Messias Pontes: Crescimento do PCdoB deixa a direita tonta

O Partido Comunista do Brasil é o que mais cresce no País. Isto levado pela abertura cada vez maior dos espaços democráticos que os comunistas ajudaram a conquistar. Somente nos quatro últimos meses mais de 60 mil democratas se filiaram ao Partido.

No Ceará, foram mais de 1.500, incluindo cinco prefeitos, quatro vice-prefeitos, dezenas de vereadores, ex-prefeitos, ex-vereadores, lideranças sindicais rurais e urbanos, intelectuais, professores, médicos, estudantes. Para citar só dois municípios, em Paraipaba e Jucás foram filiados mais de 200 lideranças em cada. Na Região Metropolitana de Fortaleza, os prefeitos de dois importantes municípios, Aquiraz e Maranguape, optaram pelo PCdoB.


 



Esse crescimento do Partido tem incomodando, e muito, a direita, notadamente os tucanos que estão completamente tontos, até porque vêm minguando continuamente depois que deixaram o governo. Semana passada o deputado Fernando Hugo (PSDB), da tribuna da Assembléia Legislativa, afirmou que o PCdoB estava pegando quem passasse por perto, até mesmo a prefeita Ritelza Cabral, do vizinho município de Aquiraz. “O que tem a Ritelza a ver com o PCdoB?”, indagou o deputado tucano. E pergunto eu: que direito tem o deputado Fernando Hugo de se imiscuir nas questões internas de outro partido? Desde quando os comunistas questionaram a entrada de alguém no PSDB ou noutro partido qualquer?


 



Deputado, não é qualquer um que ingressa nas fileiras no PCdoB, não. Para se filiar ao Partido mais antigo do Brasil – 85 anos fazendo história na defesa da soberania nacional, dos direitos dos trabalhadores, do povo brasileiro e do socialismo – bastam apenas três condições: ser honesto,  ter a capacidade de se indignar com a injustiça e as desigualdades sociais, e prometer cumprir o que determina o Programa e os Estatutos do Partido. Ninguém entra no Partido com formação teórica e ideológica.  Isto é forjado ao longo do tempo, participando da vida partidária em igualdade de condições com os mais antigos, estudando o marxismo-leninismo, executando as tarefas determinadas pelo coletivo partidário e, principalmente, se engajando na luta do povo. 


 



As pessoas mudam, geralmente para melhor, embora alguns mudem para pior. Conheci de perto o Padre Hélio Campos, de quem fui acólito (coroinha) em Jacarecanga. Ele era elitista e racista. Ao ser transferido para o Pirambu – o bairro mais pobre de Fortaleza, na época – já como monsenhor, ele passou a conviver com a miséria e deu uma guinada de 180 graus, chegando a liderar uma passeata com milhares de pessoas até o Centro da cidade clamando pela regularização fundiária dos moradores daquele bairro. Sagrado bispo, foi para a cidade de Viana, no Maranhão, onde defendeu com muita coragem e determinação os camponeses explorados pelos latifundiários da região, sendo por isso perseguido, caluniado, injuriado e sofreu inclusive tentativa de assassinato. Era odiado pelos “poderosos” e os militares golpistas.


 



Outro exemplo é Dom Hélder Câmara, que na juventude era simpatizante do fascismo, renegando-o depois. Quando foi transferido para a Arquidiocese de Olinda e Recife, já era um dos mais corajosos defensores dos direitos humanos e adversário da ditadura militar. A exemplo de Dom Hélio Campos, foi caluniado, difamado e sofreu tentativa de assassinato em Olinda, onde agentes da ditadura metralharam a sua casa.  Ele nunca se amedrontou e tampouco deixou de denunciar o arbítrio do regime militar. Eu tive o privilégio de passar um dia com ele, em 1970, e constatar o estrago feito pelas balas nas paredes da sua casa. 


