Produtores do Cariri apontam perdas de 80% na safra

As chuvas de abril prejudicaram a lavoura. Legumes e milho apodreceram. A perda do feijão é total

A perda agrícola no Cariri é muito maior do que a esperada. Os trabalhadores rurais da região, durante a 17ª Celebração da Colheita, disseram que a perda do feijão é quase total. O excesso de chuvas impediu a colheita. O legume terminou apodrecendo na roça. O milho, que é mais resistente, também foi prejudicado com as chuvas de abril que atingiram mais de 800 milímetros. “A queda na safra será de 80%”, disse o delegado regional da Federação dos Trabalhadores do Estado do Ceará (Fetraece), Francisco Alves.


 


Os prejuízos foram confirmados pelos presidentes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Santana do Cariri e Nova Olinda, Valdir Bráulio e José Simão Sobrinho, respectivamente. Eles falaram em nome de mais de 20 sindicatos rurais da região. Até mesmo o arroz, que se adapta melhor às chuvas, vai sofrer uma queda de 60%. Pelo menos é o que prevêem os sindicalistas.


 


Os trabalhadores não perderam a esperança. A Celebração da Colheita, realizada em Santana do Cariri, reuniu cerca de 1.000 trabalhadores da região. “O número de manifestantes só não foi maior porque a estrada entre as cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri estava praticamente intransitável”, afirmou o padre Adalmiran Vasconcelos, vigário de Santana, ao mesmo tempo em que fez um apelo para que, no próximo ano, a rodovia esteja recuperada nos trechos.


 


O pouco que foi colhido ainda sobrou para a celebração. Cada um dos trabalhadores levou um quilo de alimento que foi depositado ao pé do altar no momento do ofertório. Antônio Dutra Santana veio do Sítio Tabocas, município de Nova Olinda, trazendo um quilo de feijão comprado na bodega porque, este ano, segundo afirmou, não deu para colher nada.


 


O pequeno produtor Otacílio Fernandes da Silva que, todos os anos trazia o pé de milho verde para a manifestação, veio de mãos abanando. “Este ano, eu vou oferecer reza”.


 


“Os alimentos arrecadados na Celebração serão destinados ao Seminário São José do Crato, para ajudar na manutenção dos seminaristas”, garantiu o padre Vileci Vidal, vigário forâneo e representante da Comissão Pastoral da Terra, uma das entidades promotoras da manifestação popular.


 


“Mesmo diante das dificuldades, o agricultor tem o que comemorar”, justifica o padre Vileci, acrescentando que o pouco que foi colhido é fruto do trabalho honesto do agricultor. A celebração, segundo o vigário, é uma afirmação da identidade camponesa. “Para o trabalhador, comer o que produz, é fartura”, disse.