Gutemberg Dias: O que há por trás da privatização da Caern

Nos últimos dias venho acompanhando nos jornais mossoroenses que uma plêiade de personalidades está pedindo a privatização da CAERN – Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte em função da falta de qualidade do serviço ofertado aos usuários em Mossoró. Esse grupo, em sua maioria, é composto pelos vereadores da nossa cidade e, mais recentemente, pelo Deputado Estadual Leonardo Nogueira, ou seja, aparentemente esse sentimento parte do grupo da Prefeita Fátima Rosado (DEM).

Caern

A CAERN já esteve preste a ser privatizada no governo de Garibaldi Alves, quando o Brasil e os estados impulsionados pelo projeto neoliberal do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, dilapidaram o patrimônio público. Porém, graças a articulação da sociedade civil organizada e ajuntamentos políticos contrários ao processo de privatização das estatais a CAERN continua no poder do estado do Rio Grande do Norte.

A governadora Wilma de Faria quando da reeleição afirmou em frente a CAERN que não iria privatizar a empresa, pois considerava patrimônio do povo e disse que o que a imprensa estava fazendo era orquestrado pela oposição que queria desestabiliza-la. Essa atitude da governadora, na ocasião, forçou o então governador de férias, Garibaldi Alves, a afirmar que iria usar a CAERN para implantar o maior programa de saneamento que o estado iria ver. É, ano de eleição parece que até cego volta a enxergar!

E hoje o que leva a oposição a querer novamente a privatização da CAERN? Será que é só o serviço ruim prestado aos usuários? Será que já são arroubos visualizando as eleições de 2010? O que será?

A análise que faço é que o problema da qualidade do serviço é fachada para usar a CAERN como peça política no tabuleiro montado para 2010. Ora, a própria prefeitura de Mossoró a dois anos renovou o contrato de concessão com a concessionária de água por mais 20 anos e nós sabemos que os serviços ofertados pela companhia eram idênticos aos prestados atualmente. Desde muito tempo que a população reclama dos serviços, principalmente, pela sazonalidade do abastecimento.

Dizer que a CAERN é uma empresa padrão, não sou louco em afirmar, pois pude acompanhar os serviços ofertados pela CAERN junto à população de Natal e sei das dificuldades dessa empresa em honrar os compromissos assumidos por lei quanto ao abastecimento. Mas, dizer que ela não tem jeito e a solução seria a privatização estaria incorrendo num erro absurdo.

Fazendo uma análise do ponto de vista técnico o principal problema da empresa está na falta de investimentos na área técnica que é onde se concentra o foco dos serviços da empresa. Para se ter uma idéia a CAERN não conhece a sua própria rede de distribuição, quem conhece são os funcionários que a operam, ou seja, o que quero dizer com isso é que a rede não se encontra cartografada.

Sendo assim, em vez de se pedir a privatização de mais um bem público, esse grupo deveria pedir maiores investimentos na empresa e, sobretudo, pedir que não haja interferências políticas no quadro técnico. Mas, é sabido por todos nós, que basta uma nova administração para que a CAERN seja povoada por inúmeras figuras, por vezes, desconhecedoras do objetivo da empresa.

Diante disso sou contra a privatização da CAERN e advogo que a saída para ela é uma reestruturação técnica e administrativa e, sobretudo, a erradicação da politicagem no corpo técnico diretivo.

por Gutemberg Dias, geógrafo e Presidente do Comitê Municipal do PCdoB em Mossoró