Gutemberg Dias: Rodolfo Fernandes – O verdadeiro herói de Mossoró

O espetáculo “Chuva de Balas no País de Mossoró” que vem sendo exibido no Mossoró Cidade Junina e conta a saga da invasão de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, me fez analisar que o verdadeiro herói de Mossoró se chama Coronel Rodolfo Fern

Na época da invasão ou assalto do bando de Lampião a Mossoró o Coronel Rodolfo Fernandes era o prefeito. Na ocasião ele conseguiu arregimentar e, sobretudo, motivar uma grande quantidade de cidadãos e montar a defesa da cidade. Sob seu comando, esse grupo ficou à espera do bando e na seqüência da luta conseguiu expulsar os invasores, tendo a principal batalha ocorrida na área circunvizinha à igreja de São Vicente e da casa do prefeito, hoje Palácio da Resistência.


 


Desde 2002, tenho o privilégio de assistir à peça, só que, nos anos anteriores, sempre me identificava mais com a figura do cangaceiro, que representava os oprimidos. Esse ano, no entanto, fiquei mais impressionado com a força e o poder de aglutinação do Coronel Rodolfo Fernandes e, de como a história contada exalta a figura do então prefeito. Chamou-me a atenção, à luz de uma análise mais crítica, que a história contada e apresentada ao povo no resto do ano não é a mesma do espetáculo.


 


Vocês podem me perguntar por que não, se essa é a grande história de Mossoró? Vejam bem, durante o interregno do espetáculo somos bombardeados com a figura do anti-herói, ou seja, quem é o dono da história não é o Coronel Rodolfo Fernandes, mas o cangaceiro Lampião. Será que isso tem algum significado? Será que querem encobrir, de alguma forma a figura do “Coroné”, como diziam à época? Que grupo tem interesse no processo de ofuscamento da imagem da principal figura da resistência? São perguntas que precisam de respostas.


 


Visitando o memorial da resistência, observo que, na realidade, a resistência ficou em segundo plano, haja vista que as grandes estrelas são Lampião, Maria Bonita, que nem participou da invasão, e seu bando. Os verdadeiros heróis da resistência e, principalmente, o grande mentor, o Fernandes valente que enfrentou até Lampião, foram relegados a um canto, para não dizer “cantinho”. Os nossos heróis aparecem em fotos que, comparadas às do bando de Lampião, mais parecem 3 x 4. 


 


Levantei a questão com minha esposa e começamos a assinalar as homenagens feitas aos heróis e, principalmente, ao Coronel Rodolfo Fernandes. Esse foi homenageado dando nome aos dois centros de poder político do município, a sede da prefeitura que se chama Palácio Rodolfo Fernandes, mas naturalmente e comumente chamado Palácio da Resistência e ao prédio que abriga a Câmara Municipal de Mossoró, que poucos sabem que homenageia o prefeito.


 


Não ficamos satisfeitos com as poucas homenagens e começamos a fazer um comparativo com uma figura que não tem tanto heroísmo para com o município, o Sr. Jerônimo Rosado, que dá nome a rua, escola, praça, adutora, e outras obras mais, sem falar de sua prole. Ou seja, o verdadeiro herói da resistência, Coronel Rodolfo Fernandes, que deveria ser o grande homenageado foi proposital e deliberadamente ofuscado por seu opositor político, o quase sem expressão, à época, Jerônimo Rosado.


 


Se alguém quiser entender mais o porquê desse processo de ofuscamento pode buscar informação sobre a historia da invasão de Mossoró no endereço: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/1980410:Topic:66996 ou conversar com aqueles que realmente são os verdadeiros estudiosos do cangaço.


 


Por fim, espero que os verdadeiros heróis da resistência sejam agraciados um dia com as homenagens devidas pelo povo de Mossoró e que os seus representantes, que com certeza não serão os que hoje dominam o cenário político da cidade, possam resgatar a verdadeira história da resistência ao bando de Lampião e aos mandantes da invasão.


 


por Gutemberg Dias, geógrafo e presidente do PCdoB em Mossoró