Antonio Capistrano: PCdoB 86 anos: Aos velhos camaradas, até sempre.

Refletindo sobre os 86 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil veio à memória, velhos e queridos camaradas que não estão mais entre nós. São operários, funcionários públicos, profissionais liberais e intelectuais que se doaram as lutas do nosso po

Pensei como prestar uma homenagem ao PCdoB nos seus 86 anos de existência, resolvi registrar alguns nomes que militaram nos seus quadros, nomes que tive o privilegio de conhecer e, com alguns manter fraternos laços de uma amizade galgada na afinidade de ideais, na visão marxista de um mundo justo e fraterno.  



 Começo pela a figura admirável de Luiz Maranhão Filho. Iniciando a militância política, eu, acompanhado do mano Franklin Capistrano, vez por outra visitei o apartamento de Luiz, na Avenida Rio Branco, onde funcionava, também, o consultório de sua esposa. Ele, apesar de pessoa importante na cidade, advogado, professor, deputado estadual, irmão do prefeito Djalma Maranhão, era uma figura atenciosa.



Homem simples, comprometido com as suas idéias, habilidoso no trato com os diversos segmentos da sociedade. Defensor da aliança entre comunistas e cristãos, trabalhou, até ser preso e assassinado em 1972, para concretizar essa união. Aqui em Natal, Luiz fez de tudo, jornalismo, magistério, teatro, política, participava dos movimentos populares, sempre atendo aos acontecimentos, era uma figura muito preparada, um intelectual, formulador de idéias, respeitado no partido e na sociedade. Quem desejar conhecer, essa personalidade da vida política potiguar, recomendo o trabalho de Maria Conceição Pinto de Góes, “A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho: cristão e comunistas na construção da utopia”, Editora Revan, 1999. É um belo livro, indispensável para quem desejar conhecer a historia e as idéias dessa figura que se transformou em um mártir das lutas do nosso povo.



  Lourival de Góes, chamado pelos amigos de Companheiro, é outro comunista, que eu não poderia deixar de registrar. Entrou no partido nos anos cinqüenta, militou em outros estados, retornando a Mossoró nos anos setenta. É a partir daí que faço amizade com ele. Góes foi um dos melhores quadros do partido que eu conheci, com um conhecimento teórico e uma visão prática de fazer inveja a muitos doutores, eu gostava de conversar com ele, era uma verdadeira aula de marxismo. Ele muito pragmático, cumpridor dos deveres partidário, uma decisão do partido era para ser cumprida. O advogado e professor David de Medeiros Leite, organizou uma coletânea com artigos de amigos de Lourival de Góes, com o titulo “Companheiro Góes, 10 anos de saudades”, é um excelente trabalho sobre essa formidável figura humana. Lourival de Góes merece todas as homenagens dos seus amigos, merece ser sempre lembrando.



 Zé de Rosa, ou Zé Moreira, personagem emblemática do movimento sindical e das lutas operarias no Rio Grande do Norte. Trabalhador da construção civil ufanava-se de ter a carteira de Nº 2 do seu sindicato, foi o segundo a filiar-se no Sindicato da Construção Civil de Mossoró. Moreira, no inicio dos anos sessenta, viajou pelo Leste Europeu, esteve em Moscou. Orgulhava-se do que viu, gostava de contar histórias dessa viagem. Lutou pelo socialismo até o fim da vida. Eu sempre conversava com ele, nos domingos à tarde ele gostava de passa na minha casa. Era um bom papo, história das lutas populares, história dos velhos militantes, história do seu querido Partido, historia de sua viagem a União Soviética. Moreira, com o golpe militar de 1964, foi preso, continuo firme com as suas idéias, nunca abandonou o partido, militou por mais de sessenta anos, morreu comunista, certo da justeza da sua luta. A professora Brasília Ferreira tem um trabalho sobre as lutas operárias na região salineira que trás um depoimento dessa grande comunista em Mossoró. Quem quiser conhecer mais sobre ele, essa é uma boa fonte.



 Chico Guilherme, homem que marcou época nas lutas dos operários das salinas na região de Mossoró, foi um dos organizadores do Sindicado do Garrancho, presidente do Sindicato dos Salineiros, liderança forte e carismática dos trabalhadores das salinas. Comunista de primeira linha. Muito procurado por estudantes e pesquisadores das lutas operárias e sociais do Brasil para prestar o seu depoimento, contar a sua história. Seu Chico é citado no livro “Memórias do Cárcere” de Graciliano Ramos, como um dos seus companheiros de prisão na Ilha Grande. A Uern concedeu-lhe o titulo de Doutor Honoris Causas, uma merecida homenagem a um velho combatente comunista que soube honrar as suas idéias até o último dia da sua longa e bela vida, exemplo de luta e amor ao próximo. O livro “Sindicato do Garrancho” de Brasília Ferreira é uma boa fonte para quem quer conhecer mais e melhor esse velho e bom camarada.



