Sem categoria

Política e eleições nos EUA: para que lado pende Hollywood?

Se há alguma dúvida sobre a influência de Hollywood nas eleições presidenciais deste ano, considere isso: após alguns minutos de discurso em Indiana na noite de terça-feira (22), o senador Barack Obama fez um importante anúncio — o cantor John Mellencamp

“Eu quero agradecer John Mellencamp e sua linda esposa, Elaine, por arrumarem tempo para estar aqui hoje, dirigindo desde Bloomington”. Mas há apenas um problema: Mellencamp também estará em um evento de Hillary Clinton em 3 de maio — desta vez, em Indianápolis.


 


Isso indica que o cantor — que apoiou ativamente a campanha do senador John Edwards antes de ele sair da corrida presidencial — está dividindo seu tempo entre Obama e Hillary. Secretamente, o cantor se decidiu sobre qual dos dois ele apoiará, segundo seu publicitário, Bob Merlis. Ele estaria apenas guardando a decisão para si. Por enquanto.


 


Para todos os efeitos, havia uma explicação pronta para ser publicada no site de Mellencamp nesta quarta-feira: “John Mellencamp apóia há muito tempo o Partido Democrata, que ele acredita melhor representar a esperança pela mudança necessária para este país. Por isso, ele empresta seu apoio para os dois candidatos, como um hoosier (natural de Indiana) e um democrata”.


 


Daily Show


 


Já o polêmico cineasta norte-americano Michael Moore, “decepcionado” com Hillary Clinton, decidiu na segunda-feira manifestar seu apoio ao seu rival democrata, Barack Obama, na corrida para as eleições presidenciais de 4 de novembro nos Estados Unidos. “Nos últimos meses, os atos e palavras de Hillary Clinton passaram de decepcionantes a repugnantes”, diz o cineasta em post de seu site, MichaelMoore.com.


 


Em uma carta endereçada aos amigos e publicada no site, Moore explicou que o debate democrata televisionado na quarta-feira (16) foi “a gota d’água que transbordou o copo”. O cineasta criticou Hillary por ter citado o nome de Louis Farrakhan, o dirigente do movimento radical muçulmano negro americano “Nation of Islam”, na polêmica sobre Jeremiah Wright, antigo pastor de Obama.


 


(Hillary) pronunciou o nome que começa por F exclusivamente para assustar os brancos”, disse Moore. “Evidentemente, Obama não tem qualquer relação com Farrakhan.”, disse o cineasta, que considerou a declaração de Hillary “sórdida”.


 


Enquanto isso, os programas de comédia continuam pondo questões de entretenimento para os candidatos. Jon Stewart levou seu prêmio nesta semana quando Obama apareceu no Daily Show.


 


“A controvérsia do reverendo Wright, do broche de bandeira…”, começou Stewart. “Você usará artifícios legais, sir, e escravizará a corrida branca? É esse seu plano?” Obama, agora bem escolado nas técnicas dos comediantes, riu. “Não é nosso plano, Jon, mas eu acho que sua paranóia poderia lhe tornar apto para moderar um debate”, brincou.


 


11 de Setembro


 


Hollywood, a bem da verdade, sempre tem claro uma espécie de ponto de partida político. Tanto que, mais de seis anos após os atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos, a indústria cinematográfica americana conseguiu romper os tabus sobre o tema e prepara a estréia de cinco filmes, que abordam, em tom de comédia e de forma mais ou menos direta, a tragédia vivenciada pelo país.


 


Nos últimos seis meses, os espectadores viram serem lançadas produções sérias sobre o assunto, como Leões e Cordeiros, de Robert Redford, O Preço da Coragem, de Michael Winterbottom e Redacted, de Brian De Palma. Agora, Hollywood aposta em conferir ao tema um tom mais leve e acrescentar toques de humor ao assunto, embora o resultado sejam obras que possivelmente concorrerão aos troféus Framboesa de Ouro — uma espécie de Oscar às avessas — do próximo ano.


 


No entanto, a primeira dúvida que surge é se o público está preparado para assistir a filmes deste tipo. Por enquanto, a resposta é negativa. No último fim de semana chegou aos cinemas, de forma limitada, o documentário Where in the World is Osama bin Laden?, de Morgan Spurlock (de Super Size Me — A Dieta do Palhaço).


 


Trata-se de uma crônica que passa por Marrocos, Israel, Egito, Arábia Saudita, Afeganistão e Paquistão. Spurlock segue o rastro pelo Oriente Médio do terrorista, considerado o cérebro dos atentados do 11 de Setembro.


 


Além disso, estreou, de forma ainda mais humilde, Zombie Strippers, uma comédia trash protagonizada pela ex-estrela de filmes pornô Jenna Jameson — que teve a sorte de ser exibido nos cinemas pouco antes de sair em DVD, mas nem chegou a entrar entre as 50 produções mais vistas de sexta-feira a domingo. No longa-metragem, cientistas americanos conseguem criar um novo vírus que revive os soldados mortos no Iraque e, transformados em zumbis, eles continuam sua luta.


 


Outras duas estréias que devem chegar às telas sem grande repercussão serão War, Inc., co-escrita e protagonizada por John Cusack, e Postal, de Uwe Boll, nos cinemas a partir de 23 de maio, coincidindo com o lançamento de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal.


 


Postal começa com uma simulação do seqüestro dos aviões de 11 de setembro, na qual os terroristas comentam o paraíso que lhes aguarda quando concluírem sua missão. Depois, um comandante enfrentará Bin Laden em “uma épica batalha que determinará o destino do mundo”, afirma o diretor do filme.


 


Guantánamo


 


O tom surrealista da proposta de Boll encontra sua explicação em que, pelo menos, provém de um financiamento independente. Mas outros filmes, como a estréia da próxima semana nos Estados Unidos Harold & Kumar: Escape from Guantanamo Bay, são produzidos pelos grandes estúdios — neste caso New Line e Warner Bros.


 


A história relata a viagem de dois amigos a Amsterdã antes de sofrer um problema com a segurança do aeroporto, que acaba com eles sendo presos. Apesar disso, conseguem escapar e, como fugitivos do Departamento de Segurança Nacional, chegam ao Estado americano do Texas e se encontram com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.


 


“Não acreditamos que a prisão de Guantánamo seja uma piada”, disse Njambi Good, da Anistia Internacional nos Estados Unidos, em entrevista à edição digital do jornal Politico. O grupo de direitos humanos pretende distribuir panfletos nas portas das salas sobre a tortura em casos reais.


 


Hollywood já comprovou que filmes que tratam do conflito com seriedade — como As Torres Gêmeas (Oliver Stone, 2006) ou Vôo United 93 (Paul Greengrass, 2006) — tiveram uma morna acolhida na bilheteria. Tenta agora, portanto, abordar o assunto com uma ótica mais absurda e delirante.


 


“Não acho que tenha sido feita uma sátira ou um filme tão estranho e febril como esse”, disse Cusack em alusão a War, Inc.. “Não é deprimente, mas é provocativo. E sua idiotice faz com que seja mais fácil de ser digerido”, agregou o ator-diretor. Em época de eleição, é ataque puro na administração do republicano George W. Bush — e um apoio indireto aos democratas.