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Vermelho publica o prefácio de Pedro Pomar à primeira obra de Fidel

O Prefácio que o Vermelho publica nesta edição – e que ficou esquecido por 46 anos – é uma singela homenagem a Fidel, à Revolução Cubana e, também, ao grande revolucionário brasileiro, Pedro Pomar, que morreu lutando pela democracia, pela libertaç

 


No segundo semestre de 1961 agravou-se o conflito no interior do Partido Comunista do Brasil (PCB).  O estopim da cisão foi a tentativa de registro de um novo estatuto junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Através dele se alterava o nome da organização para Partido Comunista Brasileiro e se retirava qualquer referência ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo proletário. 


 


Vários militantes descontentes elaboraram um documento – que depois ficaria conhecido como “Carta dos cem” – no qual propunham a retirada do novo estatuto e a convocação de um congresso para debater as divergências que vinham se acumulando. A atitude foi considerada uma quebra da disciplina partidária e seus principais signatários foram expulsos. Entre eles estavam antigos e experimentados dirigentes comunistas, como João Amazonas, Maurício Grabóis, Pedro Pomar, Ângelo Arroyo, Lincoln Oest e Carlos Danielli.  A maioria deles seria assassinada durante a ditadura militar.


 


Considerando que o antigo partido havia sido “liquidado” pela direção, este grupo decidiu realizar uma Conferência Nacional para reorganizá-lo. Ocorrido em fevereiro de 1962, o encontro restabeleceu o nome Partido Comunista do Brasil e o estatuto anterior. Mas, o programa foi alterado, visando adequá-lo às teses que predominavam entre eles.


 


Um dos pontos centrais do debate se dava em torno dos métodos de luta a serem empregados para conquistar um novo regime de caráter democrático, nacional e popular. O PC Brasileiro, seguindo as diretrizes do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, advogava a “via pacífica” e o PC do Brasil defendia a necessidade da luta armada para derrotar o imperialismo estadunidense e o latifúndio. A questão da forma de luta acabou suplantando a discussão mais ampla sobre a estratégia e da tática adequadas à Revolução Brasileira.


 


Diante disso, a Revolução Cubana parecia ser um paradigma para os dirigentes do PCdoB. Naquela experiência, o poder popular havia sido conquistado e mantido pela força das armas – e por uma política abertamente revolucionária. Por outro lado, a tentativa de invasão da Baia dos Porcos por mercenários financiados pela CIA (1961) e a “Crise dos Mísseis” (1962), que colocou o mundo a beira de um confronto nuclear entre o imperialismo e o mundo socialista, demonstrariam a falsidade da linha krushovista de coexistência e concorrência pacíficas. O exemplo cubano passava a ser uma arma na luta de idéias que se travava no interior do movimento comunista brasileiro.


 


Por isso, não foi sem razão que o grupo que reorganizaria o PCdoB criou uma pequena editora (Edições Futuro) que passou a publicar, pela primeira vez em nosso país, obras escritas por dirigentes cubanos. A primeira delas foi “Guerra de Guerrilhas” de Ernesto Che Guevara, prefaciada por Maurício Grabóis.  Leia o prefácio desse livro no link: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=26262


 


O outro livro publicado foi “De Moncada à ONU”, composto de dois discursos pronunciados pelo comandante Fidel Castro. O primeiro havia sido feito no julgamento em que foi acusado de ter encabeçado a tentativa de tomar de assalto o quartel de Moncada – e ficaria conhecido como “A história me absolverá!”. O segundo, pronunciado na Assembléia Geral da ONU, atacava duramente o imperialismo estadunidense e reafirmava os objetivos revolucionários do governo cubano. O livro trouxe também o texto da II Declaração de Havana, que se tornou uma referência importante para os movimentos revolucionários da América Latina.


 


O dirigente comunista Pedro Pomar foi escolhido para fazer o prefácio deste primeiro livro de Fidel Castro publicado no país. Pomar tinha uma longa história no PC do Brasil. Ingressou na década de 1930, participou ativamente da Aliança Nacional Libertadora e foi preso durante o Estado Novo. Realizou, ao lado de João Amazonas, uma ousada fuga de prisão. Foi um dos principais reorganizadores do Partido Comunista em 1943 e acabou sendo eleito deputado federal por São Paulo.  Estaria à frente dos elaboradores da “Carta dos Cem” e dos organizadores da Conferência de 1962. Como dirigente do PC do Brasil viajou por diversos países socialistas: Cuba, China e Albânia. Odiado pela ditadura militar, foi assassinado em dezembro de 1976 na chamada Chacina da Lapa.


