Cruvinel rebate Senna: modelo privado não serve à TV Brasil
A TV Brasil não vive uma crise após a saída do diretor de Relacionamento e Rede, Mário Borgneth, e do diretor-geral, Orlando Senna. As reclamações sobre a falta de mais autonomia operacional não levam em conta que a emissora é pública — o que invi
Publicado 19/06/2008 17:05
O comentário de Cruvinel é uma resposta à carta pública que Senna divulgou nesta semana, na qual o diretor demissionário tece uma série de críticas à “forma de gestão adotada pela empresa”. Entre os “equívocos”, Senna diz que a EBC “concentra poderes excessivos na Presidência, engessando as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva para produzir em série, como em qualquer TV”.
Cruvinel discorda. “Não há engessamento nenhum. Nós todos sabemos que a TV Brasil é uma TV pública e está sujeita a uma série de regulamentos jurídicos, a restrições legais”, aponta a diretora-presidente. Segundo ela, “qualquer empreendimento público, com verbas públicas, sofre rigoroso controle, seja nas áreas de saúde, educação, energia, seja na comunicação”.
Sobre a demissão de dois dos melhores quadros da emissora, Cruvinel admite que houve divergências, mas faz ponderações. Ela nega a tese de Orlando Senna segundo a qual a “forma de gestão” da EBC “induziu a exoneração de Mário Borgneth”. “Realmente eu tive problemas com ele (Borgneth)”, diz a presidente da EBC. “Foram problemas internos, de produção, de programas de fomento, assuntos que não vêm ao caso. São problemas do cotidiano de uma empresa, que são mais complexos de explicar.”
Ao falar sobre a saída de Senna, Cruvinel lembra que “ele participou da concepção da TV Brasil e sabe que (o projeto da emissora) é diferente do setor privado”. O desafio da EBC, de acordo com sua diretora-presidente, “é construir a TV pública, da melhor forma possível e com toda a pluralidade — mas dentro da legalidade, sabendo de seu universo de operação mais restritivo”.
“Reducionismo simplista e estúpido”
Tanto Borgneth quanto Senna foram diretores egressos do Ministério da Cultura (MinC). A exoneração deles aumentou a suspeita de que, em meio à construção da TV Brasil, existe uma crise interministerial. Em texto publicado no site da revista Fórum, Anselmo Massad sustentou que a saída dos diretores “evidencia tensão entre MinC e Franklin Martins”, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Segundo Massad, essa “tensão entre os membros advindos da Cultura e os demais se arrastava desde o início do ano, tendo Delcimar (Pires, diretor administrativo-financeiro da EBC) como pivô. A queixa era de que ele priorizava, na destinação das verbas, o jornalismo em detrimento de outras diretorias”.
Cruvinel refuta, enfaticamente, essa versão. “É um reducionismo simplista e estúpido achar que jornalistas e cineastas estão em confronto dentro da EBC”, afirma. “Não é por ser jornalista que vou priorizar o jornalismo e deixar à míngua a programação cultural, educativa, de cidadania. A TV pública tem uma dimensão pluralista, não é um canal de notícias.”
A diretora-presidente da EBC cita dois exemplos de prestígio da Cultura na TV Brasil: 1) o fato de o diretor de Programação e Conteúdo da emissora ser o cineasta Leopoldo Nunes, ex-integrante da Secretaria do Audiovisual e ex-diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema); e 2) a programação do canal tem mais produção audiovisual independente do que a lei exige.
Para Cruvinel, a TV Brasil está apenas “nascendo, se estruturando, construindo, começando a dispor de condição operacional muito melhor”. Prova disso, na opinião dela, é que só agora a jovem emissora pública pode contar a estrutura da Radiobrás — cujo processo de incorporação pela EBC foi finalizado no dia 12 deste mês. “Vamos continuar a TV pública em condições muito melhores, com a transferência de funcionários, orçamento e patrimônio da Radiobrás”, comemora.
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