Nova regra de sindicalização divide os EUA
O trabalho organizado está tentando vincular sua maior prioridade legislativa aos planos de recuperação econômica do presidente americano Barack Obama, ao mesmo tempo em que os sindicatos tentam superar a intensa oposição dos empresários à propost
Publicado 04/03/2009 15:25
Os trabalhadores dizem que uma lei federal que simplificasse a sindicalização, tentada há anos pelos sindicatos, estimularia a economia com o aumento dos salários. O tema é similar ao mencionado por Obama, que tem dito que “a fortaleza da nossa economia pode ser medida pelo poder da nossa classe média”. Embora as empresas concordem que a maior filiação aumentaria os salários, elas discordam da ideia de que beneficiariam a economia. O argumento é o de que o peso de salários sobre os empregadores limitaria a atividade econômica, especialmente nas circunstâncias atuais.
Nos EUA, a sindicalização não é automática, como no Brasil. Cada empresa pode exigir que a possibilidade de um sindicato representar seus trabalhadores seja posta em votação, na qual é preciso que mais de 50% dos empregados votem pela sindicalização para que todos no local de trabalho, exceto gerentes, sejam representados.
A Lei de Livre Escolha dos Trabalhadores tornaria mais fácil para os sindicatos recrutar filiados porque lhes permitiria a filiação com a simples assinatura de fichas, em vez do processo de votações secretas que permite às empresas fazer campanha contra a sindicalização.
Parlamentares do Partido Democrata, de Obama, preparam a apresentação de uma versão da lei no Congresso. Enquanto isso, políticos republicanos apresentaram medida oposta no Senado e na Câmara, exigindo a escolha por voto secreto dos trabalhadores. O debate sobre o impacto econômico da medida está aquecido, com munições de ambos os lados.
Quase 40 economistas, inclusive dois ganhadores do prêmio Nobel, assinaram uma carta encaminhada na sexta ao Congresso argumentando que a lei é “passo fundamentalmente importante para a reconstrução da nossa economia e o fortalecimento de nossa democracia, ao realçar a voz dos trabalhadores nos locais de trabalho”.
Frank Levy, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que subscreveu a carta, disse que os trabalhadores precisam ter maior poder de barganha para se beneficiar dos ganhos de produtividade que os empregadores deixaram de transferir, ao não aumentar os salários. Numa conferência do Instituto de Política Econômica, entidade de pesquisa que recebe recursos de sindicatos, ele afirmou que entre 1990 e 2007 a produção do trabalho aumentou 45%, mas a remuneração para um homem de 40 anos, com educação de nível médio, continuou igual.
Richard Freeman, de Harvard, disse que os sindicatos proporcionam estabilidade à economia com a oferta de pensões, planos de saúde e maiores salários, “mesmo que alguns empregadores específicos digam que isso reduz o lucro”.
Outros economistas são menos inflamados. Anne Layne-Farrar, da consultoria LECG, prevê que um aumento de 3% nas filiações a sindicatos geraria uma alta de 1% na taxa de desemprego. “No clima recessivo, é difícil engolir esse tipo de perda de empregos”, disse ela.
James Sherk, da Fundação Heritage, grupo de estudos econômicos de tendência conservadora, informou que divulgará estudo sobre o impacto da lei baseado em análise de pesquisas econômicas. “A maioria dos economistas concorda que é possível notar efeito nos salários, mas se verá menos investimentos, emprego e economia menos robusta, em termos gerais”.