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Comunistas sul-africanos concorrerão “sob a bandeira vermelha”

Chris: Chris Matlhako, o secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Sul-Africano (SACP, na sigla em inglês), foi o orador escolhido para falar em nome dos 65 PCs no ato público deste sábado (22), na Quadra dos Bancários, São Paulo. No domingo, ele falou a Bernardo Joffily, para o Partido Vivo, e explicou que os comunistas, nas eleições de 2009, mesmo mantendo a aliança no interior do CNA lançarão seus candidatos em listas próprias, “independentes, carregando a bandeira vermelha do SACP”.

Por que a África do Sul mudou seu presidente?
O SACP tem analisado as condições econômicas, sociais e políticas da África do Sul, desde a transformação democrática de 1994 (que pôs abaixo o regime racista, ao eleger Nelson Mandela presidente). Concluímos que tínhamos obtido a liberdade política, um ambiente legislativo democrático, mas no nível econômico uma grande parte do povo não teve acesso aos frutos dessa liberdade.

Depois das reformas de 1996, principalmente, o governo pouco entregou ao povo em matéria de educação, saúde. O problema fundamental ee a economia, uma economia que não se transformou.

Ao contrário, em 1996 nosso governo introduziu medidas neoliberais na economia. Houve uma crise na economia. A distância entre ricos e pobres aumentou. O desemprego aumentou. Estes foram os resultados da crise estrutural do capitalismo em curso na África do Sul.

Como resultado, aumentou a consciência e a contestação. No ano passado, os membros do Congresso Nacional Africano (CNA, a grande aliança política que está no poder desde 1994, onde o SACP participa) decidiram eleger Jacob Zuma presidente do CNA. A mesma conferência do CNA também apontou para uma mudança na política econômica, com ênfase em achar soluções para os problemas dos trabalhadores e do povo.

Nas próximas eleições (que acontecerão em 2009), é tradição que o presidente do CNA seja o candidato da aliança à presidência. Não somos ingênuos: não vai ser uma eleição qualquer. Será uma mudança nas instituições da África do Sul.  Temos condições de reverter o projeto neoliberal, que teve um impacto tão negativo na economia e na sociedade sul-africana.

Qual o papel que está reservado ao SACP?
O papel do SACP e também da Cosatu (a poderosa central sindical sul-africana, que também faz parte do CNA) é cada vez mais importante. A aliança que é o CNA deseja ouvir as propostas do Partido Comunista e da Cosatu. Temos uma possibilidade de melhorar a confiança e o respeito mútuo entre nós.

O SACP tem um papel muito importante a cumprir. Ele precisa ser politicamente perspicaz, dinâmico, estruturalmente forte, para implementar suas resoluções.

Agimos do mesmo modo que o PCdoB em relação ao governo Lula. Por isso estamos interessados em conhecer melhor a experiência brasileira e saber como funcionam as alianças no Brasil.

É fato que a representação parlamentar do SACP se faz através do CNA?
Uma das resoluções adotadas no último congresso do partido é reconstituir os termos de sua relação dentro do CNA. Quando tivermos eleições no próximo ano, temos um entendimento, com a aliança, de que o Partido Comunista terá um perfil independente e seus eleitos responderão perante o SACP. Ao mesmo tempo, continuaremos a fortalecer o CNA para impulsionar a revolução na África do Sul.

O mais importante, nesta mudança, é que teremos candidaturas do Partido Comunista, independentes, carregando a bandeira vermelha do SACP. Em certas circunstâncias locais, onde o partido for mais fraco, poderá haver ainda candidaturas comunistas na lista da aliança.

Existe o perigo das forças de direita ganharem terreno na eleição de 2009?
Não. Vou lhe repassar os resultados de uma pesquisa, da semana passada, que mostra isso.

(A pesquisa, da Plus 94 Research, mostra que 74% dos eleitores que já decidiram seu voto pretendem sufragar o CNA – 5 pontos a mais que na eleição de 2004. O eleitorado negro é o que tem menor percentagem de indecisos: 65%, contra 54% dos brancos. A preferência pelo CNA é de 84% entre os negros, 15% entre os brancos, 50% entre os mestiços e 47% entre os indianos. O Partido Inkhata Liberdade [IFP na sigla em inglês], segundo a pesquisa, cai de 7% nas eleições passadas para apenas 1,2% nas de 2009. No seu reduto, a província de Kwa Zulu-Natal, a queda prevista é de 36% para 5%, enquanto o CNA alcançará 81% dos votos da província.)

Dentro do Parlamento atual, onde os membros do SACP são eleitos na lista do CNA, quantos são os deputados comunistas?
No nível do Parlamento nacional, uns 80 (em um total de 246 parlamentares). No nível municipal e provincial também temos muitos e muitos representantes, assim como dirigimos governos locais.