Boccara: Tarefas da esquerda diante da crise do capital
''A esquerda deve ir além dessa alternativa tradicional entre mercado e Estado'' e fazer propostas ''operativas, audazes e populares'' face à ''crise sistêmica'' de um sistema capitalista que ''enlouqueceu'' – propõe o economista e historiador marxista Pa
Publicado 23/10/2008 14:39
O desafio que se coloca para a esquerda hoje é fazer propostas baseadas em análises profundas e suficientemente precisas para que sejam operativas, audazes e populares, visando contribuir para a mais ampla unidade de ação. É certo que existe uma crise do liberalismo e da finança desregrada, mas existe sobretudo uma nova maturação da crise sistêmica. O sistema enlouqueceu.
Clima favorável a transformações profundas
Se o sistema enlouqueceu, não foi porque haveria zonas onde o capitalismo teria se tornado sadio e normal, como dá a entender [o presidente francês] Nicolas Sarkozy, mas porque sua lógica de rentabilidade financeira foi levada ao paroxismo.
É inútil falar de moralização e de transparência sem que se avance para novas regras. É impossível retornar a um capitalismo de nossos avós ou de Keynes, porque as profundíssimas transformações que exacerbaram o capitalismo são irreversíveis. Trata-se da revolução informacional, com a escalada das multinacionais, é a revolução monetária com o descolamento da moeda em relação ao ouro, a hegemonia do dólar, etcetera.
A escalada das intervenções estatais e da regulação dos mercados manifesta um clima novo, favorável a transformações profundas para controlar os mercados e começar a se emancipar das regras do capitalismo enlouquecido. É uma virada histórica! Mas uma maior intervenção dos Estados e da regulação não serão suficientes caso se permaneça agarrado às regras do sistema.
Crise reclama medidas imediatamente estruturais
A esquerda deve ir além dessa alternativa tradicional entre mercado e Estado. Do lado do Estado, é preciso uma verdadeira democracia participativa dando efetivos poderes de intervenção e controle dos trabalhadores e dos cidadãos junto às empresas e serviços públicos. Do lado dos mercados, é necessário impor-se a eles com avanços radicais na partilha e serviços públicos inovadores.
Face à escalada do desemprego, por todo o mundo, entra em pauta o aumento dos salários, uma outra organização do trabalho, e, cooperativamente, uma securatização do emprego e da formação.
Não acredito que o plano Sarkozy caminhe na direção certa, nem que o problema seja fazer mais e mais cedo. A crise reclama medidas imediatamente estruturais. Entre elas: um crédito seletivo; novos critérios de gestão de empresas; novas instituições bancárias e monetárias em nível local e mundial (fundos regionais, pólo público, moeda comum mundial.
Fonte: http://www.humanite.fr; intertítulos do Vermelho