Conferência mostra PCdoB mais forte em Minas
A cidade de Contagem recebeu neste final de semana comunistas de todas as regiões de Minas, que realizaram sua 12ª Conferência. Os delegados representaram os 5352 militantes que debateram em assembléias de base e municipais em 176 cidades.
Publicado 20/11/2007 10:29
As presenças, falas e sotaques mostraram a expansão que o partido teve no último período. “Este é um encontro dos que se filiaram ao partido e os que já estavam. Chegamos aqui mais fortes e coesos. Isto é fruto deste momento político que o Brasil atravessa”, definiu a presidente estadual e deputada Jô Moraes.
A deputada apresentou a visão que o Comitê Central está tendo da situação política. A partir de uma análise profunda, relatou Jô, o CC a aprovaou em sua última reunião a defesa de uma série de reformas de “caráter democrático e popular, reforçando a luta pelo desenvolvimento nacional”. “Apontamos a urgência de uma Reforma Política, com pluralismo partidário e contra o hegemonismo dos grandes partidos. Reforma tributária, para taxar grandes fortunas, quem ganha mais paga mais”.
A presidente falou também da Reforma Educacional “para buscar ensino de qualidade e para todos e elevar os investimentos em ciência e tecnologia”. Por último, Jô defendeu as reformas urbana e agrária, “para contemplar a luta do povo pela moradia, saneamento e bem estar social e atender a demanda e o anseio dos trabalhadores rurais pela terra”. Para ela, “toda esta pauta vai em sentido de valorização dos trabalhadores e de distribuição de renda”.
Partido
A análise do PCdoB no estado foi feita pelo vice-presidente Zito Vieira, que considerou o crescimento recente do PCdoB de Minas “algo bastante positivo e desafiador”. Apresentando o documento aprovado pela direção estadual, Zito afirmou que “pode-se afirmar que o PCdoB em MG iniciou sua fase de audácia em 2006. A vitória eleitoral abriu conscientemente um novo ciclo partidário, aumentando o prestígio e a influência política dos comunistas. Abriu possibilidades e ampliou o potencial”.
Continuando, o dirigente ressaltou que , “ a reconquista do mandato federal teve enorme significado político, orgânico e ideológico. A manutenção do mandato estadual através de chapa própria foi singular, original e representou na prática a antecipação da audácia na vida partidária em Minas. Seguramente esse feito colocou o partido em Minas num novo patamar”.
Oposição
Mesmo não sendo tema específico na apresentação, a discussão sobre a conjuntura estadual ganhou relevância nas intervenções dos delegados. Considerado o principal opositor de Aécio na Assembléia, o deputado estadual Carlin Moura apresentou números “que comprovam que a prioridade deste governo é a elite, quem tem vez são justamente os mais poderosos, contemplados com uma política de incentivo fiscal”.
Segundo Carlin, “quando avaliamos a gestão estadual do PPAG (Plano Plurianual de Ação Governamental), observamos as discrepâncias. Enquanto o somente para 2008 o orçamento do Estado é de 36 bilhões de reais, o investimento previsto para a redução da pobreza e inclusão produtiva é um bilhão e 700 milhões, mesmo assim em quatro anos. Esta em quinto lugar em prioridades”.
Para a implementação do Sistema Único de Ação Social, contou Carlin, “estão previstos para serem aplicados em quatro anos um investimento de 0,46% do total dos recursos”. “Já o Fundo Estadual de Ação Social tem uma previsão de 00.8% para serem aplicados”. Enquanto isso, “projetos de isenção fiscal são direcionados aos setores proeminentes da economia, como a agroindústria, grandes empresas e mineradoras, que são dominadas pelo capital estrangeiro e só levam nossas riquezas, deixando os buracos e a população empobrecida”.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Uberlândia, Django Alves, denunciou o tratamento que é dado aos lutadores do campo. “O governo Aécio usa a força militar para reprimir o movimento social, como faz com os trabalhadores sem terra”. A mesma denúncia foi feita por outro sindicalista, só que da cidade, o presidente do Sindicato dos Professores, Gison Reis, “o governo estadual é baseado na política neoliberal voltada para a elite e a repressão aos movimentos sociais e a imprensa, que está agindo sob censura.” O professor defendeu que “o nosso partido tem que fazer uma oposição radical ao governo Aécio”.
