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Mídia: perder o 'negócio' para salvar a notícia?

O New York Times está perdendo milhões e ameaçando fechar o Boston Globe. O Washington Post vive dos lucros de um negócio conexo, uma empresa de tstes educacionais. Os dois jornais de Chicago pediram falência, juntament

A crise vem de longe. Lembro de mim sentado no escritório de Ben Bradlee, quase vinte anos atrás, ouvindo o legendário editor lamentar que era impossível arranjar jovens para seu jornal. E isso antes de ouvirmos falar da internet, muito menos da Craigslist (uma rede virtual centralizada).

Vinte anos é muito tempo para se assistir o seu ramo de negócio morrer. Acreditar na ideia de que, no meio da mania de cortes que está varrendo o setor, será possível tropeçar em uma nova fonte de lucro capaz de manter o tamanho das operações de coleta e difusão de notícias como tivemos no passado é o mesmo que confiar na intervenção divina.

O que falta não é nem a necessidade de jornais, nem a procura dos serviços que eles prestam. Falta é uma forma de fazer dinheiro a partir delas.

Lembre-se: a leitura está crescendo. O New York Times goza de muito mais leitores regulares na web do que jamais teve no papel.

Mas as coisas verdadeiramente importantes da imprensa – aquelas que levaram os fundadores do nosso país a escrever a Primeira Emenda, que ajudaram a revelar os crimes de Lyndon Johnson, Richard Nixon, Ronald Reagan, George W. Bush, etc – são justo mais onerosas e menos lucrativas. Se  confiarmos estritamente no mercado para segura-las, vamos privar nossa sociedade de sua mais importante fonte de informação independente e responsabilidade.

''Oh, para ser um funcionário estadual ou local nos EUA [sem jornais]! Divertir-se livremente pela devastação de uma cidade americana, como  político local! Eisum dos grandes sonhos da história americana de corrupção!'', comentou recentemente David Simon, empresário do The Wire para o Guardian.

Alguns são mais esperançosos. Michael Kinsley escreve, ''Você está dizendo que as pessoas devem ter essa informação queiram ou não. Esse é um discurso pouco atraente: empurrar informações pela goela das pessoas em nome da democracia.''

Bem, sim, estou dizendo isso. Jornais têm, tradicionalmente, fornecido uma saudável combinação de ''pudim'' com o ''espinafre'' de que uma democracia necessita, e  continua a ser uma questão aberta se o nosso sistema político pode sobreviver, menos ainda prosperar, só com o pudim.

Uma vez que as subvenções diretas permanecem um anátema tanto para os hipotéticos subsidiados como para os os subsiadiadores, a resposta óbvia seria os proprietários de jornais converterem suas propriedades em instituições sem fins lucrativos. Este seria um rude golpe para a auto-imagem dos proprietários e editores de jornais: a condição de entidade sem fins lucrativos iria privá-los de uma suas atividades favoritas, os endossos editoriais [NT: nos EUA o apoio da imprensa a um candidato costuma ser explícito]. Nada faz com que o sumo interior de um jornal flua como uma reunião com um candidato presidencial ou senatorial rendendo homenagem a sua sabedoria e poder. E nada exercita uma equipe editorial como uma boa luta sobre quem, ou o quê, há de obter sua aprovação.

O problema é que ninguém se importa. Era uma vez, quando jornais eram a única fonte de informações detalhadas sobre quase tudo, e realmente se podia dizer que representavam as comunidades a quem serviam,e neste particular a dança kabuki pode ter feito algum sentido. Hoje, porém, com tão poucas  pessoas assinando seus jornais locais, e de tantas fontes de informação disponíveis, o endosso editorial tornou-se um quase total anacronismo. (Essa vai para as revistas, como esta, The Nation).

O estudioso de jornalismo Kathleen Hall Jamieson analisou a questão e, em 2004, disse a Tim Porter, da Journalism Review: ''O efeito direto dos editoriais não parece ser suficientemente significativo para ser encontrado …. ''

Isto era verdade, segundo Jamieson, entre muitos outros entrevistados por Porter, no quer toca a eleições regionais onde a maioria nunca tinha ouvido falar dos candidatos. ''Muitos americanos em 1996 não tinham ideia de qual candidato presidencial o seu jornal apoiava, e muitos mais tinham a ideia errada'', explicou Jamieson. ''A julgar a partir das respostas, muitas pessoas conjecturavam''.

Os editores e editorialistas tendem a se refugiar em argumentos sobre ''a conversa'', forjando ''a comunidade'' e falando dos mais profundos  princípios dos jornais. Isto, também, é um disparate. Como Will Bunch argumentou convincentemente durante a a eleição presidencial do ano passado, dado que a maioria dos jornais aprovaram ou Hillary Clinton ou Barack Obama nas primárias democratas e John McCain na corrida republicana, não se pode dizer que eles tenham princípios tão profundos, já que esses candidatos tinham posições diametralmente opostas sobre quase tudo, da invasão do Iraque ao direito de aborto, títulos escolares, armas de assalto, universalização da saúde e assim por diante.

O que os endossos fazem, porém, é convencer os leitores de que a notícia que recebe vem colorida pelo viés expresso na página editorial. A noção de que estas duas são separadas e independentes entre si tem, em grande medida, ainda de penetrar no público, para além das classes de jornalismo. O resultado líquido, no mundo real, é que jornais costumam se curvar para agradar os conservadores, a fim de demonstrar que seuis endossos dos democratas não tinge sua cobertura

O senador Benjamin L. Cardin introduziu recentemente a Lei da Revitalização dos Jornais exatamente para facilitar esta transição. A lei permitirá que as receitas publicitárias e com assinaturas a tornem-se isentas de impostos, e permitindo fazer doações para apoiar cobertura, em operações que permitem dedução fiscal. É triste dizer, mas pode ser a nossa última e melhor chance …

* Professor de jornalismo na CUNY Graduate School of ; fonte: http://www.thenation.com