Benazir acusa general de dar ''segundo golpe'' no Paquistão
''Ironicamente, este é um golpe, em certo sentido, conduzido pelo general Musharraf contra seu próprio regime, porque está agindo na sua capacidade de chefe do Exército para suspender a constituição'', disse a ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir
Publicado 04/11/2007 22:07
Entrevistada pela emissora de TV americana CBS, Benazir disse que os juízes e os partidos de oposição não aceitarão passivamente o estado de exceção imposto pelo governante militar. ''Sei que os juízes não aceitarão isso passivamente. Os advogados não aceitarão isso passivamente. Os ativistas políticos vão protestar'', disse a ex-governante, que acabava de voltar ao seu país após oito anos de exílio.
''Confronto desnecessário''?
A Suprema Corte paquistanesa se preparava para julgar a legalidade da pretensa reeleição de Musharraf. Quando foi surpreendida pelo estado de emergência, decretou a ilegalidade da medida.
''Estou muito decepcionada com que o general Musharraf tenha suspendido a constituição do nosso país e promulgado uma ordem constitucional provisória'', disse ela. A alusão a um ''segundo golpe'' leva em conta que Musharraf chegou ao poder, em 1999, também graças a um pronunciamento militar.
Para Benazir, o estado de emergência ''vai levar a um confronto desnecessário entre o regime e o povo, que pode ajudar os extremistas, que vão explorar a situação em seu proveito''.
Em conversa mais cedo com a rede britânica BBC, Bhutto não descartou novas conversas para compartilhar o poder com Musharraf, como as que vinha mantendo nas últimas semanas, aparentemente em busca de uma alternativa conciliatória para a crise do regime paquistanês..
''Sempre defendi que quero democracia e quero que o povo do Paquistão eleja seus próprios líderes'', declarou à BBC. No entanto, a medida de força deste sábado aparentemente desmente as esperanças que a ex-governante depositava em uma solução negociada.
Outro general enforcou o pai da líder do PPP
Musharraf decretou estado de exceção neste sábado, invocando a defesa da unidade nacional frente à ameaça do terrorismo islâmico, que estaria ''em seu apogeu'', e do Tribunal Supremo que contestava seu mandato presidencial. Após oito anos, seu regime acha-se desgastado, entrenta uma oposição democrática e uma contestação islâmica crescentes, e ainda a impopularidade de servir de cabeça-de-ponte para a ocupação militar do Afeganistão pelos Estados Unidos.
O ''segundo golpe'' torna problemática a manutenção das eleições parlamentares previstas para janeir. Benazir, filha do líder reformista Zulfikar Ali Bhutto (1928-1979), que também foi primeiro ministro mas morrer enforcado por outro general, Zia-ul-Haq, pretendia participar da eleição. Ela sucedeu o pai à frente do PPP (Partido do Povo Paquistanês), de centro-esquerda.
Da redação, com agências