UNE avalia que campanha pelo boicote ao Enade foi positiva
Embora o Inep não tenha divulgado ainda quantos estudantes realizaram o Enade neste domingo (11), a UNE avaliou como positiva a campanha pelo boicote. A entidade pediu que os estudantes colassem um adesivo na prova e não a realizass
Publicado 12/11/2007 22:35
Segundo ele, o boicote ocorreu em 12 estados e em pelo menos 24 locais de prova. No sábado a entidade pediu que os estudantes entrassem em sala e apenas colassem o adesivo ''Nota zero pro Enade. Boicote já! Por uma avaliação de verdade'' na prova.
É a primeira vez que a entidade chamou o boicote ao Enade, implementado em 2004 em substituição ao falecido Provão. Dentro da comissão do governo sobre avalição (Conaes), a UNE apoiou a criação do Enade, desde que o mesmo fosse implementado em consonância com os outros mecanismos de avaliação. No entanto, apenas o Enade andou dentro do Sinaes e por isso a entidade decidiu fazer o boicote.
Para a entidade, o Enade sozinho acaba tendo um peso desproporcional na avaliação, já que apenas os estudantes são availados. Para eles essa avaliação isolada gera o famigerado ''ranking'' entre as instituições. Além disso, assim como no falecido Provão, a prova é obrigatória e quem não comparece não tem seu diploma reconhecido pelo MEC.
''Defendemos a realização de uma avaliação plural, que leve em conta os diferentes agentes que compõem o ensino superior de forma transparente e participativa, garantindo que todos os segmentos da comunidade universitária participem do processo como sujeitos e não apenas como objetos'', sustentou a presidente da UNE, Lúcia Stumpf.
UNE quer todo o Sinaes
Segundo André, a entidade quer a implementação do conjunto de propostas para a avaliação contidas no Sinaes.
''A UNE desde o início participou da comissão do governo que elabora, dicute e implementa o Sinaes. Na comissão sempre defendemos que o Enade não poderia ser feito sem que todo o sistema de avaliação também fosse implementado. Porém, percebemos que que apenas o Enade andou e sozinho ele não é capaz de distorcer os problemas que viamos no Próvão. Precisamos também avaliar a estrutura da universidade e o desempenho dos professores. Por isso, decidimos promover o boicote esse ano. Se nossos protestos dentro da comissão não obtiveram resultados, quem sabe agora, com a nossa pressão nas ruas, o Sinaes será de todo implementado'', disse.
Ele afirma ainda que o boicote ao Enade teve um sentido diferente daquele realizado no período do Provão. ''A campanha é para que o governo cumpra o compromisso firmado em implementar o Sinaes. Não estamos pedindo uma nova avaliação, apenas queremos que o governo cumpra com o conjunto do projeto e não apenas uma parte, assim teremos uma avaliação de verdade. Por isso, a campanha tem um caráter propositivo'', destacou.
Durante o boicote a UNE também denunciou que algumas universidade davam prêmios aos estudantes que obtivessem bom desempenho.
Prêmios em SP
A Faculdade Paulista de Serviço Social de São Paulo e a de São Caetano do Sul prometeram pagar um prêmio de R$ 300 a R$ 600 aos alunos que participassem do Enade, desde que as instituições obtenham uma boa nota no exame.
Em 2004, a de São Paulo recebeu nota 2 no Enade, o antigo Provão, numa escala de 1 a 5, o que a colocou em uma das últimas posições no Estado. A de São Caetano, nota 3.
A prova do Ministério da Educação avalia estudantes do primeiro e do último ano de cursos superiores. Os resultados positivos costumam ser utilizados por instituições em campanhas publicitárias.
A Sociedade de Serviço Social, mantenedora das duas faculdades, diz que a iniciativa é um estímulo para que os alunos não boicotem o exame (a não participação dos alunos prejudica a nota das instituições).
''A nossa intenção é simplesmente estimular o estudante a participar do exame e mostrar o que aprendeu na graduação'', afirma Dionino Cortelazi Colaneri, presidente da entidade.
O valor do prêmio variou conforme o desempenho. Se a média da faculdade for igual ou superior a 4,4, cada aluno receberá R$ 600. Se a média for igual ou superior a 3,9, R$ 400; a partir de 3,4, R$ 300.
O aluno que conseguir uma nota maior do que a média da instituição receberá ainda um acréscimo de 20% no prêmio. Como as faculdades não recebem a nota individual, os alunos terão de informá-las.
A medida é polêmica. ''Arranha a ética'', diz Mario Sergio Cortella, da PUC-SP. Já Simon Schwartzman, diretor-presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, diz que ''é um incentivo a mais''.
Casos isolados?
As faculdades pretendem abater o valor do prêmio da anuidade (a mensalidade gira em torno de R$ 475, conforme o ano -1º, 2º, 3º ou 4º), assim que o resultado for divulgado. Os do 4º ano que concluírem o curso sem débito na tesouraria receberão o valor em dinheiro.
A previsão do Inep, (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC que realiza o Enade, é divulgar os resultados em meados de maio.
De acordo com Dilvo Ristoff, diretor de Estatística e Avaliação da Educação Superior do Inep, a oferta de prêmio é a primeira de que se tem registro nestes moldes.
''É a primeira vez que vejo isto assim tão claramente assumido e publicado, embora tenha ouvido falar de premiações (carros, viagens, auxílio-formatura, etc) oferecidas por algumas instituições desde os tempos do Provão'', afirma Ristoff.
Na avaliação dele, porém, o reflexo disso sobre o resultado do Enade é pequeno. ''Trata-se de casos isolados entre milhares de cursos e centenas de milhares de estudantes.''
Cerca de 260 mil alunos foram convocados para fazer o exame. O índice de abstenção foi de 15,5%. Foram avaliados 3454 cursos de 16 áreas.