Lançamento do 1º Pé na Carreira busca valorizar e divulgar cultura cearense

O lançamento do 1º Pé na Carreira acontecerá hoje, na Praça do Ferreira, com uma grande homenagem ao dia em que o povo cearense vaiou o sol

Iiiiiiieeeeeeeeeeiiiiiiiiiii! Quem não conhece esse grito marmotoso? Seja para humilhar, zombar, brincar, celebrar, incentivar ou intensificar as conseqüências do final de alguma história contada, o grito, identificado por muitos como a “vaia cearense”, tem presença forte entre aqueles que habitam ou possuem algum vínculo com o Estado. Em alusão ao dia em que os cearenses vaiaram o sol, espontaneamente, na Praça do Ferreira, hoje, a partir das 9 horas, haverá uma programação especial no mesmo local, em homenagem ao evento. O dia comemorativo marca o lançamento do 1º Pé na Carreira. Na ocasião haverá o cortejo de tambores com o grupo Clã dos Santos e Caravana Cultural. O personagem tradicional da cultura popular cearense Mateus, do grupo Dona Zefinha, irá recontar a vaia ocorrida em 1942. Às 10h30min, os presentes serão convidados a subir no palco para a reconstituição da grande vaia ao sol.


 


O burburinho em torno da data começou justamente quando o atleta e publicitário Fernando Alípio decidiu propor uma corrida com a cara do Ceará, destacando alguns trejeitos e chamando atenção para o ‘jeito cearense de ser’. “Como eu sempre participo das corridas e das maratonas, eu sempre ouvia: ‘cearense não corre, faz pé na carreira’, aí decidi propor o 1º Pé na Carreira. Como vai ser tudo na cearensidade, a largada seria a nossa vaia”. Iniciada a pesquisa sobre a vaia cearense para encher o portal do 1º Pé na Carreia de informações, Fernando descobriu o fato ocorrido em 30 de janeiro de 1942 e decidiu homenagear a vaia cearense. “Eu tava agora mesmo escolhendo as músicas para colocar lá no dia, Alípio Martins, Eliane, Beto Barbosa”. Para Fernando Alípio, a idéia é fazer do dia 30 de janeiro, um dia de atração turística para a cidade, movimentando artistas de várias áreas. “A nossa vaia é única. A gente quer que as pessoas valorizem a vaia. Por que não ser um patrimônio cultural cearense?”, questiona Fernando. Atualmente, existe uma mobilização entre os organizadores do evento para que a data entre no calendário oficial da Prefeitura de Fortaleza, mas a discussão ainda não foi formalmente encaminhada.


 


Lembrar que o rei das alturas foi vaiado com um grito uníssono é motivo de muita brincadeira, mas institucionalizar o dia da vaia cearense levanta uma discussão pertinente em torno do assunto. Para o pesquisador e teatrólogo Oswald Barroso, herdamos o grito como celebração da cultura indígena, o que teria gerado a nossa possível vaia cearense. “Esse fato sempre foi contado como uma grande brincadeira, como um fato exótico que reforça o jeito cearense. Institucionalizar isso significa exatamente o contrário do que foi a vaia. É levar muito a sério esse negócio. Que besteira! Acho que isso tem que ser uma grande brincadeira e pronto. Isso é antiinstutiucional. Acho que deveria levar uma vaia essa história de institucionalizar a vaia”.


 


Para Francisco Secundo, 29 anos, mestrando em Sociologia da UFC e integrante do Laboratório de estudos e pesquisas sobre o humor e o riso da Unifor, a idéia do cearense moleque, gaiato “por natureza” faz parte do imaginário do nosso povo. “Seríamos todos (ou quase todos) irreverentes, “fuleragens” desde o berço”, explica Secundo. Tal concepção, segundo o pesquisador, foi simbolicamente construída desde o século XIX em obras literárias, pasquins, narrativas e outros textos que falam sobre um Ceará moleque. Ele acredita que a idéia de vaiar o sol ser retomada como forma de caracterizar o ´jeito moleque do cearense’ é polêmica, que pode facilmente ser acusada de estereótipo. “A grosso modo, compreendo que ela tende a carregar consigo uma concepção definível e limitante sobre a cultura cearense. Todavia, é sempre importante darmos atenção a uma memória coletiva, pois isso possibilita a reflexão sobre um sentimento de pertença que nos torna mais apegados e, quem sabe, mais compromissados com a nossa terra e com a nossa gente”, analisa.


 


Serviço



Lançamento do 1º Pé na Carreira e homenagem a vaia cearense – Hoje, a partir das 9 horas, na Praça do Ferreira, com cortejo de tambores o Grupo Clã dos Santos e Caravana Cultural. Enscenação do grupo Dona Zefinha: Foi mais ou menos assim. Acesso gratuito. Info.:9987 7599


 


E-mais


 


> O escritor, pesquisador e professor Gilmar de Carvalho, em reverência ao dia, publicou o livro O Dia em que vaiaram o sol na praça do Ferreira, em 1983.


 


> O grupo Dona Zefinha compôs a música A Vaia, em homenagem a vaia cearense. O grupo é atração de hoje, na Praça do Ferreira.


 


> O jornal O POVO noticiou a vaia ao sol na praça do Ferreira, dia 30 de janeiro de 1942. “Quando o sol, tão bravo nesses últimos dias, ia conseguindo varar as grossas nuvens, lá no alto, num esforço desesperado para aparecer, os alegres circunstantes, olhando para o alto e apontando, começaram uma demonstração estrondosa, vaiando o astro vencido e apagado, naquele momento, num grito uníssono de várias bocas. Mas afinal o velho Rei das alturas venceu, botando todo o corpo vermelho para fora das nuvens e dispersando os vaiadores”.