Tribuna de Debates – A estrada vai além das eleições (Flávio Vinícius)

.

“Nós somos o Partido do futuro e o futuro pertence à juventude.                                                              
Nós somos o Partido dos inovadores e a juventude                                      
segue de bom grado os inovadores.                                                                     
Nós somos o Partido da luta abnegada contra a velha podridão                                                                    
e a juventude é a primeira a lutar abnegadamente.”


Friedrich Engels


 


 


A conferência estadual é um fórum importante para o PCdoB. Nela vamos debater e aprovar temas fundamentais, destacando-se o processo eleitoral de 2008, tarefa central dos comunistas. Levando em conta essa nova quadra política de maior democracia no país, portanto mais favorável ao seu crescimento, o partido precisa, desde já, construir um projeto eleitoral capaz de elevar sua atuação a um nível superior na disputa política brasileira.


 



             
O PCdoB tem uma grande defasagem na esfera institucional. Para se afirmar enquanto um partido de massas necessita superar esse obstáculo e, concomitantemente, reforçar sua inserção nos movimentos sociais. Apesar dos avanços obtidos nessa frente nos últimos anos, ainda persistem grandes dificuldades. Assim, o êxito nessas eleições passa por uma tática acertada, num esforço concentrado e coordenado de toda militância, orientada pela discussão que se inicia a partir do processo de conferência.


 


 


Contudo, quando o assunto é a participação da juventude no processo eleitoral, é fundamental avaliar minuciosamente a melhor forma de colocar em prática qualquer orientação, no intuito de não prejudicar sua organização, compreendendo que a campanha entre esse segmento deve ter um formato específico, formulado pelo Partido em conjunto com a União da Juventude Socialista.


 



 
No próximo ano, duas grandes batalhas estarão na pauta da UJS. Logo no início, será deflagrado o processo de congresso, no qual é debatida e aprovada a linha política da entidade e eleita as novas direções municipais, estaduais e a direção nacional. É um momento de intensas mobilizações e, ao mesmo tempo, de reorganização, em que novas direções são constituídas; novos núcleos são criados e tantos outros jovens ingressam na entidade. Isso é só o começo, pois essas estruturas levam tempo para se consolidar e exigem um esforço enorme no trabalho de organização.


 


      
 
Em seguida, entra em cena o pleito eleitoral, processo importante no qual a UJS sempre tem atuação destacada, mas que em certo sentido prejudica sua organização, na medida em que os membros que compõem suas instâncias deliberativas – recém formadas – são pulverizados nos diversos comitês de campanha (algumas vezes sem boa inserção entre a juventude), impedindo, assim, o funcionamento dos seus fóruns de decisões, o que faz com que a UJS atue em função das coordenações de campanhas, que muitas vezes não compreendem que a juventude necessita de uma abordagem diferenciada.


 


 


Não existe e nem vai existir um modelo universal de organização da juventude durante as campanhas. Por sua especificidade, cada local exige uma intervenção particular. Daí a importância de uma campanha de juventude planejada dentro da UJS. São os fóruns da entidade que podem identificar cada particularidade e aplicar a melhor tática para determinada situação. “Os jovens comunistas atuam na UJS respeitando e acatando, sempre, as decisões e o estatuto da União da Juventude Socialista. Todas as decisões devem ser tomadas nas instâncias da organização juvenil”. (1)


 


 


A fragmentação, quando impede uma atuação da entidade de forma planejada e organizada, também reduz seu papel durante as eleições. Verifica-se o destacamento de membros da UJS apenas para coordenar equipes de rua, quando estes deveriam estar fazendo um trabalho político dentro dos núcleos e nas entidades de juventude, numa campanha com a cara dessa juventude, planejada e formulada nos fóruns da UJS. Ela pode até de certa forma coordenar as equipes de rua que trabalham com a juventude, mas essa não pode ser sua tarefa exclusiva. Permanecendo nessa situação, fica até difícil dizer que a UJS atua em determinada campanha, já que apenas um ou dois militantes participam de fato e com funções que estão aquém de sua capacidade.


 


 


Compreende-se que cabe ao partido a distribuição da militância de acordo com a demanda e que é impossível concentrar toda juventude em um só comitê. Contudo, é fundamental garantir a coesão da entidade, através do funcionamento de suas instâncias para que a UJS faça uma campanha voltada para a juventude. Sem o resguardo de sua autonomia organizativa e sem o funcionamento de suas direções, fica impossível para a UJS planejar e executar uma campanha entre a juventude com a cara da juventude.   


 


 


Ainda temos que levar em conta que o esfacelamento das direções e o abandono dos núcleos deixam seqüelas que transpassam as eleições e que obriga a reiniciar o trabalho feito no processo de congresso e interrompido nesse período. Não há dúvidas quanto à importância do pleito eleitoral do próximo ano, mas não é aceitável que, passado esse momento, a entidade se disperse e suas direções se desarticulem. Segundo o secretário de juventude do PCdoB, Ricardo Abreu: “A participação dos jovens da UJS em comitês de candidaturas majoritárias e proporcionais deve ser em função do reforço da campanha entre os jovens, e não pode implicar na redução da atividade própria da UJS durante a campanha e nem pode resultar na desestruturação das direções da UJS”. (2)


 


 


É preciso garantir a organicidade da UJS, começando a partir das eleições, tendo como base a garantia mínima de sua unidade, se possível colocando num mesmo comitê a maior parte dos membros das determinadas direções, principalmente quando se tratar da direção municipal que é sempre mais problemática. Deve-se considerar, também, que todo esforço para concentrar a UJS em candidatos com verdadeira inserção entre a juventude evitará um desperdício de energia que poderá ser canalizado em candidaturas mais viáveis.


 


 


Um ponto de partida deve ser o maior diálogo entre o partido e a juventude sobre o tema das eleições, buscando trabalhar o problema conjuntamente sem prejudicar o projeto partidário, mas sem limitar a autonomia da UJS. Isso não significa que garantindo a autonomia da entidade o partido tenha que abandoná-la a própria sorte. Além dos problemas na área financeira, a juventude é suscetível a muitos desvios. Cabe ao PCdoB, com sua experiência, construir um acordo em que ambas as partes sejam respeitadas e que no final traga a vitória para os comunistas. 
Nosso objetivo passa pelas eleições, mas não pára por aí. A construção do socialismo vai exigir muita organização e disciplina dos jovens comunistas e isso requer um trabalho diário de diálogo entre partido e UJS. 


 


          


1 – Resolução do Comitê Central, Agosto de 1999 – “Sobre o relançamento da UJS e a organização dos jovens comunistas”.


 


2 – Abreu, Ricardo – “Juventude e estruturação partidária” – artigo publicado no jornal “A Classe Operária”, de maio de 2002.


 


 


 



Membro da base do PCdoB na Universidade Estadual do Ceará/UECE