 



O Prefácio que o Vermelho publica nesta edição – e que ficou esquecido por 46 anos – é uma singela homenagem a Fidel, à Revolução Cubana e, também, ao grande revolucionário brasileiro que morreu lutando pela democracia, pela libertação nacional e pelo socialismo.


 


Prefácio ao livro “De Moncada à ONU”.


 



Pela primeira vez são oferecidas, na integra, ao público brasileiro, dois importantes discursos de Fidel Castro, o valoroso chefe da Revolução Cubana. São discursos que simbolizam duas fases do mesmo processo político. Marcando dois momentos decisivos e distintos, eles se destacam pelo seu sentido revolucionário e pelo tom épico com os quais o líder cubano tem sabido impregnar sua atuação em todos os períodos gloriosos da luta do povo irmão contra os inimigos tradicionais de sua soberania e de sua liberdade.


 


A publicação era indispensável para todos os que querem conhecer mais profundamente a experiência revolucionária e pra a melhor análise das condições objetivas e dos fatores subjetivos que determinaram a vitória desse pequeno povo sobre adversários tão poderosos.


 


Na atualidade, maior interesse hão de despertar os documentos desta edição. Cumpriu seu terceiro aniversário a Revolução Cubana, após ter realizado um trabalho extraordinário. Terminou, agora, a campanha da alfabetização, que erradicou um dos maiores cancros das terras da América Latina. A revolução, em sua marcha ascendente, desperta e multiplica as energias criadoras das massas populares, consolida-se, ao mesmo tempo que desata a fúria impotente de seus inimigos derrotados. Cuba, de nação dependente, amarrada à monocultura do açúcar, dominada pelas camarilhas de politiqueiros corruptos e tirânicos, a serviço dos monopólios norte-americanos, transforma-se numa República Socialista.


 


Este fato novo, de significação histórica, sobretudo para a América Latina, não foi fruto do oportunismo, como pretendem, no mau sentido, seus antagonistas. Fidel Castro já tinha consciência de que o assalto ao Quartel de Moncada expressava o “germe socialista” da Revolução. Dentro de um regime semicolonial e capitalista como o de Cuba, disse ele há pouco, nenhuma transformação revolucionária seria possível, depois de cumprida a etapa libertadora, senão a socialista.


 


Os estudiosos do tema e os que entre nós julgam conveniente tomar o essencial da Revolução Cubana, isto é, seu exemplo e seu estímulo, saberão certamente valorizar a oportunidade desse lançamento editorial. Pois nenhum exemplo é mais vivo e mais próximo pata todos nós, do que esse, de um povo secularmente subjugado ter rompido os grilhões da opressão imperialista, dos latifundiários e dos grandes capitalistas, conquistado um governo genuinamente nacional e popular e instaurado um regime de libertação, antilatifundiário, que avança rapidamente para o socialismo.


 


Evitando as duas tendências errôneas – a de exagerar ou, a de depreciar a importância do caminho e dos métodos cubanos para os movimentos democráticos e emancipadores latino-americanos – gostaríamos de ressaltar nessa experiência alguns ensinamentos que nos afiguram atuais e relacionados com os problemas do Brasil.


 


