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Contra PT, 'Folha' erra e insiste no erro, diz ombudsman

Em sua coluna de domingo (25), o ombudsman da Folha de S.Paulo, Mário Magalhães, repudiou a série de matérias publicadas pelo jornal na semana passada. Sem provas nem contrapontos, a Folha insistiu na tese de que o PT teria recebido R$ 500 mil de

A foi cabalmente desmentida por todas as instituições envolvidas na matéria – incluindo a própria Polícia Federal, suposta fonte dos repórteres da Folha. A incorreções da reportagem inicial (publicada em 18 de novembro) também foram objeto de uma carta do PT, enviada ao ombudsman na terça-feira (20). Mas ele não citou a carta em sua nota de domingo nem tocou em pontos críticos da manipulação editorail apontados na correspondência.


 


Compare a nota publicada na Folha e a carta enviada pelo PT.


 



Folha erra e insiste nos erros


 


Por Mário Magalhães


 


A Folha apurou uma informação valiosa para o último domingo: as empresas ABC Industrial e Nacional Distribuidora de Eletrônicos doaram R$ 500 mil ao PT.


 


Elas são ligadas à Cisco, gigante mundial do mercado de redes de computadores cujas importações no Brasil aparentemente foram feitas com valores subfaturados.


 


Policiais federais que investigam a fraude contaram, sem que seus nomes fossem revelados, que as duas firmas não têm condições de arcar com tamanho desembolso. E que o pagamento se deu em troca de favorecimento a outra empresa próxima da Cisco, a Damovo, em leilão eletrônico da Caixa Econômica Federal.


 


O jornal descobriu que foram encontrados os recibos das doações, o PT as confirmou e disse que são legais.


 


As informações têm interesse público. Porém a manchete foi “Cisco usou laranja para doar R$ 500 mil ao PT, afirma PF”. Como evidenciou nota posterior da Polícia Federal, a instituição nada afirmou. Informações em “off” foram tratadas pela Folha como declarações oficiais. Um engano no qual o jornal reincidiu.


 


Na segunda-feira, a reportagem “Caixa alterou edital de concorrência que diz não ter mudado” concluiu: “Na retificação foram retiradas do edital características técnicas dos equipamentos – e foi graças à sua proposta técnica, e não ao preço menor, que a Damovo venceu o pregão”.


 


Mais: “Em troca (da doação ao PT) a Caixa alterou edital para que a Damovo, distribuidora da Cisco, vencesse um leilão”. A CEF respondeu que a mudança ocorreu em leilão que a Damovo perdeu, não no que ganhou. O jornal não teve como contestar, contudo não se corrigiu. Pior que errar é insistir no erro. No submundo dos agrados a partidos, não duvido de nada. Mas o jornalismo deve ser fiel aos fatos. E os fatos contradizem a Folha.


 


 


A carta do PT


 


Prezado Mário Magalhães,


 


Manchete da Folha de S.Paulo do último domingo (18/11/2007) tenta mais uma vez vincular o Partido dos Trabalhadores a procedimentos ilegais, usando para isso supostas conclusões da Polícia Federal no inquérito da Operação Persona – no qual a multinacional Cisco e suas associadas no Brasil são acusadas de fraudar a Receita Federal em R$ 1 bilhão.


 


Em linhas gerais, diz a Folha que: 1) o PT recebeu R$ 500 mil de duas empresas para favorecer a Damovo, distribuidora de produtos da Cisco no Brasil, em um pregão da Caixa Econômica Federal; 2) estas duas empresas seriam “laranjas” da Cisco; 3) os R$ 500 mil foram entregues ao PT em uma mala de dinheiro.


 


Tanto na manchete (“Cisco usou laranja para doar R$ 500 mil ao PT, afirma PF”) como no texto principal da reportagem (página A4), a Folha sustenta a tese de que a Polícia Federal já tem elementos para comprovar o envolvimento do partido com as ilegalidades citadas.


 


Todas as informações obtidas pelo jornal vêm de supostos policiais da PF e de supostos executivos da Cisco. Nenhum deles é identificado na matéria. Mas esse detalhe não impediu a Folha de utilizar repetidas vezes as assertivas “diz a PF”, “afirma a PF” e “segundo a PF”, passando ao leitor a falsa idéia de que as acusações partiram de fonte oficial e que constituem fato consumado.


 


Houve, nesse caso, uma clara tentativa de enganar o leitor, dando a acusações vagas de personagens anônimos uma chancela institucional que nunca existiu.


 


A pergunta que fica é a seguinte: se a Folha queria credibilidade institucional, por que não procurou os canais oficiais a fim de que confirmassem a história? A Polícia Federal tem assessoria de imprensa. E o inquérito da Operação Persona tem delegado responsável. Por que o jornal não os procurou?


 


Provável resposta: o jornal evitou as fontes formais porque um eventual desmentido mandaria para o espaço a preciosa manchete de domingo contra o PT. Como, porém, é pouco recomendado bancar manchete de tal gravidade usando apenas offs, a Folha decidiu institucionalizar artificialmente a acusação.


 


Em nota enviada na sexta-feira (16) à redação da Folha, após ser informado sobre a existência das “denúncias”, o PT já manifestava sua estranheza pelo fato de, até aquele momento, não ter recebido qualquer comunicado formal da PF a respeito de procedimentos investigatórios que o envolvesse.


 


O tratamento dado a esta nota, aliás, merece comentário à parte. Nela, o partido fez uma exposição detalhada das doações de pessoas jurídicas em 2007, informando o total dos valores recebidos (R$ 6.223.001) e o número de empresas doadoras (16). A nota afirma também que não houve doações em dinheiro, menos ainda em “malas”. Todas as doações – incluindo as das empresas citadas como “laranjas da Cisco” na reportagem – foram feitas por transferência eletrônica ou cheque, estão devidamente documentadas e constarão da prestação de contas do PT junto ao TSE.


 


O que a Folha fez com estes e outros esclarecimentos prestados pelo partido? Jogou na página A12, bem longe da página A4, onde o conjunto das acusações aparece sem qualquer referência às posições do PT.


 


Pior: nesta mesma página A4 há um infográfico sob o título “A doação da Cisco ao PT”. Nele, entre outras informações, a Folha explica aos seus eleitores, em cinco itens, o “passo-a-passo da doação”. Os itens 2 e 3, relativos a “quem entregou” e “quem recebeu o dinheiro”, são ilustrados com o desenho de uma mala.


 


Ou seja, no didático infográfico o jornal compra integralmente a versão de seus informantes anônimos e despreza por completo um desmentido formal do PT, devidamente assinado por seu secretário de Finanças e Planejamento, Paulo Ferreira.


 


Sabemos que a Folha não é obrigada a acreditar nas explicações do partido. Mas por qual motivo decidiu escondê-las de seus leitores?


 


Ao que tudo indica, a resposta é a mesma da pergunta anterior e pode ser resumida numa simples constatação: bom jornalismo não combina com manchetes pré-fabricadas.


 


Atenciosamente,


 


Gleber Naime, secretário Nacional de Comunicação do PT.


 


Da Redação, com site do PT