Os passos de um ritmo centenário

À primeira vista, pode parecer estranho ver um bando de gente com roupas coloridas e de sombrinha na mão, pulando freneticamente de um lado para o outro. Inicialmente, é até complicado tentar acompanhar, mas com um pouco de esforço e vontade de aprender s

Desde janeiro, já é carnaval nas ruas do Recife e Olinda. Blocos e troças realizam prévias daquilo que serão os quatro dias da Folia de Momo. O frevo, como não poderia deixar de ser, é o carro chefe de toda esta festa. Se não fosse o bastante, ele ainda tem um dia só para ele, o 9 de fevereiro.


 


Para comemorar a data, acontece hoje, no bairro do Recife Antigo, o arrastão do frevo. Comandados pelo maestro forró e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, uma multidão irá percorrer as ruas do bairro pulando e cantando ao som deste ritmo que representa Pernambuco no Brasil e no mundo.


 


“Esse povo parece que tá frevendo”
Na edição do dia 9 de fevereiro de 1907, do periódico recifense Jornal Pequeno, uma matéria colocava, pela primeira vez, no papel a palavra “frevo”. Desde então, essa data passou a ser conhecida como o Dia do Frevo.


 


O ritmo deriva de uma mistura entre a marcha, o maxixe e passos de capoeira. Entre os séculos 19 e 20, quando as pessoas já brincavam o carnaval na rua, era grande a rivalidade entre blocos. Para proteger o grupo, os músicos colocavam na linha de frente capoeiristas armados de sombrinhas.


 


Com o passar dos anos, as diferenças foram diminuindo e as divergências colocadas de lado. Mas, os passos da capoeira que se moldavam ao ritmo da música e a sombrinha que também servia para dar equilíbrio, se incorporaram ao gosto popular.


 


Era tão engraçado observar aqueles movimentos do cai, mas não cai que as pessoas de fora comentavam: “Esse povo parece que tá frevendo (fervendo)”. Daí, a “frever” e até chegar ao substantivo “frevo”, foi um pulo.


 


Músicos se dedicaram a produzir novas canções. Verdadeiras jóias do carnaval. Entre os compositores que mais contribuíram para o frevo pernambucano destacam-se Capiba, Edgard Moraes e Nelson Ferreira. Todos eles com músicas conhecidíssimas dos foliões de carteirinha. É só tocar, por exemplo, os primeiros acordes de “Madeira que cupim não rói” (Capiba) e o público trata de conduzir o resto.


 


O que ouvir…
É possível ouvir frevo na voz de diversos cantores, mesmo não estando em Pernambuco. Porém, podemos incluir no hall de divulgadores do frevo o cantor Claudionor Germano. Ele é o interprete que mais gravou músicas de Capiba, são mais de 100.


 


O frevo está tão arraigado na veia do pernambucano que, além do Claudionor Germano, temos também cantores e compositores da nova geração se dedicando ao ritmo. Nomes como Almir Rouche, Silvério Pessoa e, mais recentemente, o maestro Spok têm se destacado com o frevo.


 


Antevendo as comemorações do centenário do frevo, ocorrido em 2007, o multiartista Antônio Carlos Nóbrega lançou os CDs “9 de Frevereiro – Vols. 1 e 2”. Os CDs são recheados de novas e antigas canções que não deixam ninguém ficar parado. Vale a pena ouvir!


 


O que ler…
Diversos livros já foram escritos para falar sobre o frevo e sua história, mas como disse o jornalista pernambucano José Teles, “pouco se falou sobre os seus mestres como Capiba ou Edgard Moraes”. Ele mesmo é autor de livros como “Do frevo ao manguebeat” e “Siri na lata – 30 anos de folia, anarquia e negócios”.


 


Além desses, é bom ler também “Olinda, 100 anos de frevo”, de Weydson Barros Leal; “100 anos de frevo”, de Renato Phaelante; ou ainda, “Frevo – 100 anos de folia”, de Camilo Cassoli. Todos eles, ajudam a compreender bem este belo ritmo e não deixa você por fora do assunto quando for curtir o carnaval nas ladeiras de Olinda ou nas ruas do Recife.


 


Do Recife,
Daniel Vilarouca