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PC da Argentina: crise é superior à de 1929 e exige unidade

Diferentemente do que sustenta o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o colapso neoliberal não é apenas “a crise de uma variável do capitalismo”. Foi o que afirmou o secretário geral do Partido Comunista da Argentina, Patrício Echegarray, numa das primeiras intervenções do 10º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários. O evento ? que acontece pela primeira vez na América Latina ? começou em São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira (21).

Segundo Echegarray, o capitalismo enfrenta, nos dias de hoje, “uma crise de seus próprios paradigmas”, cujos efeitos são superiores aos da crise de 1929. É uma situação praticamente inédita. Além dos visíveis impactos econômicos ? como o esfacelamento do sistema financeiro, a recessão, a ameaça inflacionária e o desemprego ?, há problemas também nas áreas energética, ambiental, alimentar, militar, entre outras. “Na verdade, é a expressão de uma única crise ? a crise da civilização burguesa”, declarou o dirigente argentino.

Echegarray lembrou que quase 20 anos se passaram desde a queda da União Soviética e do bloco socialista. Tão-somente agora, no entanto, as teses do “fim da História” e do ocaso das ideologias e do socialismo mostram-se esvaziadas e inúteis aos olhos de todos. “A crise atual é uma nova etapa histórica e abre, mais uma vez, o debate sobre a necessidade do socialismo como alternativa à sociedade”.

Na opinião do PC da Argentina, essa crise não é mortal para o capitalismo, nem tampouco passageira.  Num cenário de “decadência profunda” ? expressão frisada por Echegarray ?, os trabalhadores e o povo pobre do mundo todo devem ser os mais atingidos, seja diretamente pela crise, seja em seguida diante das soluções propostas pelo sistema. “Rosa Luxemburgo (líder histórica do Partido Comunista da Alemanha) já dizia que a barbárie é uma das saídas que os capitalistas apresentam em meio à crise”.

América Latina
As lutas por transformações de caráter progressista e revolucionário encontram solo especialmente fecundo na América Latina. As consecutivas vitórias de candidatos de esquerda têm marcado, nos últimos dez anos, as eleições presidenciais de diversos países da região. “Não podemos negar que o continente latino-americano se converteu em baluarte de resistência e confronto ao imperialismo”, reforça Patrício Echegarray.

“É um momento histórico de tendências revolucionárias positivas”, acrescenta o líder argentino. Além da quase cinqüentenária Revolução Cubana (1959), a América Latina vive uma série de experiências pelo fim da exploração que há séculos oprime o continente.

Ao mesmo tempo, emergem forças conservadores “de configuração regional”, de inspiração “ultradireitista e fascista (como na Bolívia), violenta e vil (caso da Argentina)”. Essa direita argentina se articula a partir da capital Buenos Aires, com o estímulo cada vez menos explícito da embaixada dos Estados Unidos e da alta cúpula da Igreja Católica ? que exercem pressão por medidas antipopulares. Daí a importância de que a esquerda também se mantenha unida em torno do governo de Cristina Kirchner.

Echegarray salienta que os comunistas argentinos seguem apoiando o governo e combatendo a direita. O PCA luta ainda por uma política que dê mais impulso à integração latino-americana, no rumo do socialismo. “É hora de uma forte ofensiva política e ideológica, em que precisamos ser conseqüentes”, propõe o dirigente comunista. “Estamos definitivamente às voltas com uma época de esperança.”

De São Paulo,
André Cintra