Caminhada contra a violência une mulheres de Salvador

As 55 cruzes brancas fincadas no gramado do Dique do Tororó, no Centro de Salvador, chamaram à atenção de quem passava pelo local neste domingo (30/11). As cruzes simbolizavam as 55 mulheres assassinadas por maridos e companheiros só este ano na Bahia. Es

A concentração começou cedo, vinda de várias partes da cidade, ativistas do movimento social e mulheres vítimas de violência foram tomando as margens do Dique do Tororó. Alguns freqüentadores da área, que serve como espaço de lazer nos finais de semana, aderiram ao protesto, após se informarem sobre os motivos da mobilização. Muitos se assustavam com a quantidade de mulheres assassinadas, mas este não é dado mais chocante em relação à violência doméstica em Salvador. De janeiro a outubro, a Delegacia Especial de Proteção a Mulher de Brotas (DEAM) registrou 7.532 queixas de ameaças, agressões e estupros. Sendo 70% destes crimes cometidos no ambiente doméstico, por maridos ou companheiros.


 


Os números assustam, mas esta é apenas a parte visível do problema, pois muitas mulheres não denunciam as agressões por vergonha da sociedade ou medo do agressor. Muitas tomaram coragem após a Lei Maria da Penha, sancionada pelo presidente Lula em 2006, que aumentou as penas para a violência doméstica e os mecanismos de proteção para as vítimas. Recentemente Salvador também ganhou uma segunda Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, instalada em Periperi e a primeira Vara Especializada em Violência Doméstica, que fica nos Barris.


 


As mulheres de Salvador também já contavam com o Centro de Referência Loreta Valadares (CRLV), que já  fez 15.680 atendimentos, em três anos de funcionamento. A instituição oferece, gratuitamente, atendimento psicológico, social, jurídico, além de apoio pedagógico para os filhos das vítimas. Atualmente 120 mulheres são acompanhadas e diariamente, pelo menos uma nova vítima busca ajuda no Centro.   Para a gerente do CRLV, Lívia Margarida Gomes, a falta de autonomia financeira por parte de muitas mulheres ainda tem dificultado as denúncias. “Muitas querem denunciar, mas por dependerem deles, acabam suportando as agressões caladas”.


 


A caminhada deste domingo faz parte dos 16 de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, que acontece simultaneamente em 135 países, entre os dias 25 de novembro e 10 de dezembro. No Brasil, a campanha teve início no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, para dar visibilidade à dupla discriminação sofrida pelas mulheres negras: a racial e de gênero. Durante todo o período são realizadas atividades para mostrar a gravidade do problema e cobrar mecanismos para combatê-lo.


 


Com o slogan: “Há momentos em que sua atitude faz a diferença. Lei Maria da Penha. Comprometa-se!”, o foco da edição 2008 continua sendo a Lei nº 11.340/2006 e busca conscientizar as pessoas de que, diante de um ato de violência, é indispensável tomar uma atitude: denunciar, apoiar, buscar e oferecer ajuda.


 


De Salvador,
Eliane Costa com Agências