Sem categoria

Pacto governo-Hezbolá abre “nova página” no Líbano

O governo pró-EUA e a oposição patriótica (Hezbolá e outros) anunciaram nesta quarta-feira (21) um acordo que abre “uma nova página na história do Líbano, segundo o cacique governista Saad Hariri. Pelo acordo, o país voltará a ter um presidente – cargo va

O acordo, caso se efetive, além de encerrar 18 meses de crise política e choques armados começará a mexer no estranho sistema eleitoral libanês, que divide o país em circunscrições étnico-religiosas (muçulmanos xiitas e sunitas, cristãos maronitas, ortodoxos e católicos, armênios, druzos). O general Michel Suleiman será o novo presidente e haverá um novo governo de unidade nacional, partilhado entre os situacionistas e oposicionistas atuais.



Vitória e concessões do Hezbolá



O novo Conselho de Ministros terá 30 membros: 16 da atual maioria parlamentar, 11 da oposição e três da cota do presidente. O cargo de primeiro ministro deve permanecer com seu atual ocupante, Fouad Siniora, ou com sua eminência parda, Hariri. A  agência estatal de notícias do Líbano informou que o Parlamento se reunirá no domingo para eleger Suleiman, que deve chegar à presidência com os votos das duas alas.



Aa agências de notícias comentaram o acordo como uma vitória do Hezbolá (Partido de Deus, xiita) e seus aliados do Amal e do Partido Comunista do Líbano. Estas forças terão poder de veto sobre todas as decisões do futuro governo, enquanto no atual se encontram excluídas. Foram abandonadas as tentativas de suprimir a rede de comunicações do Hezbolá e demitir o responsável pela segurança do Aeroporto de Beirute – que deflagraram a última fase da crise. As mudanças no sistema eleitoral, criando novos distritos em Beirute, também favorece a atual oposição.



Em contrapartida, o Hezbolá assumiu o compromisso de não usar sua milícia armada em questões internas. Quanto às bandeiras levantadas durante a greve geral – contra a carestia de vida e o desemprego –, não entraram nos pontos do acordo.



Hariri se diz “ferido”, porém concorda



Saad Hariri, bilionário e filho de um ex-primeiro ministro assassinado, que não compõe o governo atual mas permanece como homem forte da direita no poder, avalizou o entendimento. Disse que ele abre “uma nova página na história do Líbano”, embora agregando que “nós (situacionistas) estamos profundamente feridos”. “Sei que as feridas são aprofundas, e a minha ferida é profunda, mas só podemos construir o Líbano uns junto com os outros”, avaliou.



Mohammed Raad, que chefiou a delegação do Hezbolá nas negociações, avaliou o resultado como “um triunfo modesto”. Para ele, “nenhuma das partes obteve tudo que reivindicava, mas [o acordo] é um bom equilíbrio entre as demandas de todos”.



Reações internacionais



Walid al-Moallem, ministro das Relações Exteriores da Síria – país vizinho que até o ano passado mantinha tropas em território libanês –, exprimiu sua satisfação pelo acordo. Para ele, “a segurança e estabilidade do Líbano são importantes e vitais para a segurança e estabilidade da Síria”.



O Irã e a França também expressaram satisfação. Já David Welch, secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos, comentou que se trata de uma”uma etapa necessária e positiva”, aparentemente acatando as concessões feitas ao Hezbolá, que figura na lista das “organizações terroristas” conforme o julgamento de Washington.



As negociações levaram seis dias e estiveram à beira do colapso, pois nenhum dos lados mostrava sinais de que ia recuar em suas demandas. Os pontos mais sensíveis eram as novas leis eleitorais e as armas do grupo Hezbolá. Na segunda-feira, membros das duas facções políticas estiveram a ponto de deixar as reuniões, que tiveram como mediadora uma delegação da Liga Árabe, chefiada pelo primeiro-ministro e ministro de Relações Exteriores do Catar, Hamad bin Jassim bin Jabr Al-Thani, e o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa.



O Líbano está sem presidente desde novembro de 2007, quando Emile Lahoud, pró-Síria, deixou o cargo ao fim de seu mandato. Desde então, as duas facções políticas não conseguiam eleger seu sucessor. No mês passado, seis dias de combates, na capital e também em Trípoli, no norte, em outras cidades e nas montanhas deixaram pelo menos 65 mortos e 200 feridos. Foram os piores combates desde a guerra civil de 1975-1990.



Da redação, com agências