Chega a SP peça musical que 'ressuscita' Renato Russo
Bruce Gomlevsky está à frente de uma das interpretações solos mais esperadas na cena paulista. Na peça musical Renato Russo, o ator faz o papel do cantor e compositor que liderou a Legião Urbana e morreu há 11 anos, vítima dos efeitos da aids.
Publicado 22/11/2007 19:21
Pessoalmente, Gomlevsky diz que não tem nada a ver com Renato. Não é bem verdade, mas essa auto-avaliação o levou a se dedicar com afinco ao personagem, com seus gestos, voz, barba, bigode, óculos e camisas de mangas largas. Há dois anos ele traz de volta, num palco de teatro, um dos cantores mais populares e queridos do Brasil.
“Dizem que eu 'incorporo', mas não gosto da palavra, apesar de ser um elogio”, diz o ator. O carioca Gomlevsky faz 33 anos justamente nesta quinta-feira (22), na estréia para convidados, em São Paulo, de Renato Russo, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil.
A peça fica em cartaz até fevereiro do ano que vem, descontado recesso de final de ano. Estreou no Rio em outubro de 2006, nos dez anos da morte do cantor. Percorreu 15 cidades, de Recife a Brasília, e ruma a 200 apresentações. Foi vista por mais de 60 mil pessoas. Em São Carlos (SP), a sessão ao ar livre reuniu cerca de 6 mil – o recorde.
O molde é o mesmo de um show, em que o personagem narra passagens da vida e da carreira, na maioria das vezes à frente de uma banda. Na ficção, o grupo é a embrionária Aborto Elétrico ou a Legião Urbana. Na realidade, é a Arte Profana – que acompanha o Renato Russo de Gomlevsky em 22 canções.
Já seu interlocutor na peça é, de fato, o público. Mas há também os invisíveis, como amigos, familiares e jornalistas, como quer a dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho, em colaboração com o ator e o diretor Mauro Mendonça Filho.
“Por onde a gente passa, de Norte a Sul, as pessoas cantam todas as músicas. Nunca tinha feito uma peça que emocionasse tanto”, diz o protagonista. Ele destaca ainda a adesão de adolescentes que descobrem a Legião agora.
Gestos e canto
Gomlevsky diz ter estudado “internamente” a aproximação física nos gestos e maneiras de falar e cantar do vocalista. “Sempre quis trazer a alma do Renato para a cena”, diz ele, que rejeita a pecha de “cover”.
O ator idealizou o espetáculo há quatro anos, quando ganhou da mulher e co-produtora, a atriz Julia Carrera, uma biografia de Russo. Botou a voz num CD, tirou fotos caracterizado e pediu autorização à família do artista, que endossou o pré-projeto e, depois, cedeu os direitos para o espetáculo.
Mauro Mendonça Filho atribui a recepção do trabalho não apenas à técnica de Gomlevsky, há 14 anos na estrada (dirigido por Gerald Thomas, Enrique Diaz, Felipe Hirsch e outros) e que dias atrás defendia o papel-título de Macbeth, no Rio, ou ainda foi visto na TV Globo no especial Por Toda a Minha Vida, homenagem ao líder da Legião.
Para o diretor, o que o ator alcança seria fruto de sua “sensibilidade”. Daí certa “confusão espírita”, conclui ele, quando se está diante de um artista que “recria a alma, e não a imita”. É o resultado que esperam manter na transposição do musical para o cinema, em breve. Por esse espetáculo, Mauro Mendonça ganhou o Prêmio Shell 2006.
A direção
O texto é de Daniela Pereira de Carvalho, que já tem dez peças escritas e reconhecimento da crítica. Mas talvez a de maior sucesso de público seja Renato Russo, redigido em sala de ensaio, em estreito processo de colaboração com diretor e ator, prática comum na vida dessa autora.
“Eu tinha 18 anos quando ele morreu. Escutei uma música sua pela primeira vez aos 11 anos, comprei o LP e, a partir daí, recuperei tudo o que ela já tinha gravado e passei a acompanhar a carreira”, diz Daniela. Apesar de tanta admiração, o ator garante que as contradições do artista estão em cena. “Ele era gay, alcoólatra, consumiu heroína, morreu de aids e tudo isso está em cena, tratado com muita delicadeza.”
A trajetória do músico é retratada desde a juventude “punk” em Brasília, quando fundou a primeira banda, Aborto Elétrico, passando pela carreira-solo até o sucesso da Legião Urbana. Momentos difíceis como o quebra-quebra num show em Brasília estão retratados. E, claro, as músicas de seu repertório – como Perfeição e Ainda É Cedo -são interpretadas por Bruce.
Da Redação, com Folha e O Estado de S. Paulo