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Eduardo Campos: os planos do PSB para 2008 e 2010

Além de administrar Pernambuco, o governador Eduardo Campos comanda a direção nacional do PSB em meio a um processo eleitoral do qual a legenda quer participar com 1.300 candidatos a prefeito. O PSB aposta que, ao final desta disputa municipal estará estr

Essa ambição política é parte de um projeto de consolidação como legenda de porte médio, o que implica crescer, não rejeitar alianças e administrar conflitos diretos com partidos da base aliada do governo Lula. Foi por isso que Eduardo Campos deu, na semana passada, um recado claro ao PT: não abre mão de alianças com o PSDB para garantir a reeleição dos prefeitos de capitais, como Serafim Corrêa, de Manaus, e a eleição de socialistas em grandes centros urbanos, como Belo Horizonte.


 


O governador não vincula a disputa de 2008 às eleições de 2010, mas tampouco acredita em candidatura única da base na corrida presidencial. “Podemos estar juntos no segundo turno. A base terá duas ou três candidaturas”, avalia.


 


Aposta, ainda, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o maior eleitor não só em 2008, mas também em 2010, e mais: “Com ou sem faixa presidencial, ele será um ator importante no processo e o pós-Lula não será sem Lula”, afirma Campos, em entrevista à jornalista Christiane Samarco, publicada neste sábado (3), pelo jornal O Estado de S. Paulo.


 


Dirigentes do PSB dizem que, se o PT quiser apoio para eleger a ministra Marta Suplicy em São Paulo, terá que facilitar a disputa em Belo Horizonte, onde a cúpula petista vetou o apoio do PSDB a Márcio Lacerda (PSB).
Essa questão tem que ser compreendida dentro do espaço de Minas. Lá, PSB e PT já estiveram juntos ao longo de três gestões de grande importância para a capital e, agora, o que há de novo é o desejo do governador Aécio Neves (PSDB) de apoiar esta aliança. O PSB participa do governo de Minas e precisa do apoio de Aécio. Temos uma extraordinária relação com ele, mas deixamos claro que isto não tem nada a ver com 2010. Isto é 2008.


 


Mas foi pensando nas eleições de 2010 que a direção nacional do PT vetou a parceria oficial com o governador Aécio Neves.
Não vou comentar a nota do PT. Antecipar 2010 só serve a quem quer atrapalhar o presidente Lula no cumprimento de seu segundo mandato. Faz um ano e pouco que houve uma eleição e este segundo mandato tem sido de mais êxitos, por todas as dificuldades políticas e econômicas que tivemos de enfrentar no primeiro. A gente ficar com esse eleitoralismo neste momento não ajuda o Brasil real. Pode ajudar os políticos, os partidos, seus dirigentes, mas não ajuda em nada as pessoas que estão lutando pela vida e pelo equilíbrio das contas de suas empresas.


 


Na reunião da Executiva Nacional do partido muitos reclamaram que o PT mirou em Aécio Neves e, por tabela, enfraqueceu o ex-ministro e deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que também se empenhou pela aliança.
Respeito meus companheiros, mas não vou ficar comentando o PT. O que me cabe é tomar decisão, e tomamos. Agradecemos penhoradamente o apoio do PT, mas dissemos na nossa nota que a aliança precisa ser ampliada com o apoio do PSDB mineiro. É melhor do que ficar reclamando.


 


A relação política e eleitoral com o PT é difícil?
Nossa relação com o PT tem altos e baixos desde os tempos da Frente Brasil Popular, e o presidente Lula sabe disso. Mas com todas as idas e vindas sempre tivemos uma relação de muito respeito e nosso desejo é mantê-la neste mesmo padrão. Nunca nos colocamos como inimigos do PT nem como subordinados, mas sempre de igual para igual.