 Vivaldo Dantas, um industrial comunista. Quantas reuniões eu participei em sua residência! Inúmeras. Canário, Moreira, Góes, Pretextato, Joel Paulista, Zé Gago, João Batista Xavier, Gonzaga Chimbinho, Alberto, Hermano Paiva, Gileno Guanabara, Afrânio, Paulo Linhares e outros que a memória no momento não lembra. Vivaldo era um homem disposto, sempre pronto a servir as ordens do partido, época do centralismo democrático, ordens vindas de cima, não se discuti, cumprisse. Contam que Vivaldo instigava os seus operários a fazerem greve, quem não fizesse levava um relar do patrão. Era uma figura, com a crise do socialismo nos anos oitenta filiou-se ao PT.



 Álirio Guerra, dirigente comunista falecido prematuramente em um desastre automobilístico em plena atividade do Partido, construía o PCdoB juntamente com outro saudoso camarada morto no mesmo trágico acidente, Glênio Sá. Não tive o privilegio de conhecer-los mais de perto, conhecia ambos, mas, sem aquela amizade que pudesse estreitar as nossas afinidades ideológicas, são dois nomes que engrandecem a galeria dos comunistas potiguares e que merecem sempre serem lembrados. 



 Não podia deixar de registrar, nessa simples homenagem, a família Reginaldo, fundadores em Mossoró do PCdoB. Em especial, registrar os nomes de Raimundo, Francisca, Jonas e Lauro Reginaldo baluartes na construção do Partido Comunista, na terra do sal e do petróleo. Eles foram os fundadores do PCdoB em Mossoró, fato ocorrido no final dos anos 20, do século passado. A família Reginaldo merece um estudo completo pela participação na luta da classe trabalhadora, principalmente, na criação do PCdoB, inclusive, um dos seus membros, Lauro Reginaldo (Bangu), chegando a direção nacional do Partido.



 Outro nome que faço questão de citar é a do gráfico areia-branquense, Francisco Meneleu, responsável pela impressão, durante o levante comunista de 1935, do jornal revolucionário, “A Liberdade”. Meneleu faleceu recentemente. A última vez que estive com ele foi no lançamento do livro de outra grande figura das lutas libertárias do PCdoB, Meri Medeiros, fato ocorrido no Solar Bela Vista. Nesse evento conversei bastante com ele, figura simpática, orgulhoso da sua vida e das suas lutas. Meneleu, como o poeta Pablo Neruda, comunista como ele, podia dizer, confesso que vivi. O meu amigo e velho comunista, Rubens Coelho, no seu excelente trabalho “Precedentes e verdades históricas” – Coleção Mossoroense, 2005 – dedica a Francisco Meneleu um capitulo com o titulo “Francisco Meneleu, o tipógrafo da Revolução”. Esse trabalho de Rubens Coelho é uma excelente fonte de consulta sobre o que a história oficial não conta. Merece ser lido por todos os professores de história e pela nossa juventude. 


 
 Finalizo esse pequeno registro, citando o nome do Doutor Vulpiano Cavalcanti figura humana, extraordinária. Médico cearense, que veio morar no Rio Grande do Norte no fim da década de trinta. Primeiro, se estabeleceu entre Mossoró e Areia Branca, depois fixou residência em Natal, onde viveu até o fim da sua vida. Era dirigente estadual do Partido.  Ao lado de Luiz Maranhão participou de todas as lutas travadas sob o comando dos comunistas ou apoiada pelo partido após a segunda guerra até a sua morte. Preso diversas vezes, Dr. Vulpiano era um exemplo de dignidade, tive a honra de conhecê-lo e participar, em plena ditadura militar, de reuniões clandestinas do partido ao seu lado. Quando fui deputado estadual (91/94) apresentei dois títulos de cidadania norte-rio-grandense, todos pós-morte, um para poetisa Zila Mamede e, o outro para Doutor Vulpiano, entregues aos seus familiares em uma bela e emocionante sessão solene no Plenário da Assembléia Legislativa do nosso Estado. Vulpiano era maçom, médico-cirurgião, comunista militante. Figura lendária na sua atividade médica como também no movimento comunista do Rio Grande do Norte. Vulpiano merece uma bela e profunda biografia, estamos devendo as novas gerações essa história, ele não pode e nem deve fica no esquecimento, a sua vida serve como exemplo para a nosso juventude. O amigo Gileno Guanabara, companheiro do Partidão, me disse que estava preparando a biografia de Vulpiano. Ele merece ser lembrado, merece um boa biografia.



 Através desses velhos comunistas que sempre estarão presentes na memória das lutas populares, faço a minha homenagem a o bravo e aguerrido Partido Comunista do Brasil nesses 86 anos de sua gloriosa existência. Aos velhos camaradas, até sempre.



Professor Antonio Capistrano – ex-reitor da UERN e membro do PCdoB – RN