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Após triunfo dos maoístas, rei do Nepal nega que se exilará

O rei do Nepal, Gyanendra, negou energicamente nesta segunda-feira (21) que vá deixar seu país após a vitória dos maoístas nas eleições legislativas de 10 de abril. Um comunicado do Palácio Real rejeitou o que chamou de “informações mal intencionadas que

“Tais informações indicavam que Sua Majestade iria para a Índia”, indicou uma fonte do Palácio Real à AFP. “Não irá a lugar algum. Não deixará o país”, acrescentou a fonte. O desmentido oficial coincide com os apelos para que o monarca abdique, após ter perdido o apoio de grande parte da população e a maioria de suas prerrogativas.


 


O Partido Maoísta ocupará 40% dos assentos da Assembléia Constituinte eleita no dia 10 de abril, superando amplamente em número de representantes os outros partidos, segundo resultados oficiais parciais. Os resultados definitivos deverão ser divulgados na terça-feira.


 


O líder dos maoístas, Prachanda (cujo nome de guerra é “o irredutível”), afirmou na sexta-feira que está tentando convencer Gyanendra a aceitar “voluntariamente” a abdicação, tendo em vista a provável abolição da única monarquia hinduísta do mundo por parte da próxima Assembléia Constituinte, visando a instauração de uma República.


 


Um reinado desastroso


 


As leis da genealogia não destinavam Gyanendra a ser rei do Nepal. Mas numa noite de Junho de 2001, o seu sobrinho e príncipe herdeiro, o jovem Dipendra, num ato de loucura alimentado por um desgosto amoroso e pelo excesso de álcool, interrompeu a tiro de metralhadora um jantar familiar. Morreram o monarca, Birendra, a rainha e mais seis membros da realeza. O próprio assassino acabou por se suicidar.


 


Pouco depois, um Nepal ainda em choque entronizava o irmão do rei morto. Mas os sete anos de reinado de Gyanendra foram um fracasso total, culminando com a vitória (nas urnas) da guerrilha maoísta que agora se prepara para acabar com a monarquia, pondo fim a uma dinastia que governa este país dos Himalaias há dois séculos.


 


O desejo dos guerrilheiros maoístas, que se transformaram em partido político após uma década de luta armada, é ver o rei Gyanendra partir voluntariamente, mas já decidiram abolir a monarquia durante a reunião da Assembléia que deve elaborar a nova Constituição deste país de 28 milhões de habitantes.


 


Os resultados finais das eleições tardam a ser conhecidos. Certa é, porém, a vitória dos candidatos maoístas, membros de um movimento que gera desconfiança nas vizinhas China e Índia e que os Estados Unidos continuam a considerar como terrorista.


 


Uma Ásia predominantemente monárquica


 


A derrubada de Gyanendra trará o fim de mais uma monarquia – o primeiro caso do gênero desde 1979, quando a Revolução Islâmica no Irã pôs fim ao reino de Reza Xá Pálavi. Ficarão assim existindo apenas 43 monarquias no planeta (e mais de uma dezena têm Isabel II de Inglaterra como Chefe do Estado).


 


Calcula-se que 560 milhões de pessoas (menos de um décimo dos habitantes do planeta) vivam ainda sob esta que é a mais tradicional forma de Estado. A monarquia, no entanto, sofreu um duro golpe no final da Primeira Guerra Mundial (abolição dos impérios Austro-Húngaro, Alemão, Otomano e Russo, etc.) e depois nova arremetida no final da Segunda Grande Guerra, quando o republicanismo se impôs na Europa de Leste e também na Itália. Hoje, é na Ásia que há mais reinos.