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Receita chinesa colhe resultados incríveis nas Olimpíadas

A Olimpíada de Pequim ainda estão longe de acabar, mas já é possível perceber os resultados do ''Projeto 119'' encampado pelos chineses para superar os Estados Unidos na conquista de medalhas de ouro. Em apenas cinco dias de competição, os americanos já a

Não fosse o fenômeno no cubo d’água, Michael Phelps, os EUA estariam agora em uma situação desesperadora. Sozinho, o maior nadador de todos os tempos foi responsável por cinco das dez medalhas americanas até aqui. A China, por outro lado, não conta com nenhum atleta fenômeno, mas sim com um ambicioso projeto pensado pelo Estado.  


 


O Projeto 119 foi criado em 2000, logo após a decisão de que a Olimpíada de 2008 seriam realizadas em Pequim. O número 119 corresponde ao total de medalhas que modalidades como atletismo, natação, remo, canoagem e vela – entre outros de menor visibilidade dentro e fora do país – ofereciam na época.


 


Para cada uma delas foram elaborados minuciosos planos de desenvolvimento e atração de atletas com alto potencial. Verdadeiras linhas de montagem foram criadas para, a partir da larga escala de candidatos – que não faltam no país mais populoso do mundo, destacar os mais promissores e transformá-los em ganhadores.


 


Mais de 20 treinadores estrangeiros, todos com currículos expressivos em vitórias olímpicas foram contratados para comandar o Projeto. É uma verdadeira babel de talentos importados, o que é muito comum em países que buscam investir pesado nas modalidades olímpicas. Mas todos tiveram que aprender como funciona a contabilidade esportiva chinesa para 2008. Primeira regra: um ouro vale tanto quanto mil pratas.  


 


Na Olimpíada de Atenas, em 2004, os efeitos do Projeto 119 já puderam vir à tona.  A China colheu 32 medalhas de ouro, ficando apenas três medalhas atrás dos Estados Unidos. Agora em Pequim, especialistas em probabilidades de medalhas olímpicas já apontam: não há dúvidas, a China superará os americanos.


 


EUA entram na briga


 


Ciente da ofensiva chinesa, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) se reuniu imediatamente após os Jogos de Atenas para injetar recursos nos esportes em que a colheita de medalhas é mais generosa. Com um orçamento anual de U$ 130 milhões para investir no treinamento de atletas, o USOC optou pela diversificação, dobrando, por exemplo, o investimento no tiro esportivo, que, sozinho, tem 17 ouros olímpicos a oferecer.


 


A operação incluiu abrir a porta da cobiçada estrutura esportiva dos Estados Unidos aos estrangeiros. Desde os Jogos de Barcelona, em 1992, cerca de 50 atletas de ponta – inclusive dez chineses – que competiam sob a bandeira de outros países receberam cidadania americana e já retribuíram, conquistando oito medalhas olímpicas para o país de adoção.


 


Mesmo assim, e com toda a campanha difamatória levada a cabo pelos EUA contra a nação chinesa, os atletas americanos estão sentido o peso da torcida vermelha que incendeia os estádios de Pequim toda vez que os EUA participam de uma competição. O som, mesmo aqui do Brasil, é alto e claro: vale todo tipo de vaia e barulho contra a vitória americana. 


 


Remo, a promessa chinesa


 


Quando Igor Grinko, um ex-treinador soviético dono de um currículo impressionante, aceitou treinar a equipe de remo da China, há quatro anos, estava ciente da regra número um para a Olimpíada de Pequim. “Treinadores como eu chegam e têm de ajudar o pessoal a ganhar medalhas de ouro, ou então são demitidos”, disse.


 


O remo está no topo do Projeto 119. Grinko, 62, terá o desafio de conquistar o máximo possível de medalhas de ouro nas 14 competições da modalidade. O treinador, um sujeito grisalho, olhos azuis frios como o aço, que gosta de piadas sem graça que os chineses não entendem, também é conhecido por um regime brutal de treinamento. “Minha palavra preferida é sofrer”, diz com uma risadinha.


 


No passado, a equipe soviética que ele preparou ganhou 14 medalhas olímpicas e outras oito em campeonatos mundiais. Na China, ele é o inflexível responsável pelo magnífico complexo de atletismo financiado pelo Estado, que gastou US$ 10 milhões na sua construção nas margens do Lago das Mil Ilhas.


 


Evolução impressionante


 


A China ganhou quatro medalhas no remo, nenhum ouro, desde sua primeira Olimpíada, em 1932. Mas de repente, em um esporte que não é familiar à maioria dos chineses, os remadores tornaram-se uma equipe fortemente competitiva nos Jogos de Pequim. A China qualificou mais barcos do que todos os outros 57 países da lista dos participantes do remo.


 


Desde 2006, os remadores chineses ganharam 18 medalhas de ouro em campeonatos mundiais e em eventos em Copas Mundiais, mais do que o dobro do número de vitórias nos três anos anteriores. No ano passado, em uma regata do Campeonato Mundial em Amsterdã, a China surpreendeu algumas das principais equipes, levando para casa dez medalhas.


 


Nos 14 eventos disputados nas Olimpíadas, ela ganhou cinco ouros. Alguns concorrentes começaram a suspeitar de uma evolução tão rápida dos remadores, mesmo porque, nos últimos 20 anos, os atletas chineses foram apanhados em amplos escândalos de doping. Depois de Amsterdã, o celular de Grinko começou a tocar.


 


“Sua equipe deve estar envolvida em doping”, comentaram alguns antigos colegas de remo, segundo Grinko. Mas Cui Dalin, vice-ministro da Agência Geral de Esportes da China, garante que a equipe anfitriã está “limpa, muito limpa”. “Aqui não há segredos, não há mistérios”, agrega Grinko. “A China está fazendo o que os alemães orientais fizeram nas décadas de 70 e de 80”.


 


Um dever: o ouro


 


Liu Aijie, vice-presidente da Agência de Esportes Aquáticos, afirmou que é dever da China ganhar suas primeiras medalhas de ouro olímpicas no remo, em casa. “Vou ficar chocado se não ganharem pelo menos algumas medalhas de ouro”, disse Ed Hewitt, ex-remador da seleção americana, que dirige o site Row2K.com. Mas oito anos não são um tempo suficiente para montar um programa vencedor, acrescentou.


 


Os países que tiveram o melhor desempenho no remo nos Jogos de 2004, foram a Romênia com três e a Alemanha com dois. Os EUA ganharam um único ouro na especialidade. Mesmo alguns ouros seriam algo monumental, uma vez que os chineses estiveram muito tempo fora do circuito Olímpico.


 


Desde a Revolução, o país foi afastado primeiramente das Nações Unidas e depois das Federações esportivas. A reintegração foi lenta e bem gradual. No movimento olímpico, a China não voltou até 1979 e sua participação nos Jogos Olímpicos só foi acontecer nos Jogos de Los Angeles em 1984. Foi uma estréia e tanto, tendo o país ficado em 4º lugar na classificação geral com 15 medalhas de ouro, oito de prata e nove de bronze num total de 32 medalhas. 


 


O país caiu na edição seguinte em 1988 em Seul para o 11º lugar, mas voltou a ser 4º nas edições de 1992 em Barcelona e 1996 em Atlanta. Sydney 2000 foi a vez de subir ao 3º posto e 2004 em Atenas terminar em 2º lugar.


 


Modificada às 17h13 dia 14/08.