Caminhoneiros definem na semana que vem greve nacional
Entidades nacionais e estaduais representantes dos caminhoneiros vão definir na próxima quarta-feira (18) como será deflagrada a greve nacional da categoria marcada para o dia 25 de junho em protesto aos baixos preços dos fretes no país.
Publicado 14/06/2008 13:26
Segundo José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), a paralisação está sendo planejada para evitar o bloqueio de estradas e incidentes graves como os que aconteceram no último movimento da categoria, em 1999, quando pessoas doentes e passageiros de ônibus ficaram presos nas rodovias.
De acordo com ele, o aumento de 15% no preço do óleo diesel, autorizado no dia 27 de maio, foi a “gota d'água” na situação precária dos transportadores autônomos de cargas, pois o reajuste, em vez de ser incorporado ao preço do frete, causou o seu rebaixamento.
Lopes explicou que as indústrias e o comércio (embarcadores) escoam suas cargas por meio das empresas transportadoras fixando com elas contratos a preços definidos, normalmente por um ano. Essas empresas repassam parte das cargas para os caminhoneiros autônomos.
“Os embarcadores de cargas (comércio, indústria) não quiseram repassar o aumento e exigiram o cumprimento do contrato. Para cumprirem os contratos, as transportadoras paralisaram uma parte da sua frota e ficaram transportando só as melhores cargas. Elas jogaram o resto para os caminhoneiros a preços mais baixos do que antes para manter o equilíbrio das suas empresas, já que o caminhoneiro pega tudo o que aparece, mas agora não dá mais”, argumentou.
O representante aponta que um frete de São Paulo a Salvador era contratado antes do aumento do óleo diesel por cerca de R$ 3,3 mil e hoje é oferecido pelas transportadoras por R$ 2,4 mil. Segundo ele, o total não cobre nem o valor do combustível gasto para fazer a viagem de 2 mil quilômetros, estimado em cerca de 1,5 mil litros, a um custo de aproximadamente R$ 2, o litro.
Lopes contou que hoje (13) pelos menos 300 caminhões permaneciam parados no terminal de cargas da Rodovia Fernão Dias, em São Paulo, apesar do grande número de fretes disponíveis. A previsão é que passem o fim de semana no local, aguardando por ofertas melhores de carga e arcando com gastos de alimentação e permanência para tentar conseguir um trabalho melhor. “Com o preço do frete e o aumento do óleo diesel não dá para trabalhar. Mesmo que a pessoa queira carregar, não pode, é melhor ficar parado.”
A pauta de reivindicação dos caminhoneiros inclui, além do repasse imediato do último aumento do combustível, a criação pelo Ministério da Fazenda de uma planilha referencial do valor de frete a ser pago pelo quilômetro rodado que possa ser utilizada como base nas negociações com as empresas transporte de cargas.
Na avaliação de Lopes, o quilômetro rodado deveria ser fixado em menos R$ 2,50, para dar condições de trabalho aos caminhoneiros. Com o valor, um frete para uma distância de 2 mil quilômetros, distância que leva cerca de quatro dias a ser percorrida, custaria cerca de R$ 5 mil e não os R$ 2,4 mil que vem sendo oferecidos pelas transportadoras.
Para ele, a planilha iria facilitar as negociações tanto entre empresas e embarcadores, como entre elas e os caminhoneiros. “Nós precisamos desse referencial, o país está crescendo, a demanda de transporte é grande, então precisamos ter essa definição. Queremos ter um patamar, uma referência para o setor trabalhar com tranqüilidade”, afirmou o representante dos caminhoneiros.
Ele destacou que a remuneração abaixo de patamares mínimos está causando o envelhecimento da frota brasileira de caminhões que hoje tem em média mais de 18 anos de uso, inviabilizando a manutenção e gerando grande número de acidentes nas estradas.
De acordo com Lopes, uma carreta completa com capacidade de transporte de até 27 toneladas custa em média R$ 300 mil e um caminhão Truck que carrega 14 toneladas, R$ 180 mil. Para rodar, uma carreta usa 18 pneus, cada um deles custa em torno de R$ 700.
O Brasil tem hoje 995 mil caminhoneiros autônomos que compõem uma frota de 1,55 milhão de veículos.
Segundo a Abcam, a paralisação prevista para começar no dia 25 será por tempo indeterminado. A entidade defende que caminhoneiros fiquem parados nas próprias casas, sem bloqueios de estradas e sem prejuízos para os usuários de rodovias.