 



Quem também mudou para melhor foi o então senador Teotônio Vilela, da Arena de Alagoas. Golpista de primeira hora, ele renegou o regime militar e foi o ícone da luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. Viajou todo o País fazendo campanha pela anistia e visitando os presos políticos. Aqui esteve Instituto Penal Paulo Sarasate para ver de perto como os presos políticos estavam sendo tratados. Morreu como o Menestrel das Alagoas, odiado pelos militares golpistas.


 



O exemplo mais emblemático, deputado Fernando Hugo, é o do argentino Ernesto Che Guevara. Estudante de Medicina em Buenos Aires, filho de classe média, Guevara era apenas um aplicado aluno do seu curso, aos 24 anos de idade. Resolveu conhecer o interior do seu país e de outros países do Continente, de bicicleta, quando despertou para as injustiças e desigualdades em toda a América Latina. Dois anos depois, já formado médico, alistou-se como voluntário para lutar, na Guatemala, contra o golpe de Estado patrocinado pela CIA. Ali viveu sua primeira experiência revolucionária. Foi um dos principais líderes da revolução cubana ao lado de Raul e Fidel Castro, a quem conheceu no México.


 



Vitoriosa a revolução cubana, Guevara foi ministro da Indústria e Comércio, cargo que exerceu por vários anos. Achou por bem entregar o cargo por entender que poderia dar a sua contribuição para a libertação de outros povos. Partiu para o Congo, na África, e depois para a Bolívia, onde pretendia repetir a experiência cubana. Doente, foi preso e covardemente assassinado no dia nove de outubro de 1967 num conluio da CIA com os militares ditadores bolivianos. Antes de receber a rajada que o matou, afirmou para o sargento Mario Terán: “você recebeu ordens para me matar. Saiba que você vai matar um homem”. “Che” deixou muitos exemplos de heroísmo e lições que permearam corações e mentes em todo o mundo. “Quem não tem capacidade de se indignar com a injustiça contra qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, não merece ser chamado de revolucionário”. Também é dele “tem-se que endurecer, porém sem perder a ternura jamais”.


 



Desde a fundação do Partido Comunista do Brasil, em 25 de março de 1922, muitos entraram, voluntariamente, e nem todos permaneceram. Muitos saíram, voluntariamente, porque não se dispuseram a seguir a orientação partidária, outros foram convidados a deixar o Partido por desvio de conduta. No PCdoB é assim. O Senhor, deputado Fernando Hugo, conviveu na Assembléia com dois grandes quadros do Partido – Inácio Arruda e Chico Lopes – e convive hoje com Lula Morais, outro grande quadro que dignifica o Partido, e sabe muito bem como eles atuam, inclusive tendo-lhe muita consideração, como eu também tenho. Mas nenhum deles era comunista ao ingressar no Partido. Tornaram-se comunistas no dia-a-dia.


 



Quanto aos prefeitos que se filiaram ao PCdoB, seria mais cômodo – como acontece com a maioria que muda de partido – ingressar no PSB do governador Cid Gomes ou no PT do presidente Lula. Nota-se, aí, que não há nenhum oportunismo. Foi uma opção pelo único partido com assento no Congresso Nacional que não tem uma mácula sequer. Não se tem notícia de nenhum comunista com desvio de conduta na Câmara dos Deputados, no Senado da República, nas Assembléia Legislativas, nas Câmaras Municipais, nas Prefeituras ou em órgãos públicos onde atuam. 


 



Um peixe começa a apodrecer pela cabeça. Assim são os partidos. Não há o menor perigo do PCdoB apodrecer, porque a cabeça é muito sadia. Se por acaso algum órgão adoecer (desvio de conduta) será tratado convenientemente. O corpo sempre estará sadio. Milhares em todo o País, e centenas no Ceará, inclusive com mandato, pediram filiação ao Partido, mas não foram aceitos por apresentar desvio de conduta. O PCdoB quer e precisa crescer, mas não a qualquer preço. O Partido não abre mão da ética, deputado Fernando Hugo. 


 


 


Messias Pontes é jornalista