Violência em Natal migra da Zona Oeste para a Norte

Um levantamento feito pela Coordenadoria de Direitos Humanos e Defesa das Minorias mostra o quanto a escalada dos homicídios se torna preocupante a cada dia, principalmente em Natal e na Grande Natal.

O coordenador de Direitos Humanos e Defesa das Minorias, Marcos Dionísio, vê que nos últimos quatro anos, a violência “migrou” da zona Oeste para a zona Norte de Natal e também alcançou cidades da Grande Natal como Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante. “Prova disso é que das nove cidades que compõem a Região Metropolitana de Natal, seis tiveram elevação no número de homicídios desde 2004”, disse.



Em números, 2004 registrou 304 homicídios enquanto 2008 foram 500. Na avaliação do coordenador,  esse número “mostra um processo de exclusão sócio-econômica”. “Senão vejamos, a concentração de renda é grande na região metropolitana de Natal e isso faz com que as pessoas sem tantas condições sejam 'empurradas' para zonas mais afastadas. Em contrapartida, nas outras cidades da Grande Natal, pode acontecer esse processo. No final das contas, essa pessoa vai ficar 'imprensada' em determinadas zonas”, comentou.



Ainda de acordo com Marcos Dionísio, isso fragiliza as pessoas e elas se tornam “presa fácil” para o crime organizado. “O tráfico de drogas leva à dependência e à prática do furto para sustentar o vício, principalmente o crack”, explicou. Ele vê que os jovens sem emprego e sem perspectiva de futuro “vêem na dependência um momento de satisfação”. Outro aspecto levantado é o fato que “quando o jovem se associa (ao tráfico), ele é respeitado pelo temor”. “Isso faz ele ganhar visibilidade na localidade onde mora”, disse o coordenador.



Isso remete a outro ponto do estudo: o aumento de homicídios com o uso de armas de fogo. “Dos 319 assassinatos ocorridos em Natal ano passado, 271 foram com arma de fogo. Isso representa 85,8% do total”, informou.



Segundo o coordenador, a facilidade que, em especial, o jovem tem acesso a uma arma de fogo associada ao consumo de drogas e álcool formam a “mistura explosiva” que a cada ano vai tirando a vida de muitos, principalmente nesses locais onde há maior incidência da violência. “É bom que não 'satanizemos' o crack e esqueçamos o álcool”, alertou.



Outro valor revelado dentro do estudo é com relação aos jovens mortos. “61% dos homicídios tem pessoas até 30 anos como vítimas”, declarou.



Dentro do levantamento, nos dez bairros com maior número de homicídios ano passado, 73 assassinatos vitimaram jovens na faixa etária de 16 a 20 anos.



O coordenador desse levantamento vê esses três pontos (migração da violência, mortes por armas de fogo e faixa etária das vítimas) como alicerces do estudo. “São três aspectos muito importantes para se pensar em um trabalho preventivo”, comentou.



Estudo mostra distribuição dos homicídios nos bairros



Marcos Dionísio afirma que “o processo de concentração dos homicídios está em alguns bairros de Natal”. De acordo com o estudo feito, dos dez bairros com maior número de mortes, cinco estão na zona Norte, três na zona Oeste e dois na zona Leste.



Para ele, se sabem onde acontecem os crimes é possível fazer um esforço concentrado para “recuar” os crimes nessas localidades. “É necessário um trabalho de inteligência e levantar as organizações criminosas, suas atividades, identificar as quadrilhas e o modo como agem”,  frisou ele.



Na opinião do coordenador, o poder público precisa se fazer presente além do trabalho ostensivo da polícia. “A falta de políticas públicas contribui para que nessas localidades haja 'explosão' do crime”, criticou.



Como questões de política pública, Marcos Dionísio citou que “em muitos desses lugares a pavimentação inexiste, não há iluminação pública e também o problema da regularização fundiária”. “Há outra questão como as escolas e os postos de saúde, que precisam de funcionamento com capacidade para atender a demanda no quesito da dependência química”, completou.



Com relação aos dependentes químicos (álcool ou drogas), Marcos Dionísio afirma que “há grande quantidade de jovens querendo largar a dependência”. “A meu ver, falta orientação e acompanhamento médico, psíquico e social aos que precisam”, declarou.



Mortes em janeiro não surpreendem



A onda de assassinatos ocorridos em janeiro passado também preocupa o coordenador de Direitos Humanos e Defesa das Minorias. Para Marcos Dionísio, janeiro teve uma “continuidade de mortes”. “Pelo que me informei foram 50 homicídios no mês passado”, comentou. Ele vê essa estatística no primeiro mês do ano como “preocupante, mas não surpreende”. “O processo (de violência) está se reproduzindo”.



Para Marcos Dionísio, a impunidade é o “grande fator estimulante para essa “guerra civil na periferia”. O coordenador alerta que “não se deve generalizar os crimes”. ” Segundo  ele, não se pode “deixar de observar que os grupos de extermínio retirados de circulação ainda têm força.


Reportagem de David Freire retirada do Tribuna do Norte