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De Palma lamenta EUA não terem aprendido lição do Vietnã

O cineasta Brian de Palma retrata em Redacted a realidade da Guerra do Iraque, “um conflito que tem muitas semelhanças com o do Vietnã”, segundo disse à imprensa, lamentando que os Estados Unidos “não aprenderam a lição” com o conflito.

Redacted, filme que deu ao diretor o Leão de Prata no Festival de Veneza, denuncia os excessos dos soldados americanos no Iraque e a censura à imprensa. O roteiro se baseia em histórias reais e gira em torno do estupro de uma adolescente iraquiana por soldados, que assassinam a jovem e de toda a sua família.



De Palma utilizou atores desconhecidos para mostrar a realidade dos soldados na sua relação com a população iraquiana. São os militares americanos, com suas câmeras, que rodam o filme, como num documentário caseiro.



O diretor se aproxima assim, segundo reconhece, “do gênero documentário”. Mas, na realidade, sua intenção era “aproveitar as vantagens da era digital, gravando tudo sem grandes preparações e com baixos custos, para refletir uma história de um modo mais real”, explicou.



“Redacted” é um termo que se refere a um documento editado ou preparado para a publicação, do qual foi retirada informação pessoal, confidencial ou incômoda. “É censura, na realidade”, denuncia o cineasta. Ele comenta que em nenhum momento se sentiu como um jornalista ao fazer o filme. “Os jornalistas contam as coisas de uma só maneira”, disse.



Fontes reais



Para respeitar a história original que encontrou, preferiu “buscar fontes reais, tanto pessoas que vivem a Guerra do Iraque quanto as que só conhecem o conflito pela televisão”. “Assim pude contar um mesmo fato de diversos pontos de vista. Além disso, uma mãe não fala da mesma forma que um jornalista. Mas, antes de tudo, o fundamental era encontrar alguém que estivesse vivendo a guerra e contasse os fatos na primeira pessoa”, acrescentou.



Os papéis principais ficaram nas mãos de Lawyer McCoy, Ángel Salazar, Reno Flake e Farah, um grupo de atores desconhecidos. “Foi uma premissa básica para que o filme parecesse um documentário real, ganhando um maior impacto”, explicou De Palma. Ele passou vários meses procurando jovens que “pudessem representar este material, tão duro, de maneira realista”.



O material veio “principalmente da internet, onde há muita informação de pessoas que viveram a guerra e contaram a sua história”, revelou.



O criador de Dália Negra (2006), Vestida para matar (1980) e A fogueira das vaidades (1990) tem muito clara sua avaliação sobre a intervenção do seu país no Iraque. “Está muito ruim. Está morrendo muita gente. Acho que as tropas deveriam sair dali o mais cedo possível”, opinou.



Pai de dois clássicos do cinema de terror, Carrie, a estranha (1976) e A fúria (1978), De Palma reconhece que a forma de rodar Redacted lembra muito a de A Bruxa de Blair. Mas lembra que já nos anos 60 fazia este tipo de cinema muito real, retratando de forma documental as ruas de Nova York em Wotan's wake (1962) e Festa de casamento (1969).



Brian de Palma já prepara um novo filme, baseado na chegada de Al Capone a Chicago e suas relações com o policial Jimmy Malone.



Fonte: Efe