Capistrano: As festas juninas e o erário municipal

Os futuros dirigentes da municipalidade mossoroense terão que repensar o Mossoró cidade junina. O papel desempenhado pelo município na consolidação deste mega-evento, já foi concluído. O projeto consolidou-se, hoje ele já entrou na mídia nacional, é um gr

Os grandes eventos culturais só se justificam como um incentivo ao fluxo turístico rentável e sustentável e tem que ser muito bem planejado para que ele se consolide e traga realmente uma movimentação que justifique os investimentos feitos, geralmente de alto custo. Após a sua consolidação ele tem que ser mantido pela iniciativa privada.



Os recursos públicos não podem e nem devem ser aplicados em festejos culturais sem retorno para o bem-estar da coletividade, sem que deixe, pelo menos, alguma coisa positiva no resgate e na preservação histórico/cultural da comunidade. O nosso estado tem se caracterizado, sobretudo os municípios produtores de petróleo, que recebem royalties, em fazer farras com o dinheiro público na contratação de bandas de forró de duvidosa qualidade, sem nenhuma preocupação com o resultado final, é pão e circo, e pronto.



Os grandes eventos culturais geralmente têm a força dos ventos, que vai e vem e não fincam raízes, são meros movimentos mercantilistas, contextualizados em determinado período do ano, após sua realização fica o vazio, podemos denominá-los de eventos turísticos temporários, que tem sua razão de ser se forem realizados pela iniciativa privada. Estes eventos têm que na sua consolidação proporcionar a geração de renda maior do que os recursos aplicados no evento e geralmente não tem nenhuma preocupação com o que fica em termos de contribuição cultural. Muitas vezes é palco de confronto de gangues, com muita violência, assassinatos, roubos e sem nenhuma política de inclusão cultural.



Outro dado que acho de grande significado é a questão da preservação das tradições culturais, um evento que quer caracterizar-se como um grande momento da nossa cultura, mexendo com um dos aspectos importantes das nossas raízes, os festejos juninos, não pode globaliza-se com atrações que descaracterize as festas juninas. As fogueiras, as quadrilhas, as comidas típicas, as sanfonas com os zabumbas e os triângulos, formando os trios nordestinos da vida e da alegria do nosso povo, enfim os folguedos tão presentes nas festas populares do nordeste brasileiro têm que ser a tônica do evento.



As festas juninas devem ter como ponto central o resgate e a preservação da nossa cultura, sendo incentivo às novas gerações a continuarem mantendo as manifestações culturais como forma de preservar a nossa identidade como nação.



Um povo se caracteriza como uma nação pela sua identidade cultural, sem a qual desaparecerá. A morte de uma civilização ocorre quando essa civilização foi aculturada, perdendo com isso a sua identidade. Podemos exemplificar com o caso das nações indígenas nas Américas que foram desaparecendo em um processo violento de dominação cultural, já os judeus continuaram vivos através da preservação da sua cultura.


 


Por isso os novos administradores da cidade terão a incumbência de repensa o mega evento que é “Mossoró cidade junina”. A tarefa será preparar um projeto cultural para o nosso município que tenha como objetivo principal o resgate e a preservação das manifestações culturais do nosso povo. Um bom exemplo é o pólo multicultural, hoje muito incentivado pelo ministério da cultura, descentralizando a festa junina, montando em cada bairro um arraial, resgatando as diversas manifestações artísticas e culturais do povo, expressões essas tão presentes na história de cada comunidade.



O Grupo Pessoal do Tarará tem mostrado o caminho da utilização de uma das manifestações artísticas, no caso o teatro, como meio eficaz de se chegar ao povo.



Hoje é lastimável a forma de se fazer cultura aqui em Mossoró, com os recursos públicos gastos em um grande evento, como Mossoró cidade junina, dava para se executar um grandioso projeto de inclusão cultural com efeito positivo em todo o município. Vamos repensar os gastos com os mega-eventos e fazer um verdadeiro projeto cultural para a nossa cidade, à hora de se discutir e elaborar é essa.



Antonio Capistrano é filiado ao PCdoB.