O vereador anfitrião da Conferência, Lucas Cardoso, opinou que um dos objetivos da Conferência seria definir uma forma de enfrentar o governo Aécio, “Sair daqui com uma política clara de oposição”. Lucas é um dos 21 vereasores que filiaram ao PCdoB no último período. Estas filiações foram festejadas por Jô Moraes, que convocou os novatos para serem clamados na frente do plenário. Coube ao vereador Lipa Xavier, que está em seu quarto mandato em Montes Claros, dar às boas vindas aos colegas.
Políticas Públicas
A necessidade do PCdoB ser mais ousado nas disputas eleitorais foi lembrada por vários conferencistas, que consideraram como forma de apresentar mais claramente para a população. Seria também uma oportunidade de mostrar como os comunistas aplicam as políticas públicas. A pré-candidatura de Jô Moraes a prefeitura de Belo Horizonte, de Carlin em Contagem e Geraldo Pimenta em Betim foram citados por vários oradores como uma oportunidade do PCdoB se colocar como alternativa em cidades pólos.
“Nosso partido mostra que é bom de resistência política e consegue se colocar na mesma altura em momentos de democracia”, definiu o secretário executivo do Ministério dos Esportes, Wadson Ribeiro, que fez uma das intervenções mais aplaudidas da Conferência. Analisando a nova fase de expansão e ousadia do PCdoB, Wadson, que já foi presidente da UNE e da UJS Nacional, disse ver expresso o novo momento naquele encontro de comunistas. “Esta Conferência mostra que cada vez que se deixa o PCdoB respirar ele cresce. E se deixarem os comunistas se organizarem livremente, vamos governar este país” .
O presidente da Câmara de Uberaba, Lourival dos Santos, disse que através de políticas públicas o PCdoB pode intervir na vida das pessoas, no seu dia a dia. O vereador contou do projeto João de Barro, que ele desenvolve na sua cidade. “Através da união dos moradores, constrói-se casas populares em sistema de mutirão”.
Homenagens
Moções e homenagens foram aprovadas por unanimidade pelos delegados da Conferência. Uma das moções foi de solidariedade ao presidente Hugo Chavez e repúdio ao rei da Estanha Juan Carlos, em função da peleja protagonizada pelos dois nos últimos dias.
Coube ao dirigente estadual Sérgio Danilo, a homenagem feita a Karl Marx pelo “legado que nos deixou”. “Realizada em Minas Gerais, rendemos nossas homenagens a este que nos 17 anos antes do século XX morreu e nos 17 anos do começo do século XX renasceu na grande revolução de outubro, que fundou um novo tipo de estado, a primeira república de operários e camponeses”, pronunciou Danilo, arrancando aplausos dos delegados.
Um clima de emoção tomou conta da Conferência, quando foi aprovado uma moção de saudades de Diogo Pulião, dirigente estadual e vereador em Nova Lima, que faleceu no primeiro dia de 2007. A moção aprovada contou um pouco da sua vida política. Diogo morreu com apenas 27 anos, “mas construiu com belas páginas sua curta existência”. Falou da sua forma alegre de levar a vida e sua dedicação ao Partido.
O texto aprovado citou o escritor mineiro Fernando Sabino, que um dia fez um pedido a sua família, para se escrevesse em sua lápide a frase: Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino. Ao falar de Diogo, o texto afirma que, “Parafraseando-o, poderíamos escrever no local onde descansa hoje Diogo Pulião: Aqui jaz Diogo Pulião, que nasceu menino, viveu menino e morreu menino.”
Eleição
A última atividade da Conferência foi a eleição da nova direção do PCdoB de Minas. Como foram reunidos mais de cinco mil militantes durante o processo, foram eleitos 63 nomes para dirigir o Partido no próximo período. A votação pela primeira vez foi secreta e não houve alteração da nominata apresentada pela direção cessante. Para ser incorporado na direção, o delegado tinha que conquistar 20% de indicação na nominata distribuída anteriormente, que teve votação aberta.
Com colaboração de Murilo Ferreira e fotos de João Paulo Dias