O drama das ossadas de Araguaia

A família de Bergson Gurjão Farias aguarda o momento do sepultá-lo com dignidade. É o mínimo que pode pedir depois de 37 anos de angústia e sofrimento. O tema foi abordado no Editorial do Jornal O Povo deste domingo (17).

Às vésperas da comemoração do trigésimo aniversário da Lei da Anistia, o País depara-se com uma questão urgente: a identificação das ossadas dos guerrilheiros mortos na Guerrilha do Araguaia, principalmente a de Bergson Gurjão Farias, guerrilheiro cearense morto em combate em 1972, objeto de pareceres contraditórios da parte dos peritos. Não se compreende porque, até agora, com o desenvolvimento de métodos científicos dos mais sofisticados, ainda não se tenha chegado a uma definição concreta a respeito do assunto.


 


Recapitulemos o caso de Bergson Gurjão. Em 1996, numa expedição à região do Araguaia, foram descobertos, no cemitério de Xambioá, restos mortais que poderiam pertencer ao guerrilheiro desaparecido em 1972. De acordo com análise antropométrica realizada na ocasião pelo laboratório argentino que acompanhou a expedição, os ossos seriam de homem, caucasiano, entre 25 e 33 anos de idade, com altura entre 1,75 e 1,83 metro. Os restos mortais foram denominados de “X-2”. As características da ossada coincidem com as de Bergson Gurjão Farias.


 


De acordo com recomendações da equipe de antropologia, analisaram o DNA desses ossos e eles foram comparados com o DNA de membros das famílias dos desaparecidos do Araguaia que correspondiam à descrição. Entre 2004 e 2005, o Servicio de Huellas Digitales Genéticas da Universidade de Buenos Aires, considerado o mais importante núcleo em análise genética de desaparecidos políticos argentinos, emitiu pareceres conclusivos negativos. Pela conclusão, “X-2” não seria de João Carlos Haas Sobrinho nem Bergson Gurjão Farias nem de outros seis guerrilheiros que se enquadravam na descrição.


 


Surgiram depois mais novidades que deram reviravolta no caso. Atendendo a pedido da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, o relatório antropológico de 1996 foi submetido a estudo recente. O parecer, divulgado na última semana pelo perito Domingos Toccheto, reforça a possibilidade de que a ossada “X-2” pertença a Bergson Gurjão Farias. Recomendou-se novas análises, inclusive exame de DNA.


 


Na quinta-feira, o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos no Brasil, divulgou nota sobre o assunto e informou que essas novas análises serão realizadas. A família de Bergson Gurjão Farias aguarda o momento de sepultá-lo com dignidade. É o mínimo que pode pedir depois de 37 anos de angústia e sofrimento.