas da maior importância para o país, como os projetos de combate ao crime organizado, a inclusão digital de estudantes da rede pública, a regulamentação das Zonas de Processamento de Exportação e as mudanças no Super Simples.


 


O resultado da votação em plenário mostrou que tenho todas as condições de presidir essa Casa, com a mesma postura de diálogo, transparência e equilíbrio que sempre pautou minha atuação na Presidência. Tenho certeza de que, com a colaboração da Mesa Diretora e do  Colégio de Líderes, saberemos levar adiante todas as matérias que realmente são significativas para o país.


 


Como anda sua relação com o Presidente Lula?


 


R – Eu falo com o Presidente Lula sempre que necessário, com muita naturalidade. Somos chefes de dois Poderes da República, independentes e harmônicos. E minha relação pessoal com o presidente sempre foi a melhor possível. Ele sempre deixou claro seu apoio, em todo esse processo. Nossa última reunião foi muito boa, tivemos uma conversa institucional, falamos sobre a necessidade de os dois Poderes conversarem mais entre si.


 


O senhor tem pela frente, ainda, pelo menos mais duas representações da oposição, para apurar o suposto lobby para uma fábrica de cerveja e o suposto uso de laranjas na compra de empresas de comunicação em Alagoas…


 


R – São acusações igualmente absurdas, precipitadas, sem qualquer prova. O caso da Schincariol é ainda mais irresponsável, uma vez que envolve uma operação privada em torno de um negócio particular que não me diz respeito. E mais: a própria Schincariol já apresentou documento desmentindo minha participação no negócio e até mesmo a existência de qualquer pendência fiscal com o governo.


 


Quanto às empresas de comunicação, em Alagoas, ficou mais do que evidente que quem está por trás da calúnia é um adversário rancoroso diante da derrota, que tenta desesperadamente voltar ao cenário nacional. Essa mágoa, essa tentativa de transformar um ranço eleitoral de Alagoas em uma crise nacional não tem o menor fundamento. O que seria do Parlamento se o desejo de vingança de cada adversário político resultasse em representações e processos de perda de mandato?


 


Estou absolutamente certo que a verdade tem muita mais força que qualquer mentira. E é a certeza de minha inocência que garante minha tranqüilidade com relação a essas outras representações.


 


Qual foi, na sua avaliação, o pior momento desde o início da crise?


 


R – O pior momento foi, sem dúvida, quando a imprensa começou a expor minha vida privada. Minha família não merecia passar por isso, por um problema que eu assumi e pelo qual me responsabilizei. Mas o apoio que recebi de minha esposa, de meus filhos, desde o princípio, foi fundamental para que eu conseguisse suportar estes meses de massacre, de martírio.


 


O que o senhor pensa hoje sobre a jornalista Mônica Veloso?


 


R – Não guardo mágoas de ninguém. Desejo que ela seja feliz. O que mais lamento é a exposição de minha filha. Espero que ela cresça bem, saudável e feliz. Vou ampará-la no que for possível, quero participar de sua formação e tenho e vou continuar assumindo minhas responsabilidades perante ela.


 


Eu cumpri e continuarei cumprindo meu papel de pai, paguei todas as despesas de minha filha com meus próprios recursos, constitui fundo sua educação e cultura e pedi à Justiça a garantia dos meus direitos de poder acompanhá-la, visitá-la e vê-la regularmente.