Demissões na Embraer: sindicalistas cobram mais ação de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quarta-feira (4), no Palácio do Planalto, sindicalistas e trabalhadores que foram até Brasília, em caravana, para pedir que o governo impeça as 4.270 demissões feitas pela Empresa Brasileira de Aeronáut
Publicado 04/03/2009 19:44
A reunião — que começou às 13h30 e durou cerca de uma hora — contou com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas, ligada ao PSTU), além de quatro dos trabalhadores demitidos. Também participaram o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, e o deputado federal Ivan Valente (PSOL).
O presidente do sindicato, Adilson dos Santos, o Índio, reafirmou as posições defendidas pela entidade, como readmissão dos trabalhadores, reestatização da Embraer e redução da jornada de trabalho sem redução de salário. “Esperamos que, com a interferência do presidente Lula, a Embraer abra negociação para que as demissões possam ser revertidas”, afirma. “Existe um apelo de toda a sociedade para que a empresa readmita os trabalhadores. Se isto não ocorrer, vamos continuar nossa campanha de mobilizações em defesa do emprego.”
“Ele (Lula) disse que vai ligar ainda hoje para a empresa e pedir para ela negociar com o sindicato”, disse Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral da entidade e coordenador da Conlutas. Em entrevista logo após o encontro, Mancha contou ter dito a Lula que as demissões poderiam ter sido evitadas e que a empresa está capitalizada. Foram apresentados ao presidente números que mostram que a Embraer aumentará a produção de aeronaves, passando de 204 em 2008 para 242 neste ano.
De acordo com assessores da Presidência da República, Lula disse que vai checar esses números, já que a direção da Embraer afirmou que as demissões foram motivadas pelo cancelamento de encomendas. O presidente se mostrou preocupado com a aviação regional, conforme relato de sindicalistas. Ele teria mencionado a possibilidade de a Força Aérea Brasileira adquirir um tipo de aeronave da Embraer para substituir o modelo Hércules, que é usado atualmente.
Segundo o sindicato, a Embraer possui a maior jornada de trabalho entre as indústrias aeronáuticas em todo o mundo, com 43 horas semanais. A entidade defende a redução para 40 horas. A empresa é também a indústria com um dos menores salários do setor (3,7 dólares/hora), ocupando a 15ª posição em relação a outros países. É menor, ainda, que o salário médio pago pelas montadoras.
Manifestação
Antes do encontro com Lula, os sindicalistas participaram na Esplanada dos Ministérios de uma caravana com cerca de cem dos trabalhadores demitidos. Durante a manifestação, Adilson dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, cobrou do governo que não fique “apenas no discurso” e tome providências quanto ao corte de 20% no quadro de funcionários anunciado pela Embraer.
“A empresa pegou R$ 8 bilhões e, em contrapartida, estamos vendo demissões. É um caos — precisamos que o presidente reverta isso”, disse Adilson. “O governo não pode ficar só no discurso, tem que agir. Queremos que o Lula, de fato, olhe para os trabalhadores porque, até agora, vimos dinheiro apenas para banqueiros e empresas.”
O presidente do sindicato lembrou que, até as 9 horas desta quinta-feira (5), as demissões estão suspensas, por decisão do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas (SP). Foi uma resposta à ação movida por entidades sindicais argumentando que a Embraer ignorou os sindicatos e não estabeleceu nenhum tipo de negociação antes de oficializar a demissão em massa.
Adilson alertou, no entanto, que a empresa dá sinais de que o corte será mantido. “A Embraer aplicou dinheiro em ações derivativas e perdeu. É isso que significa esse corte de 20%. Esse dinheiro público serviu para especular e o trabalhador paga a conta. Está na hora de o governo agir.” Os trabalhadores, agora, vão apresentar propostas como redução de jornada de trabalho em vez de demissões.
Durante a manifestação, o deputado Ivan Valente (Psol-SP) propôs a realização de uma audiência pública na Comissão do Trabalho da Câmara, para que sindicatos e a própria empresa possam debater a situação dos funcionários. À tarde, a caravana foi recebida pelo próprio presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP).
Temer disse que a Câmara se solidariza com a luta dos demitidos da Embraer e que também fará um apelo pedindo a manutenção dos empregos e a abertura de negociação entre a empresa e o sindicato. O parlamentar se comprometeu a enviar ainda nesta quarta um telegrama para a direção da Embraer comunicando a posição da Câmara dos Deputados.
A caravana de trabalhadores demitidos da Embraer, organizada pelo sindicato dos Metalúrgicos e pela Conlutas, permaneceu em Brasília para outras reuniões com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e com o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS). Após passar por Brasília, o grupo segue rumo a Campinas, no interior de São Paulo, para acompanhar uma audiência de conciliação entre a Embraer e os sindicatos, no Tribunal Regional do Trabalho.
Da Redação, com informações da Agência Brasil e do
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região