Governador e sindicalistas discutem pacto contra demissões
Representantes de seis centrais sindicais se encontraram com o governador da Bahia, Jaques Wagner, nesta terça-feira (27/1) para discutir ações para contornar os efeitos da crise financeira internacional no estado. No encontro, realizado na Governadoria,
Publicado 27/01/2009 19:19 | Editado 04/03/2020 16:20
A criação de um comitê permanente tripartite (governo, empresariado e trabalhadores) de acompanhamento da crise focada na manutenção dos direitos trabalhistas, redução e isenção de impostos para empresas que não demitirem, realização de concursos públicos e desburocratização do acesso ao crédito para as pequenas e médias empresas são algumas das propostas apresentadas ao governador. O objetivo destas medidas é evitar o estrangulamento dos postos de trabalho e a redução salarial, como já propõem alguns setores da ala empresarial conservadora.
O encontro reuniu os dirigentes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Nova Central Sindical (NCS), União Geral dos Trabalhadores (CGT) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). “As propostas que apresentamos objetiva a retomada da geração de emprego e o crescimento econômico. Isso só será possível com investimentos pesados por parte do governo e empresários, com o acompanhamento da classe trabalhadora”, disse o presidente da CUT/BA, Martiniano Costa.
Para Adilson Araújo, presidente da CTB Bahia, o encontro foi muito proveitoso, pois as centrais levaram ao governador a apreensão dos trabalhadores com a crise econômica e reforçaram a necessidade de medidas para manter os empregos e salários no estado. “É necessário criar um programa de desenvolvimento regional para valorizar o trabalho e impulsionar a bandeira da redução de juros, além de garantir a manutenção dos empregos para as empresas beneficiadas com incentivos governamentais”, explicou.
Na reunião, o governador apresentou algumas ações do Estado para refrear a crise e impulsionar a economia local. Dentre elas, citou a realização de concursos públicos, renegociação do ICMS acumulado de várias empresas (devolvendo à fonte empregadora sua capacidade de investimento), manutenção das obras de infra-estrutura (geradora de emprego e dinamizadora da economia) e reestruturação da carreira dos servidores públicos. “Existe um projeto de lei tramitando na Assembléia Legislativa que repactua as carreiras do Estado”, declarou Wagner.
O governador ressaltou também o empenho da política econômica estadual, que fomenta a atração de novos investimentos para a Bahia, fez uma avaliação positiva do encontro e se mostrou otimista para enfrentar a crise. Confira a íntegra do documento entregue ao governador pela centrais sindicais:
Ao
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Excelentíssimo Dr. Jaques Wagner
M.D. Governador do Estado
Documento Unitário das Centrais Sindicais Bahia.
Em defesa do emprego, salário e direitos sociais.
No último qüinqüênio, o Brasil registrou a melhor trajetória de desenvolvimento dos últimos trinta anos. São cinco anos de crescimento num patamar muito superior ao das décadas recentes, com positivo impacto na geração de emprego e elevação dos salários médios, rendimentos reais e da massa salarial da população que trabalha.
Nesse período, um conjunto de políticas que estão sendo implementadas pelo governo federal vêm reforçando a elevação dos rendimentos da base da pirâmide de renda. Destacam-se, entre outras, a política de valorização do salário mínimo negociada com as Centrais Sindicais, a de transferência de renda do Bolsa Família, as de emprego e renda, o fim das privatizações, o avanço do crédito em geral e do crédito consignado em particular, o incentivo à agricultura familiar e o investimento público em infra-estrutura. O PAC representou a consolidação da política de retomada do desenvolvimento, alavancado pelo Estado e com base no mercado interno. Já no seu primeiro ano, em 2007, o PIB teve uma expansão de 5,4% e foram criados 2,5 milhões de novos empregos com carteira assinada.
A Bahia a partir de outubro de 2006 com a eleição do companheiro Jaques Wagner para governador, fruto de uma coalizão de forças progressistas e de esquerda vem possibilitando a construção de um modelo de desenvolvimento voltado para inclusão social. Este é o modelo que queremos preservar.
A profunda crise financeira que surgiu a partir da economia americana e se espalhou rapidamente para os demais países jogou por terra, ou melhor, colocou no devido lugar, o mito de que os ''mecanismos de mercado'' são os mais eficientes para alocar os recursos econômicos das sociedades. Trata-se, mesmo, do esfacelamento e do esgotamento de todo o aparato teórico-prático do que convencionamos chamar de ''neoliberalismo''. A imposição dos dogmas do livre-mercado e da auto-regulação gerou, na verdade, o ambiente propício ao ''ganho fácil'' e à especulação das mega-corporações multinacionais. A crise do modelo que ora desmorona impõe a necessidade de maior controle estatal e democrático da atividade econômica.
Nesse manifesto, apresentamos à Vossa Excelência, aos trabalhadores e à sociedade propostas que visam reforçar a posição da Bahia e do Brasil para enfrentar a crise e sair dela mais forte para atingir os objetivos de crescer e distribuir renda.
Exigência e contrapartidas sociais, especialmente a garantia dos empregos, de todas as empresas/setores econômicos, beneficiados com recursos públicos (empréstimo, isenção fiscal, etc.)
Fim das horas – extras.
Eliminação do banco de horas.
Redução imediata, de pelo menos dois pontos percentuais da taxa básica de juros (SELIC).
Redução substancial do “spread” bancário dos bancos públicos e privados.
Ampliação das parcelas do seguro desemprego.
Ampliar dos aportes financeiros do fundo de amparo ao trabalhador, destinados à qualificação da mão de obra.
Autorização para que o trabalhador possa utilizar até 20% (vinte por cento) da sua conta do FGTS no Fundo de Infra-estrutura (FI-FGTS).
Pela redução da taxa de juros.
Mais propostas para Bahia:
– Redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as empresas que apresentarem problemas em conseqüência da crise com contrapartida social: garantia do emprego e irredutibilidade do salário.
– Manutenção dos acordos celebrados com os servidores públicos do estado.
– Realização de concurso público.
– Ampliar os investimentos e desburocratizar o acesso ao crédito através do Desenbahia para as pequenas e médias empresas.
– Enfrentar o déficit habitacional com mais projetos de moradia popular.
– Intensificar a execução das obras do PAC previstas para o estado.
– Ampliação dos recursos e implementação de programas de emprego e renda para agricultura: Fortalecimento da Agricultura Familiar, intensificar as linhas de crédito, Programa Luz Para Todos, construção de poços artesianos.
– Mais recursos para manutenção e recuperação das estradas estaduais.
– Disponibilizar para domínio público a relação das empresas que receberam incentivos públicos e seus devidos parâmetros.
– Constituir comitê permanente tripartite de monitoramento e combate a crise.
Salvador, 27 de janeiro de 2009.
Martiniano José Santos Costa Nair Goulart
Presidente da CUT-BA Presidente da Força Sindical – BA
Adilson Gonçalves de Araújo Humberto Froés Moreira
Presidente da CTB – Bahia CGTB – Bahia
José Álvaro França Rios José Ramos Felix da Silva
Presidente da UGT Bahia NCST da Bahia
De Salvador,
Eliane Costa com Agências