Inflação recua: qual será o pretexto para aumentar os juros?

Todos os índices que medem a inflação no Brasil registraram queda em agosto. A inflação oficial é o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que recuou de 0,53% em julho para 0,28%

O IPCA é o índice adotado pelo governo para estabelecer suas metas anuais de inflação, cujo centro neste ano ficou em 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Da mesma forma que em outros índices (como o ICV-Dieese), o comportamento do IPCA foi determinado principalmente pela evolução dos alimentos e bebidas, que dispararam ao longo dos últimos meses, mas desta vez apresentaram deflação (redução de preços).



Os dois itens tiveram uma deflação de 0,28% em agosto, depois de terem registrado uma alta de 1,05% em julho. Cabe destacar o preço do tomate, que caiu 36,9%; um mês antes, havia subido 10,6%. Também tiveram forte queda a batata inglesa (de 6,55% em agosto, após já ter baixado 6,4% no mês anterior) e o feijão mulatinho (diminuiu 6,46% em agosto, depois de cair 2,12% em julho).



Gasolina mais barata



Como no primeiro semestre a alta dos alimentos havia sido forte, a inflação desse segmento acumulada no ano ainda é elevada e supera o índice geral, chegando a 9,58%. A gasolina também ficou 0,25% mais barata em agosto, depois de ter subido 0,59% em julho. Em contrapartida, conta de telefone e energia elétrica ficaram mais caras em agosto.



O comportamento da inflação sugere que o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central foi precipitado ao decidir pela elevação das taxas de juros em doses que sequer podem ser consideradas homeopáticas. Nas três últimas reuniões do Copom, a taxa básica (Selic) foi elevada de 11,75% (em abril) para 13% no dia 23 de julho. Resta saber qual vai ser a conduta do Copom em sua próxima reunião, que deve ocorrer na próxima semana.



Sem pretexto



Os sinais emitidos até o momento pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, indicam que novas altas estão na agenda da instituição. Até o momento, o pretexto é combater a inflação. Com os preços mais comportados e os alimentos e as commodities em baixa, Meirelles provavelmente vai procurar outros argumentos. Alguns analistas do sistema financeiro já apontam a desvalorização do real frente ao dólar e a fuga de capitais no Bovespa como bons motivos para praticar uma política monetária ainda mais restritiva.



Na verdade, conforme denunciam muitos economistas que mantêm uma posição crítica em relação à política do BC, são outros interesses, poderosos e ocultos, que determinam as decisões do Copom. É certo que juros altos funcionam como um freio de mão para a atividade econômica, reduzindo a taxa de crescimento e o nível de emprego, com efeitos perversos para o desenvolvimento nacional e, em especial, para a classe trabalhadora;mas, há quem lucre com a brincadeira, que premia a agiotagem do sistema financeiro e os especuladores, nacionais e estrangeiros.



O Brasil já conquistou o desonroso título de campeão mundial das taxas reais de juros. O movimento sindical deve ficar em estado de alerta nesses dias e se preparar para novas batalhas contra a política do Banco Central e pelo “Fora Meirelles”, dando continuidade às manifestações unificadas das centrais sindicais realizadas no dia 23 de julho.



* Umberto Martins, jornalista, é editor do Portal da CTB