As furadas análises ocidentais das eleições na Rússia
As próximas eleições parlamentares para forma a nova Duma na Rússia, assim como as presidenciais de 2008, envolveram a realidade russa de um denso caráter “eleitoralista”. Seguindo essa linha, os numerosos “analistas ocidentais” ou “kremlinólogos”, se dis
Publicado 29/11/2007 16:16
Após as eleições de 2 de dezembro, poucos partidos contam com sérias possibilidades para superar o limite de sete por cento. O novo parlamento provavelmente será dominado pelo Partido Rússia Unida, encabeçado por Vladímir Pútin, e em segundo lugar pelo Partido Comunista da Federação Russa. A eles poderiam se juntar, embora não se julgue fácil de acontecer, o Partido Liberal-Democrata da Rússia (LPDR) de Jirinóvski e o Rússia Justa. Além disso, alguns comentaristas locais apontam que estas eleições podem representar a certidão de óbito para os partidos “liberais” Yabloko (Maçã) e União das Forças de Direita (SPS).
Nesse suposto cenário parlamentar estão baseadas boa parte das críticas de alguns analistas ocidentais em relação à legitimidade democrática da Rússia. Baseados em alguns tópicos, assinalam que um parlamento dominado por uma força e onde outros partidos têm apenas acesso, dificilmente pode catalogar-se como democrático. Deveria ser questionado a esses sisudos analistas quantos partidos existem no Congresso estadunidense ou no Parlamento Britânico. A partir da Rússia observa-se que nestas eleições parlamentares quatorze partidos políticos concorrerão aos postos, ao mesmo tempo que teremos mais de seis candidatos por vaga aos 450 lugares serão ocupados pelos eleitos.
Desde que Pútin moveu suas fichas há alguns meses, nomeando Viktor Zúbkov como primeiro ministro, o desconcerto se apoderou das fileireas dos numerosos “especialistas”. A partir dessa data, ficou claro que somente o líder russo conhece as entrelinhas de seu plano e que movimentos como esse mostram razões “estratégicas, não táticas”.
O que Pútin mais teme é que sua sucessão se converta em uma luta entre os diferente interesses, ideologias e grupos que convivem sob o mesmo teto que abriga o atual presidente russo. A realidade política da Rússia nestes momentos vai mais além da leitura uniforme que querem nos apresentar algumas fontes ocidentais. Se o controle de Pútin é óbvio, também é a presença de diferentes forças disputando uma melhor situação no esquema de poder russo.
Nesta luta, o grande vencedor em matéria ideológica bem poderia ser definido como o “nacionalismo russo”, ao que alguns apontam como “uma força que sempre mostrou seu poderio e que neste momento é uma força dominante na Rússia”. Durante os últimos anos alguns assinalaram a existência de “três epicentros” na política russa. O primeiro é formado pelos “liberais”, com um forte conteúdo ocidentalizante e representado pelos partidos liberais e figuras opositoras como Kasparov ou Kasyanov. O segundo seria o formado por forças conservadoras ou revolucionárias, de corte “eslavófilo” e que tem várias tendências ao longo da história (os Povtchenniki — ou tradicionalistas —, os euroasiáticos…), o Partido Comunista e outras formações se situariam neste grupo. Finalmente encontramos o epicentro conservador ou preservacionista, situado no entorno das forças que apóiam o presidente Pútin. Apostam por “um contrato de Estado e contam além disso com o apoio dos recursos administrativos”.
Dentro do próprio Kremlin, também podemos encontrar diferentes posturas ideológicas que lutam pelo poder. Os “liberais” ao redor de Grez e Kudrin, e com setores econômicos e empresariais por trás deles. Os “tecnocratas”, com Medviedev e Millar, controlando o monopólio do gás. Os “silovki”, com raízes nos serviços de inteligência e ao redor da cidade de São Petersburgo — Chtchin, Ivánov e Pátruchev seriam alguns dos mais importantes membros desse clã, contam com grande poder dentro do Kremlin e controlam também setores chaves da economia russa. Finalmente poderiamos elencar os denominados “tchinovniki”, a nova burocracia criada nos últimos anos do mandato de Pútin e com presença de oficiais das administrações regionais e central, e com um forte peso na Rússia Unida.
Se as eleições do próximo domingo são importantes para determinar algumas respostas do futuro político na Rússia, a grande perguna é saber quem será o sucessor de Pútin na presidência do país. O alto índice de popularidade de Pútin é um fator chave no resultado das eleições de março de 2008. Segundo uma pesquisa recente, dois terços do eleitorado russo estaria disposto a apoiar o sucessor que receber o apoio explícito do atual presidente. As mesmas fontes assinalam além disso que existem três perfis melhor situados para candidatarem-se ao posto, como o atual primeiro-ministro Zúbkov e os vice-primeiros ministros Ivánov e Medviedev.
Até o momento, todas as fontes apontam que o Partido Comunista apresentará seu líder como candidato à presidência. Genadi Ziuganov é o que parece melhor situado nessa posição atualmente. Mikhail Kasyanov também anunciou que pretende se apresentar como candidato, mesmo que não conte com o apoio do presidente Pútin. Considera-se que seu apoiado tenha totais condições de vencer a eleição ainda no primeiro turno.
Dentro desse círculo de possíveis eleitos se encontraria Zubkov, cuja nomeação como primeiro ministro desconcertou o Ocidente e abriu a porta a um sem-fim de especulações sem muita base. Esse ex-líder de uma fazenda coletiva, com passadono extinto Partido Comunista da URSS, é um firme aliado de Pútin e tem a apresentar uma importante campanha contra a corrupção. Em poucas semanas alcançou uma popularidade próxima à que gozam outros “sucessores potenciais”, Ivánov e Medviedev. Outros nomes que estão embaralhados nesse círculo seriam o de Serguei Nariúchin e o presidente da empresa de ferrovias da Rússia, Vladímir Iákunin. Alguns analistas russos também mencionam como possíveis candidatos, com bastante peso em algumas regiões, como Valentina Matviyenko, de São Petersburgo, Alexander Tkátchev de Krasnodar ou Alexander Khloponin de Krasnoiarsk. Finalmente, com poucas possibilidades de indicação, Alexei Kúdrin ou Dmitry Kozak, recentemente promovidos ao alto escalão governamental da Rússia.
Por enquanto, Pútin segue controlando a agenda russa, mas simplificar essa realidade a apenas isso é um erro crasso, e o que muitos analistas deveriam reconhecer é sua incapacidade analítica no momento de “entender” e, menos ainda, de prever os complexos acontecimentos que têm lugar na Rússia atual.