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Néstor Kohan: Os dilemas da Bolívia de Evo

A direita só respeita a legalidade qando isso a favorece. A história de nossa América provou-o mil vezes. A queda de braço que hoje sacode a Bolívia não é uma exceção. O referendo autonômico de Santa Cruz é só a ponta do iceberg. É um segredo de polich

A CIA aplica na Bolívia um plano previsível. Combina o separatismo de Kossovo, a guerra psicológica e o estímulo à contra-revolução interna, como fez ontem no Chile de Salvador Allende e faz hoje na Venezuela de Chávez.



Goldberd implementa um esquema de manual. Utiliza fundações como a National Endowment for Democracy (NED),  a Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento) e outros organismos para transferir dinheiro a ONGs “independentes” e grupos de direita, exatamente como na Venezuela. Desde 2005, a Usaid deu US$ 120 milhões por ano à oposição supostamente “democrática”.



A praça dentral de Santa Cruz está cheia de jovens mórmons – de camisa branca, cabelos louros, olhos celestes – que mal falam espanhol e alertam contra “o demônio”… Sugerir a Evo Morales, neste contexto, que ele se ponha a dialogar mansamente com essa burguesia belicosa, financiada pelos EUAnão é apenas pouco realista e escassamente pagmático. É, simplesmente, suicida.



Como o próprio Morales reconheceu, numa entrevista que fizemos com ele em La Paz, em março de 2008 (clique aqui para ver: http//:amauta.lahaine.org), o MAS [Movimento Ao Socialismo, o partido de Evo] chegou ao governo, mas não tem o poder. Trata-se precisamente disto. Caso se queira transformar a fundo a sociedade boliviana, não se pode eludir o problema do poder, sob pena de perder tudo.



O dilema atual de Evo e do MAS consiste em saber se é possível frear a direita fazendo-lhe concessões ou é preferível confrontá-la e avançar no processo. A resposta é complexa, pois o governo boliviano não é homogêneo. Está tensionado entre dois pólos: a opção dos conselheiros moderados (onde se inscrevem alguns funcionários da velha classe política, hoje tornados progressistas, e alguns acadêmicos que acompanharam o processo) e a opção de seus militantes e bases sociais mais radicais. Estes últimos propõem que se avance de modo radical no processo de reformas, até quebrar o pacto implícito que manieta o governo e o debilita lentamente.


 
Se essa opção terminasse predominando, Evo teria não só que aprofundar o enfrentamento com a “Meia Lua”. Também deveria impor o controle dos preços para conter a inflação (consigna que, como constatamos de maneira direta, suas bases apropuseram alto e bom som em algumas manifestações) e acelerar o controle total e não apenas parcial dos recursos naturais.



Sobra pouco tempo para decidir entre ambas as alternativas. A história é cruel e não perdoa indecisões. Os povos postergados, humilhados, explorados, estão na expectativa. A bolívia vive horas decisivas. O desenlace repercutirá em toda a região, da Venezuela à Argentina.



* Professor da Universidade de Buenos Aires, coordenador do Coletivo Amauta-Cátedra Che Guevara (marxista, guevarista e mariateguiano); texto tomado de http://www.bolpress.com