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Peru já se mobiliza contra Garcia, diz dirigente do Pátria Roja

O presidente do Peru, Alan García, é autor da mais recente fraude eleitoral do continente americano. Eleito para seu segundo mandato em 2006 para pôr em prática uma “mudança responsável” nos rumos neoliberais impostos ao país, após dois anos ele se mos

 


Rojas esteve em São Paulo na semana passada, acompanhado pelo secretário de Relações Internacionais de seu partido, Jorge Jaime Cárdenas. Ambos foram recebidos por alguns dirigentes do PCdoB, em ocasião na qual foram reforçados os laços entre os comunistas das duas nações.


 


O secretário-geral do Pátria Roja lembra que Garcia, atualmente, chega a ser considerado no Peru como um político ainda mais à direita do que os velhos representantes do conservadorismo no país. Seu alinhamento com os Estados Unidos, o respaldo que vem sendo dado por seu governo às políticas neoliberais e a repressão aos movimentos sociais e progressistas são apenas alguns dos elementos que contribuem para essa imagem.


 


A primeira grande resposta que será dada pela população peruana está marcada para o dia 9 de julho, quando será realizada uma grande paralisação nacional contra o atual governo. Rojas crê que essa pode ser a largada para um processo de união e coesão das forças de esquerda no país, vislumbrando as eleições municipais de 2010 e as gerais de 2011, na qual García será o alvo principal.


 


Na entrevista abaixo, Rojas descreve o cenário político peruano, fala dos ataques de García à soberania peruana e expõe seus pontos de vista a respeito das mudanças em curso na América Latina. Confira: 


 


Qual o motivo principal de sua viagem a São Paulo?
Nós temos uma relação bastante antiga com o PCdoB e aproveitamos a proximidade do encontro de partidos comunistas, em novembro, aqui em SP, para um contato direto com os camaradas daqui, em busca de entender os problemas locais e fortalecer os vínculos entre Peru e Brasil, da mesma forma como temos feito com outros partidos comunistas da região.


 


Qual análise você faz do governo do presidente peruano Alan García?
García assumiu o governo com uma plataforma que ele chamou de “mudança responsável”. Não era uma reforma radical, mas algumas reformas em relação ao neoliberalismo. No entanto, assim que assumiu, mudou de rumo. Hoje é um aplicador drástico do projeto neoliberal de [Alberto] Fujimori e mantido por [Alejandro] Toledo. Agora está à frente de uma política cada vez mais autoritária, cada vez mais favorável às multinacionais, abandonando cada vez mais a soberania nacional, entregando as riquezas do país aos capitais, com uma política cada vez mais personalista e autoritária, algo que nos preocupa seriamente. Contra essa situação há um movimento de resistência crescente na população porque ainda que esteja acontecendo um forte crescimento econômico, isso não se reflete nas condições de vida da população. Segue-se praticando uma economia primário-exportadora


 


A partir do cobre, principalmente…
Minérios em geral, não apenas o cobre. Há a crença de que por aí se dará o desenvolvimento futuro. E, que para esse desenvolvimento chegue, seria preciso criar todas as condições para receber os investimentos estrangeiros. García está embarcado nesse projeto.


 


Já é possível fazer algum tipo de comparação entre o primeiro governo de Garcia (1985-90) e seu atual mandato?
O primeiro governo de García nos levou a uma super catástrofe econômica. Ele desvalorizou a moeda, a inflação chegou a mais de 6.500% ao ano, a população se empobreceu tremendamente, mas, apesar disso tudo, ficou sobre ele uma imagem de alguém pertencente à social-democracia de esquerda. Agora se cria uma outra imagem: de que seria um presidente de altíssima confiança, que entusiasma o senhor Bush, que se sente bem ao lado de Álvaro Uribe [presidente da Colômbia], com posturas mais conservadoras e reacionárias.


 


Existe na sociedade peruana uma discussão mais ampla sobre esse posicionamento conservador de García, especialmente diante do atual cenário de mudanças nos governos latino-americanos?
Atualmente, todos os grandes empresários e os meios de comunicação do país estão com García. Ele é uma figura emblemática da direita neoliberal do Peru. A tal ponto que alguns velhos políticos conservadores do país hoje se sentem à esquerda de García. Isso lhe dá uma idéia da mudança de García. Em segundo lugar, há um desencanto crescente na população. Uma recente pesquisa mostra que apenas 33% respaldam a política de García. O restante da população se diz claramente insatisfeita. E é a partir disso que estão sendo gerados movimentos muito amplos. Em 9 de julho haverá uma paralisação nacional em defesa da soberania, contra o autoritarismo do governo, por melhores salários e melhores condições de vida da população, sem deixar de lado o tema da luta contra a corrupção, em torno de um órgão chamado Coordenação de Movimentos Sociais, composta por partidos políticos, sindicatos, jovens, mulheres, professores e outros setores da sociedade, num processo muito amplo.


 


E como esses movimentos têm observado a provável instalação de uma base militar norte-americana no país?
García está totalmente empenhado em uma abertura total aos interesses norte-americanos, não-somente na economia, mas também nesse aspecto, sob o pretexto da luta contra o terrorismo e o narcotráfico. Já há bases, especialmente em nossa selva amazônica. Os EUA contam com total benevolência do presidente. A paralisação de 9 de julho também tem a ver com esse tema.


