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RS: gravações atingem centro do governo Yeda Crusius

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), e o secretário-geral do governo estadual, Delson Martini, ficaram em uma situação extremamente delicada nesta quarta-feira. Interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal, durante a O

O mesmo ocorreu com o deputado federal José Otávio Germano (PP), ex-secretário de Segurança Pública do governo Germano Rigotto (PMDB). A CPI do Detran divulgou, nesta quarta, o áudio de um conjunto de conversas telefônicas gravadas pela PF. O conteúdo das mesmas provocou um novo terremoto político no Estado. Elas expuseram as mentiras de vários acusados de integrar a quadrilha, em seus depoimentos na CPI.



Em uma das conversas, o ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto (PP), conversa com o ex-diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Antônio Dorneu Maciel (PP) (ambos acusados de integrar a quadrilha) sobre um problema a resolver nos contratos da autarquia com fundações universitárias ligadas à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O problema em questão era o descontentamento do empresário e lobista tucano Lair Ferst, cujas empresas tinham sido excluídas do esquema.



Dorneu Maciel orienta Vaz Netto a conversar com a governadora e com Delson Martini para saber o que devia ser feito. O ex-diretor da CEEE revela que Lair estava muito descontente e criticava a governadora por seu hábito de “jogar uns contra os outros”. “Pelo jeito agora é guerra”, comenta Vaz Netto. A guerra em questão era a disputa entre grupos dentro do esquema.



“Já botei uma minhoca no Delson”



A base governista vinha tentando evitar, de todas as maneiras, a convocação do secretário Delson Martini para depor na CPI. Depois da revelação das gravações, essa tornou-se uma tarefa impossível. O argumento usado pelos governistas até então era que o nome de Delson não aparecia claramente na transcrição das conversas telefônicas interceptadas. Hoje esse argumento caiu por terra. O nome do secretário é citado várias vezes.



Em uma delas, Antônio Dorneu Maciel diz a Vaz Netto que “já botou uma minhoca no Delson”, referindo-se ao que devia ser feito para resolver um problema “de distribuição” no esquema (clique AQUI para ouvir). Em seu depoimento na CPI, Dorneu Maciel negou que tais conversas tivessem ocorrido. O mesmo ocorreu em relação aos depoimentos de Flávio Vaz Netto e Lair Ferst. As conversas telefônicas mostram que todos eles mentiram na CPI. E também complicaram a vida do deputado federal José Otávio Germano.



As explicações de José Otávio Germano



O ex-secretário de Segurança Pública do RS não foi denunciado pelo Ministério Público Federal. Em uma das gravações, José Otávio Germano conversa com Flávio Vaz Netto sobre as investigações que o Ministério Público começava a realizar sobre os contratos do Detran. Quando depôs na CPI, o deputado negou, por diversas vezes, ter qualquer conhecimento sobre os assuntos do Detran. Não é o que a conversa telefônica revela.



Em entrevista à rádio Gaúcha, Germano confirmou que a voz é dele mesmo, mas voltou a negar envolvimento na fraude. “Esta não é nenhuma novidade. Em depoimento à Polícia Federal, Vaz Netto disse que tinha conversado comigo. Da minha parte, a conversa tinha a ver com a preocupação sobre a inspeção no Detran que estava sendo realizada pelo Ministério Público”.



Indagado sobre um trecho da conversa em que Vaz Netto lhe pede ajuda “junto ao amigo de São Chico” (Antônio Dorneu Maciel, natural do município de São Francisco de Paula) para retirá-lo de um determinado processo, Germano disse que não sabe do que se trata. Também negou conhecer os problemas que o então presidente do Detran enfrentava com o lobista tucano Lair Ferst.



No entanto, em outra conversa, Vaz Netto diz ao irmão de Germano, Luiz Paulo Germano (também denunciado pelo MP federal), que “CR e ZO” (o advogado Carlos Rosa, também denunciado, e Zé Otávio) estariam “dentro da conta do cara da miss”. O “cara da miss” é Lair Ferst, casado com a ex-miss Brasil, Deise Nunes. Apesar dessas evidências, o deputado jurou inocência e ameaçou processar quem disser o contrário.



Martini: “não há fato novo”



As alegações de inocência, porém, estão ficando cada vez mais desacreditadas, inclusive entre deputados da base do governo. O deputado Alexandre Postal (PMDB) decidiu apoiar a convocação do secretário Delson Martini para depor na CPI e desabafou: “É um dia lamentável para a política gaúcha. Quanta mentira já foi contada para nós aqui na CPI”. Outros deputados da base governista, após ouvirem as gravações, também mudaram de posição e decidiram apoiar a convocação de Martini.


 


Já o secretário-geral, que também responde pela comunicação do governo Yeda, rompeu um silêncio que já durava semanas e concedeu uma entrevista coletiva à imprensa. Negou qualquer envolvimento com a quadrilha e afirmou: “não há fato novo, só o áudio do que aparecia nas transcrições das gravações”. A explicação não convenceu nem os deputados aliados de Yeda na Assembléia.



Visivelmente nervoso com o pequeno exército de jornalistas que o cercava, o secretário negou a veracidade do que todos tinham escutado momentos antes. O nome de Delson Martini é citado várias vezes nas conversas entre Dorneu Maciel e Vaz Netto como alguém encarregado de tomar decisões e definir orientações relativas a questões do Detran. Na época em que as gravações foram feitas (2007), Martini era presidente da CEEE. Ele tentou usar isso como álibi. “Jamais o presidente de um órgão iria interferir em negócios de outro órgão”, assegurou.



Não é o que indicam as gravações. Em uma delas, Dorneu Maciel diz a Vaz Netto: “Se eu não matar esse assunto, o Delson mata”, referindo-se a um problema do Detran. Pressionado pelos jornalistas, Martini passou a falar das “realizações” do governo Yeda e a “retomada da confiança nacional e internacional” do Rio Grande do Sul.



Sem palavras



“Confiança” não é exatamente a palavra mais apropriada para descrever o sentimento dominante na Assembléia Legislativa em relação ao governo Yeda Crusius. “A casa caiu” foi uma expressão corrente, mesmo entre deputados aliados do governo. Para o deputado Elvino Bohn Gass (PT), o conteúdo das gravações comprometem diretamente o núcleo do governo com o esquema de fraude no Detran. “O governo Yeda está politicamente acabado”, resumiu. O presidente da CPI, deputado Fabiano Pereira (PT), manifestou-se no mesmo sentido.



“As gravações dizem tudo”, disse o deputado Gilmar Sossella (PDT). Outro deputado do PDT, Paulo Azeredo, pediu o afastamento imediato de Martini do governo. Em posição delicada ficou o relator da CPI, deputado Adilson Troca (PSDB), visivelmente constrangido durante a exibição das gravações. Não tinha muito o que dizer.



Fonte: http://www.cartamaior.com.br