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Marcha abre FSM com expectativa de desafiar crise das elites

Telas múltiplas de cores e vozes, somadas num movimento de protesto e celebração. Esse foi o cenário que abrigou a marcha de abertura do Fórum Social Mundial 2009, nesta terça (27), em Belém do Pará. Mais de 80 mil pessoas de 150 países entoaram palavras

(-Veja galeria com 20 fotos ao final da matéria)


 


A concentração da marcha começou no início da tarde, na Praça Pedro Teixeira (Escadinha). A forte chuva que caiu logo na saída do protesto não conseguiu dispersar a multidão. Por quase quatro horas brotaram, das vielas e ruas do centro da cidade, um crescente de alas que compuseram um único manifesto de todas as raças.


 


Rahul Kumar, um dos cerca de 100 indianos inscritos no encontro e presente na marcha, disse ao Vermelho que espera do Fórum de Belém mais que uma carta de intenções. “Ajudei na organização do FSM de Mumbai e este Fórum que acontece aqui já é maior do que o que ocorreu em meu país. Um espaço tão contagiante como esse, que ajudou a Índia a se reconhecer com tantos outros povos, precisa construir ações mais concretas e conjuntas ante a crise que está aí.”


 


A urgência por resultados mais sólidos deste Fórum também foi expressada pela venezuelana Zaida Pérez. “Esta marcha já mostra um FSM com muito mais gente, mais alegre, do que o de Caracas. Isso nos anima, mas também nos desafia. Agora estamos pagando por essa crise do neoliberalismo. Mas como, se sempre lutamos contra ele? Sim, ganhamos a batalha de desmascará-lo, mas só ganharemos a guerra se formos capazes de conquistar uma alternativa socialmente justa a essa crise.”


 


As milhares de faixas que desfilaram no trajeto — que passou pela Av. Presidente Vargas, depois pela Av. Nazaré, chegando só no início da noite à Praça do Operário – repudiaram as guerras do imperialismo dos EUA e o terrorismo genocida de Israel. A irrestrita solidariedade à Palestina esteve amplamente presente em inúmeras bandeiras e canções. Outro país largamente abraçado pelos ativistas foi Cuba. Inúmeros estandartes exigiam o fim do bloqueio e a libertação dos cinco heróis cubanos.


 


“O mundo foi ás ruas e essa pressão foi importante para que o Estado de Israel recuasse na Faixa de Gaza. Mas a paz virá com o reconhecimento de um Estado Palestino. Quanto aos EUA, queremos que Guantânamo seja devolvido a Cuba. Exigimos o fim das invasões ao Iraque e ao Afeganistão, bem como a imediata retirada da Quarta Frota dos mares brasileiros”, afirmou no carro de som, Socorro Gomes, que além de presidente do Conselho Mundial da Paz, também é paraense. 


 


Luta sem fronteiras


 


“Este é o meu primeiro Fórum e também minha primeira visita ao Brasil. Em meu país tudo que se tem feito é lamentar a crise e o aquecimento global, mas aqui há outro clima. Há uma ânsia por se discutir uma alternativa à crise. Há uma grande luta em defesa das florestas. O fantástico é que tudo isso acontece enquanto todo mundo canta. O brasileiro está sempre cantando e eu adoro isso”, relatou a alemã Carolin Grieshop.


 


Muitos ativistas se fantasiaram, antecipando um carnaval de paz e solidariedade entre os povos. Outros foram ainda mais longe, improvisaram alegorias cheias de uma alegria intensa, misturadas a uma dor profunda – típico das sátiras à condição da sobrevivência. Entre elas um Cristo tupiniquim na cruz das bananeiras. A religião, misturada ao som de tambores e atabaques, também mostrou a sua força na terra do Círio de Nazaré.


 


Olhando as ondas humanas que ora se aproximavam, ora se afastavam, uma nova face se fez mais nítida para o movimento dos fóruns. Pela primeira vez, o norte e o nordeste tem a maioria dos inscritos no evento. Isso deu ao encontro, a começar pela sua marcha de abertura, um forte sabor indígena, com uma pitada especial de musicalidade e muito gingado. 


 


Da floresta para a cidade


 


 “As pessoas ainda tem preconceito contra índios, não dão para nós valor. Nossas terras são invadidas por fazendeiros que fazem isso fora da lei. O que eu não entendo é porque muita gente acha grave queimar a floresta, mas não acha o que fazem com o índio. Matar um índio é matar a natureza, nós sempre defendemos a Amazônia”, questionou Kôkôixunti Tembé Parka, paraense nascido na aldeia Gavião Paracatejo.


 


A marcha encerrou abrindo as atividades culturais do Fórum. A estréia do palco começou com um encontro de 380 comunidades indígenas, oriundas de todas as regiões da Pan-Amazônia. As etnias apresentaram músicas e danças tradicionais das etnias brasileiras e de outros países da América Latina. Um índio caiapó cantou o Hino Nacional em sua própria língua.


 


Em seguida, grupos de maracatu subiram ao placo. Canções clássicas do carnaval pernambucano animaram a festa que seguiu noite adentro. Sempre trazendo ao palco, entre uma e outra apresentação latino-americana, um novo ritmo nortista ou nordestino. Cerca de 300 atividades culturais, além de mais de 5 mil oficinas e  aconteceram até 1º de fevereiro, quando se encerrará o FSM 2009.


 


Marcha de Abertura do FSM


 



 


– Veja aqui mais de 150 fotos da marcha de abertura.


 


Fotos: Renata Mielli


 


De Belém,
Carla Santos, com a colaboração de Renata Mielli