 


E até que ponto García vem reprimindo esses movimentos?
Quando falamos de um governo autoritário, ele se insere nesse contexto. É um governo que vem criando uma série de normais “legais” para sancionar, por exemplo, leis que caracterizem qualquer pessoa que faça greve como terrorista. Segue reprimido, como o fez na última Cúpula de governos, com policiais e cachorros, quaisquer atos políticos. E isso deve continuar. Por isso a greve tem também como objetivo lutar contra esse tipo de política, muito perigosa.


 


Nesse contexto, como se insere a figura de Ollanta Humala no debate político do país?
Estamos buscando o apoio de todas as forças que sejam de esquerda, nacionalistas e progressistas. Nossa idéia é ter uma grande unidade para lutar por uma grande mudança. Como parte desse esforço, temos conversado com Humala e membros de outros partidos políticos, para configurar uma só proposta eleitoral para as eleições gerais de 2011, com vistas também para as regionais de 2010. Humala tem uma orientação nacionalista e progressista, e por essa postura há uma grande campanha contra ele, para neutralizá-lo, anulá-lo politicamente. Nós nos solidarizamos a Humala e cremos que podemos avançar nessa grande unidade.


 


Em que estágio está a representação política do Pátria Roja?
Atualmente não temos nenhuma representação, pelos problemas nos processos eleitorais passados. A aliança com Humala se rompeu e tivemos que fazer outra aliança de emergência nas eleições passadas. Temos, no entanto, grande representação entre os movimentos de massas, em muitos municípios. E estamos convencidos de que nas eleições de 2010 poderemos aumentar muito nossa participação em ao menos três regiões do país.


 


Em relação aos problemas sociais do Peru, quais deles lhe parecem mais graves atualmente?
Há muito problemas. Temos muitas potencialidades para nos desenvolver, mas o que ocorre é o contrário: pobreza, desigualdade… Por isso é que defendemos uma mudança radical de rumo. Temos crescimentos recordes, os mais altos da década, mas os setores mais importantes da economia são controlados por empresas de fora do país.  Falta educação, conhecimento, tecnologia… e não há grandes preocupações para quaisquer reformas nesse sentido. A saúde é um desastre – a maioria da população não tem acesso a ela. A corrupção está em toda parte do Estado, é uma cultura no Peru. Temos que mudar muitas coisas. Os problemas são diversos. Esperamos que nas próximas eleições a população opte por uma grande mudança. A chave para isso é a unidade de esquerda, dos nacionalistas e progressistas. Se pudermos alcançar esse objetivo, o próximo governo deverá ter uma postura distinta ao neoliberalismo.


 


O neoliberalismo está perto de morrer em nosso continente?
O neoliberalismo foi um fracasso em toda a América Latina. Em que país houve demonstrações de desenvolvimento e progresso? Na Argentina, destruiu a indústria e empobreceu o país. Sempre falam do Chile como exemplo, mas também não é nada disso. Entendemos que os EUA e os grandes bancos vão tentar pôr em prática algumas pequenas mudanças gerais, como por exemplo recuperar algo do papel do Estado, prestar mais atenção à pobreza. Mas são maquiagens que não vão resolver o sistema, que explora o trabalho, que saqueia os recursos naturais e concentra a riqueza em poucas mãos. E qual alternativa a população tem? Defender isso? Não. É lutar!


 


Iniciativas como a Unasul e a Alba são um bom caminho para a América Latina?
O projeto Alba é extraordinariamente interessante, completamente oposto ao projeto norte-americano; possibilita um caminho distinto, baseado na solidariedade. Nós o apoiamos totalmente e, se chegarmos ao governo, iremos fazer com que o Peru o integre.


 


O recente processo de mudanças nos governos latino-americanos requer mais tempo para análise ou já é possível qualificá-lo como vitorioso?
Claro que são experiências excelentes, pela ruptura com os EUA e seus aliados, por responder à idéia de que as idéias socialistas estavam eliminadas. Hoje a América Latina busca um caminho próprio, a partir desses feitos altamente positivos, que têm um impacto mundial, que pode ser expandido no futuro. Sabemos que há e haverá uma onda contra-ofensiva, que pode trazer alterações a essa tendência. Mas aos poucos vamos avançando. A situação, vista assim, é boa para a causa dos povos e para a luta socialista.


 


A eleição nos EUA pode trazer alguma mudança para o continente?
Se Barack Obama ganhar, provavelmente haverá algumas mudanças, mas o fundamental não mudará: o interesse dos grandes monopólios. Os governos continuarão se submetendo aos interesses do grande capital. Creio que não devemos nos entusiasmar muito com as mudanças, nem subestimá-lo. Qualquer mudança, por menor que seja, não pode servir para baixarmos a guarda. Temos que lembrar que o imperialismo continuará forte, seja com um rosto ou o outro.


 


Como você tem visto o processo de mudanças atual em Cuba?
Nossa relação com Cuba é excelente, claro. As mudanças em Cuba são seguramente necessárias, mas não modificarão os rumos socialistas. Elas vêm para dar mais ar, para poder avançar na solução dos problemas do povo. Temos plena confiança na condução feita pelo companheiro Raul Castro.


 


Você se considera um homem otimista, acima de tudo?
Toda mudança é difícil. Temos à frente um inimigo demasiado poderoso, com uma grande experiência. São mudanças possíveis, temos que lutar. Temos que ser otimistas, pois o inimigo pode ser poderoso, mas não é invencível. E os povos às vezes podem ser fracos, mas se bem orientados podem ser fortes. Temos que trabalhar com essa perspectiva. Temos que trabalhar com a idéia de que se o imperialismo e o neoliberalismo continuarem a dominar o mundo, o futuro é sombrio.


 


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http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=39386