 


A direção do PSB orientou as lideranças municipais a fazerem alianças para a eleição no campo da base do governo Lula?
Temos uma indicação de ter candidatura tanto quanto for possível e, caso contrário, de fazer alianças dentro do bloco (com o PCdoB e o PDT) e com os partidos da base. Mas não excluímos outras alianças. Em Curitiba, por exemplo, estamos na chapa do prefeito Beto Richa (PSDB), com o vice Luciano Ducci, do PSB, e vamos repeti-la. A Executiva Nacional autorizará no tempo certo. Mas os parceiros naturais são os do bloco e na maioria dos casos, como já ocorre em Fortaleza e no Recife, o PT.


 


O PMDB se queixa muito de que o PT só gosta de fazer aliança quando é para garantir apoio a um candidato petista. Também é assim com o PSB?
Em se tratando do PT, sempre tem esse problema. Mas ele já foi até maior. Como o PSB cresceu, também tem a queixa do PT contra o PSB. Mas eu prefiro não ficar na queixa e entender que a política tem que ser feita acima do processo eleitoral. Em Pernambuco temos uma relação muito madura. Foram corretos comigo. Acho natural que haja dificuldades, mas no Brasil ninguém pode vencer e governar uma cidade, um estado importante e o país sozinho. Houve um processo de aproximação do presidente Lula com o PMDB no primeiro governo e, mais fortemente, no segundo. Mas onde esse processo não for acompanhado por um movimento semelhante na base, dificilmente se vai conseguir superar dificuldades. O entrosamento tem que ser construído a partir da base.


 


O PT está tomando algumas decisões mirando as eleições gerais de 2010. O senhor avalia que a disputa municipal deste ano já está nacionalizada?
Acho um equívoco tentar montar 2008 achando que esta eleição tem uma relação direta e automática com 2010. A série histórica das últimas eleições não nos indica isto. Nesta eleição, por sua natureza e pela estrutura partidária que temos numa democracia ainda muito jovem, o quadro municipal ainda leva a uma dispersão das forças políticas.


 


O presidente Lula sugeriu ao PMDB formar um conselho para organizar 2010, reunindo os aliados em torno de um projeto comum. O PSB deve fazer o mesmo?
Temos que esperar assentar a poeira das eleições municipais para ver quem não está na estrutura partidária. Muita coisa que dá para organizar, para não resolver os problemas na urgência. Tem um conjunto de governadores que podem ir para a reeleição e, como serão duas vagas para o Senado, isto facilita a composição das chapas. Se os partidos não deixarem as coisas para a última hora, é possível ter mais êxito do que estamos tendo agora.


 


Sem a perspectiva de um terceiro mandato Lula terá força para arbitrar os conflitos entre os aliados e para comandar a sucessão de 2010 e o pós-Lula?
Lula será o maior eleitor não só em 2008, mas também em 2010. Com ou sem a faixa presidencial Lula com certeza será um ator importante no processo. Ele tem força popular e, hoje, é maior do que o PT e até maior do que a base. Ele tem uma relação muito expressiva com a população. Qual o desafio do pós-Lula, em política econômica e política social, nós só saberemos depois que terminar o segundo governo. Mas é certo que o pós-Lula não será sem o Lula.


 


O senhor acha possível ter uma candidatura única da base à Presidência da República?
Nós, da base, podemos ter duas ou três candidaturas, mas compreendendo que podemos estar juntos no segundo turno e sobretudo no “terceiro”, que é governar o país e avançar ainda mais (em relação ao dois mandatos do presidente Lula).


 


Não há, portanto, nenhum compromisso com uma eventual candidatura do PT ao Planalto, ainda que ela seja abraçada pelo presidente Lula?
O PSB também tem, em seus quadros, pessoas com condições de representar bem o conjunto da base. Hoje, Ciro Gomes tem 20% nas pesquisas, já foi candidato e é uma pessoa de reconhecido talento e preparo. É natural que o PT tenha candidato, assim como também o PMDB. O que não é natural é que a gente comece a discutir 2010 antes de 2008.