Bahia: A Mudança do Garcia leva irreverência ao carnaval de Salvador

A Mudança do Garcia entrou na avenida por volta das 15h desta segunda-feira. À frente do bloco, vêm cerca de 30 cavalos, além de um jegue puxando uma carroça com cartazes que contêm críticas a políticos e governantes. Protestos contra a violência, o desmatamento da Amazônia e a desigualdade social dividem espaço com elogios a personalidades nacionais e internacionais, como o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos da América, Barack Obama.

 

Famosos e anônimos se encontram durante o desfile da Mudança do Garcia. Apesar de serem os principais alvos dos protestos, muitos políticos não abrem mão de acompanhar o bloco. O governador da Bahia, Jaques Wagner e o prefeito de Salvador, João Henrique, foram as figuras mais lembradas nas faixas e cartazes. “João, João, João. O folião também é cidadão. Quer saúde, remédio e educação”, dizia uma das faixas, numa clara referência à infeliz declaração do prefeito de que usaria o dinheiro da merenda escolar e do remédio para financiar o carnaval.

 

Os trabalhadores também levam suas reivindicações para a avenida. “Os ricos que paguem pela crise”, por exemplo, foi o tema levado para a avenida pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). O protesto é contra as milhares de demissões que estão acontecendo em todo o país em conseqüência da crise financeira internacional. A Central Única dos Trabalhadores também participou da Mudança.

 

Origem 

 

A Mudança do Garcia leva o nome do bairro onde o movimento de protestos teve início, na década de 40. Ninguém sabe afirmar com certeza como o bloco começou. A história mais conhecida é de que uma prostituta hostilizada pelos vizinhos do bairro resolveu se mudar do local. Porém escolheu a segunda-feira de carnaval para realizar a mudança. Ela vestiu sua melhor roupa, alugou uma carroça muito bem enfeitada e  partiu com seus pertences pela rua principal do bairro Fazenda Garcia, bem perto do Centro de Salvador, despertando a atenção de moradores e foliões que se preparavam para curtir o Carnaval. Esse fato, com os devidos acréscimos dados ao longo da historia, é uma das origens possíveis da Mudança, que se transformou em uma das mais tradicionais manifestações populares do carnaval de Salvador.

 

 Dois milhões de foliões

 

O carnaval em Salvador começou oficialmente na quinta-feira (19/2), com a entrega da chave da cidade ao Rei Momo, o cantor e compositor Gerônimo, que foi eleito via voto direto pela Internet. Enquanto o governador Jaques Wagner e o prefeito João Henrique participavam da solenidade de abertura em Periperi, no Subúrbio Ferroviário, a Lavagem do Beco das Quebranças dava a largada ao carnaval, no Centro, e os blocos alternativos desfilavam na Barra. Até a quarta-feira de cinzas, 110 trios elétricos farão a alegria de dois milhões de foliões, sendo 400 mil turistas.

 

Na solenidade de abertura da festa, o prefeito João Henrique pediu desculpas ao povo de Salvador por ter afirmado que usaria dinheiro da merenda e da compra de remédios para pagar os gastos do carnaval. “Foi uma força de expressão”, justificou o prefeito. A declaração, feita em uma entrevista à Agência Brasil na semana passada, foi duramente criticada por diversos segmentos da sociedade e rendeu dois requerimentos para que o Ministério Público investigue o caso. O palanque oficial contou também com as presenças do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e do governador Jaques Wagner.

 

 

De Salvador,

Eliane Costa