Marcha Zumbi celebra o Dia Nacional da Consciência Negra
A quinta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, mobilizou a capital mais negra do país, Salvador, com a realização da 29ª Marcha Zumbi dos Palmares; assim nomeada em menção honrosa ao líder do mais altivo quilombo, na data em que o ícone da histór
Publicado 20/11/2008 21:57 | Editado 04/03/2020 16:21
A marcha tingiu de negro as ruas do Centro da cidade contra qualquer forma de discriminação e a intolerância religiosa, e em defesa da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. O samba deu o tom dos festejos e o clima era de “protesto com criatividade”, segundo definiu a Coordenadora Nacional de Juventude da Unegro – União de Negros pela Igualdade. “É tradição africana unir protesto com música e dança”, ressaltou Ângela Guimarães.
Organizada pela Conen – Coordenação Nacional de Entidades Negras, a manifestação reuniu cerca de 5 mil pessoas – segundo dados da polícia militar – em caminhada da Praça do Campo Grande até a Praça Municipal. Durante todo o trajeto, novos manifestantes foram se juntando e somando o passo nos festejos pelos 120 anos de abolição da escravatura.
Mas o momento também era de reflexão sobre o papel do negro no cenário baiano. “O clima é de força, de luta e de politização”, destacou a vereadora Olívia Santana (PCdoB). “Não vamos conseguir transformar a sociedade sem a elevação da consciência política”, defendeu.
Olívia ainda saudou a decisão da Câmara Federal que, justamente no 20 de novembro, aprovou o projeto de cotas para negros e pobres nas universidades públicas brasileiras. “Isso demonstra o crescimento dos avanços sociais. A cota representa igualdade de oportunidades e, consequentemente, eleva a auto-estima do negro e o nível de disputa por ocupação de espaço dentro da sociedade”, endossou o coro, o vereador do PCdoB, Oliveira. “A educação é o grande instrumento de transformação social”, reafirmou.
Diversidade
Faixas e bandeiras alçadas ao vento uniam diversas entidades do movimento social e estudantil, sindicatos e agremiações. Palavras de ordem pedindo por mais formação e capacitação dos afrodescendentes e clamando à conscientização pelo fim da discriminação racial.
“O 20 de Novembro é a data em que negros e negras vão às ruas gritar contra a discriminação, principalmente no mercado de trabalho. Nos juntamos a esta luta porque entendemos que, a união dos trabalhadores e dos demais segmentos da sociedade, é a única forma de combater o racismo é o preconceito”, ratificou Dalva Leite, secretária de Combate ao Racismo da CTB Nacional e vice-Presidenta da CTB-Bahia.
Estampando as camisetas da Conen, o clamor por solidariedade ao povo do Haiti. “Trata-se de um dos países mais pobres das Américas e onde os índices de violência são alarmantes. Assim como no Brasil, os negros são a maioria da população, mas ocupam a base da pirâmide social”, explicou Ângela Guimarães.
Em frente à Praça da Piedade, símbolo do movimento revolucionário popular da Conjuração Baiana – ou Revolta dos Alfaiates -, os negros escravos que se rebelaram contra a Coroa Portuguesa foram homenageados e destacados como heróis da resistência. Não por acaso, a Praça abriga os quatro bustos dos mártires enforcados (Manuel Faustino, João de Deus, Lucas Dantas do Amorim e Luiz Gonzaga).
As mulheres negras, que, segundo recente pesquisa do Dieese, ocupam a liderança na escala de desempregos na capital baiana (taxa de 26,4%, seguida pelos homens negros, com 19,2%), também tiveram a sua luta destacada. “É preciso lutar contra a essa representação minoritária, já que a população negra é maioria não só na Bahia, mas em todo o país”, defendeu Olívia Santana.
Em meio à multidão, um manifestante solitário carregava o cartaz lembrando os direitos dos travestis e transexuais. Quem seguia à frente dos trios elétricos, ensaiava passos de dança em clima festivo, saudando a beleza negra e, lembrando as famosas aspas de Che Guevara – cujo rosto estampava algumas faixas e camisetas -, mostrava que é preciso, sim, endurecer, mas sem perder a ternura jamais.
Manifestações nos bairros
Além da Marcha Zumbi dos Palmares, no Centro, o Dia da Consciência Negra foi marcado por outras caminhadas em bairros de Salvador. Logo no início da manhã, 8h, aconteceu a IIIª Marcha da Consciência Negra de Cajazeiras, que foi organizada pela Ong. Cajaverde e reuniu cerca de 3 mil pessoas. A saída foi da Rotula da Feirinha, em Cajazeiras X, com destino a Avenida Assis Valente , também conhecida como Pedra do Buraco do Tatu ou Pedra da Onça. O evento contou com a participação de alunos de diversas escolas públicas do bairro, além de estudantes universitários e da comunidade Cajazeiras e adjacências. Durante todo o percurso, aconteceram apresentações culturais de capoeira e música. Às 10h, começou a mobilização dos moradores do Subúrbio Ferroviário, que fizeram uma caminhada entre os bairros de Cabrito e Plataforma.
A celebração do Dia Nacional da Consciência Negra continuou durante a tarde. Às 16h, começou a 8ª Caminhada da Liberdade, com o tema “O Povo Negro no Poder”, que começou no Curuzu e se encerrou no Pelourinho. O evento, organizado pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia, levou a mensagem de conscientização sobre a resistência negra às ruas de Salvador. Durante todo o caminho, músicas de protesto lembraram a realidade da população afro-brasileira e pediram o fim do racismo. Participaram da caminhada os blocos Ilê Aiyê, Male Debalê, Cortejo Afro, Muzenza e Okambi, entre outros.
De Salvador,
Camila Jasmin e Eliane Costa