Salientemos a lição a respeito do papel de uma vanguarda revolucionária para a concretização de objetivos que animavam, não somente aos jovens capitaneados por Fidel Castro, mas, igualmente, as grandes massas populares de Cuba. Na terrível situação que atravessava o país sob a tirania de Fulgêncio Batista, tanto os comunistas como Fidel Castro e seus companheiros, havia chegado à convicção de que simples mudanças de homens ou grupos no poder, de nada serviam. Impunha-se a substituição do regime, uma revolução de verdade, que levasse ao poder aquelas classes e camadas que constituem o povo, especialmente os operários, os camponeses e a intelectualidade democrática. Mas a revolução não poderia triunfar sem ter à sua frente uma força política combativa, dispostas a todos os sacrifícios. Por conseguinte, a revolução cubana é um desmentido e não confirmação à tese sobre a desvalia de um núcleo de vanguarda. Fidel Castro, antes do assalto de 26 de julho, costumava repetir o seguinte pensamento: “É necessário fazer funcionar um pequeno motor que ajude o motor maior a dar partida”. O pequeno motor era a ação inicial do agrupamento que faria arrancar o motor maior, as massas. Daí o plano da tomada do Quartel de Moncada, de onde seriam distribuídas armas ao povo para que este lutasse pelo cumprimento do Programa já elaborado. O Movimento que se denominaria “26 de Julho” antecedeu, portanto, o ataque à fortaleza de Moncada e desempenhou a missão daquele destacamento que empreenderia, audaciosamente, a façanha da primeira tentativa para derrubar a ditadura de Batista. Cabe, dessa forma, enterrar definitivamente a falsa idéia do menosprezo da necessidade de uma vanguarda consciente, que efetue  um vasto trabalho de propaganda e mobilização das massas, e que seja capaz de preparar-se para a ação, decidida a travar a luta e alcançar a vitória.



O atual processo de integração do Movimento 26 de Julho, do Partido Socialista Popular (comunista) e de outros grupos e elementos revolucionários no Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, tendo como guia o marxismo-leninismo, demonstra como são estéreis as opiniões que desdenham a relevância de uma organização de vanguarda, cujo valor é ainda maior na fase de construção do socialismo.


 


Acentuamos, além disso, que a Revolução Cubana constitui mais um notável êxito da doutrina marxista-leninista. Fidel Castro, conforme se verifica pelo seu discurso de defesa ante o Tribunal dos seus algozes, proclamou que suas idéias inspiradoras foram de José Marti. Mas ele o fez de um ponto-de-vista mais avançado, de acordo com o momento histórico em que vivia. Desenvolveu as teses mais radicais do grande democrata revolucionário cubano para fustigar de modo implacável o regime de roubo, corrupção, tirania e subserviência ao estrangeiro então imperante em sua Pátria. Defendeu o direito do povo à revolução, como o mais legítimos dos direitos. Fidel Castro e seus companheiros, no próprio fogo da luta antiimperialista e por um novo pode popular, nos comprovaram a vitalidade, a justeza e a força do marxismo-leninismo como arma revolucionaria invencível da libertação dos povos oprimidos e da consecução do grande sonho da humanidade – a supressão da exploração do homem pelo homem.


 


Em seu discurso perante a ONU, Fidel Castro situa os acontecimentos de Cuba como reflexo da época de extraordinárias transformações, cujo conteúdo fundamental é a transição do velho mundo do capitalismo para novo mundo do socialismo. Ele faz uma apreciação objetiva da Revolução Cubana, de sua real dimensão nos quadros mundiais, em particular na América Latina. Sentimos o afã de redenção e solidariedade do povo cubano, voltado para seus irmãos ainda sob o jugo do mesmo inimigo: o imperialismo norte-americano. É a primeira vez que se ergue na Assembléia das Nações Unidas a voz de um povo latino-americano verdadeiramente livre e independente, proclamando que os princípios contidos na I Declaração de Havana são os objetivos da Revolução, o qual tem uma importância sem precedentes para a história dos países da América Latina.


 


Os dois discursos põem em relevo a personalidade de Fidel Castro. No primeiro, pronunciado diante do Tribunal da ditadura, ameaçado de condenação à morte, depois que quase todos os seus camaradas do assalto ao Moncada haviam sido martirizados e assassinados selvagemente, é digna de admiração a coragem de Fidel Castro, sua confiança ilimitada no povo. Toma a posição de um autêntico chefe revolucionário, que não oculta seus objetivos e suas idéias, que defende abertamente o direito do povo à insurreição. No discurso proferido na ONU, Fidel Castro aparece como acusador irreconciliável do imperialismo. É o estadista à altura de sua responsabilidade, lúcido dirigente dos povos da América Latina em sua luta libertadora, um intrépido defensor da causa da paz entre os povos.


 


A trajetória do povo cubano de Moncada à ONU está iluminada pelas palavras ardentes e pela conduta viril e revolucionária de Fidel Castro.


 


Pedro Pomar


 


Veja também o artigo Che, Cuba e a reorganização do PCdoB:
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=25587