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Mitologia grega sobre duendes tenta sobreviver ao Natal

Quem disse que Papai Noel é o único que tenta descer pela chaminé durante a temporada de festas? Segundo a mitologia grega, um bando de espíritos semelhantes a duendes está tentando penetrar nas casas – em vez de presentes, eles estão decididos a deixa

Esses espíritos míticos, semelhantes a duendes, surgiriam entre o nascimento de Cristo e a Epifania, em 6 de janeiro, dias que eles dedicam a causar um caos incomparável. John Tomkinson, autor de “Haunted Greece: Nymphs, Vampires, and other Exotica” [Grécia assombrada: ninfas, vampiros e outros seres exóticos], compara o comportamento deles com “… torcedores de futebol bêbados saindo de um bar”.



E a descrição é adequada aos seus costumes vulgares: “Os Kallikantzaroi causam confusão, intimidam as pessoas, urinam nos canteiros, estragam comida, derrubam coisas e quebram móveis”, disse Tomkinson.



As opiniões diferem sobre a aparência deles, por causa da imaginação ativa e da antiga distância entre as regiões da Grécia, separadas por muitas montanhas e os vastos mares da nação helênica. Em conseqüência, alguns dizem que os Kallikantzaroi se parecem com seres humanos de pele escura, muito altos e feios, que usam tamancos de ferro. Outros dizem que eles são baixos e morenos, com olhos vermelhos, cascos de bode, braços de macaco e corpos peludos. Existe outra escola de pensamento que os descreve como mancos, vesgos e idiotas. Eles sobrevivem com uma dieta de vermes, sapos e cobras.



Durante a maior parte do ano os Kallikantzaroi vivem nas profundezas da terra, mas saem durante os Doze Dias do Natal, aventurando-se sob a cobertura da noite.



Os visitantes não convidados e festivos entrariam nas casas pela chaminé ou, mais ousadamente, pela porta da frente. E, surpresa, as famílias gregas se esforçam para afastar esses monstrinhos. Algumas usam a precaução legendária de uma faca de cabo preto. Outras se defendem pendurando a queixada de um porco atrás da porta da frente ou dentro da chaminé. “É o que é preciso ter durante o Natal”, disse Tomkinson. “Não me pergunte por quê.”



Pendurar um feixe torcido de linho na porta da frente tende a confundir os Kallikantzaroi, que param para contar as linhas, tarefa demorada que os mantém ocupados até o sol nascer.



O fogo é outro dissuasor: muitas casas mantêm o fogo aceso na lareira durante toda a temporada. A fumaça afastaria os Kallikantzaroi da chaminé. Na véspera do Natal, o patriarca da família atira no fogo um grande tronco de uma árvore espinhosa, como uma pereira ou cerejeira silvestres. Esse tronco de Natal é conhecido como “skarkantzalos”, de Kallikantzaroi.



Às vezes se queima um velho sapato, pois o mau cheiro do couro queimado aumenta o efeito repelente. Um punhado de sal, que faz as coisas estalarem, também assustaria as feras.



E os gregos nascidos no dia de Natal correm um risco especial. Isso pode ser considerado uma tentativa de superar Cristo, e a criança pode se transformar em um Kallikantzaroi – a menos que a mãe amarre o bebê com alho.



O dia de Natal também é um grande dia de fogos. Os gregos atiram no fogo grãos de trigo ou as folhas verdes de oliveira ou nogueira. O modo como eles se incendeiam prevê se uma pessoa vai sobreviver ao próximo ano e se essa pessoa deixará sua aldeia.



Nos últimos anos, a árvore de Natal ganhou popularidade em toda a Grécia. Mas alguns gregos preferem a moda antiga, optando por um ramo de manjericão pendurado sobre uma tigela cheia de água. Uma vez por dia alguém da casa, geralmente a mãe da família, usa o ramo para espirrar água por toda a casa, para afastar as criaturas.



Mas a única cura realmente confiável é quando padres da aldeia abençoam as águas na véspera da Epifania, que marca o fim dos Doze Dias do Natal. Eles costumam visitar as casas para borrifar água benta perfumada com manjericão para afastar os maus espíritos durante o ano novo.



Na véspera da Epifania em Chipre, os aldeões atiram panquecas sobre o telhado para dar aos Kallikantzaroi algo doce para comer enquanto eles se preparam para deixar a cidade, talvez para mostrar que não ficaram magoados.



Aikaterini Polymerou-Kamilaki, diretora do Centro de Pesquisa Folclórica Helênica em Atenas, diz que os Kallikantzaroi continuam populares em toda a Grécia atual, mesmo nas cidades. Mas hoje em dia eles são relegados a simples mitos – não são mais as feras temíveis que vagam à noite, não se acredita mais que sejam reais.



“Desde a introdução da eletricidade até nas menores aldeias não há mais motivos para alguém ter medo de sair à noite”, diz Polymerou-Kamilaki. “Há luzes em todo lugar hoje, e não apenas a noite escura.”



Mas mesmo assim dá vontade de dormir com a luz acesa.



Fonte: Der Spiegel / Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves / UOl Mídia Global