Permissionários do Beco da Poeira serão transferidos no fim de agosto

Projeto do novo Beco da Poeira foi apresentado ontem pela Prefeitura, mas não agradou aos permissionários

“Como sempre, tudo em relação ao Beco é muito difícil, mas esta é a última dificuldade”, brincou a titular da Secretaria Executiva Regional do Centro de Fortaleza (Sercefor), Luiza Perdigão, ontem, pouco antes da apresentação do projeto do novo Beco da Poeira. O evento teve início com atraso de quase uma hora por conta de problemas com a eletricidade do prédio da extinta fábrica Têxtil Thomaz Pompeu (na esquina da avenida Imperador com rua Liberato Barroso), que abrigará os permissionários do Beco da Poeira, conforme a Prefeitura, a partir de agosto.


 


O local ainda não tem nome oficial, apesar das ilustrações de como será o prédio mostradas na apresentação conterem na fachada a inscrição Beco da Poeira. “Foi um engano de quem fez (a apresentação). A prefeita Luizianne Lins pede que o novo local não seja chamado assim, já que nem de longe vai lembrar o atual”, disse Luiza. “Temporariamente, estamos chamando de Centro Popular de Pequenos Negócios e Vendedores Ambulantes”.


 


O projeto, orçado em R$ 13,5 milhões — R$ 7,4 milhões gastos apenas na desapropriação do prédio — prevê infra-estrutura para instalações elétricas e telefônicas adequadas, além de pontos para internet, banheiros, jardim, praça de alimentação, espaço para a administração, caixas eletrônicos, posto de serviços da Prefeitura e unidade do Serviço de Apoio das Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que prestará consultoria aos comerciantes. O tamanho dos boxes será padronizado e haverá controle da poluição visual. A coleta do lixo será seletiva.


 


O projeto não prevê, contudo, área para estacionamento. Será na rua. “Esse é um problema que já existe no Centro como um todo. O metrô vem para auxiliar a resolvê-lo. Com um transporte de qualidade, menos carros precisarão circular”, ressaltou a secretária. “São projetos que vão ajudar na requalificação do bairro e preparar a cidade para a Copa de 2014”.


 


A previsão é que a mudança ocorra no fim do mês de agosto, quando termina o prazo dado pelo governo do Estado à Prefeitura. É que na área onde está o Beco atualmente vai funcionar a futura Estação Lagoinha do metrô de Fortaleza.


 


Com 11 mil metros quadrados de área, o prédio da Têxtil vai abrigar 2.119 boxes — 2.030 para os atuais permissionários, 69 para comerciantes da Rodoviária Engenheiro João Thomé e 20 para lanchonetes e restaurantes.


 


O presidente da Associação Profissional do Comércio de Vendedores Ambulantes e Trabalhadores Autônomos do Estado do Ceará, Antônio Amaro da Silva, questiona o projeto de transferência dos permissionários do Beco da Poeira. Para ele, o tamanho dos boxes — que diminuiria 20 centímetros em relação aos atuais — é uma das principais razões. “Aqui temos 1,5 metro de frente por um de fundo. Na fábrica, teríamos 1,10 de frente por 1,28 de fundo. Para nós, a frente é mais importante”.


 


A estrutura, como a colocação dos boxes, é outro motivo. Segundo ele, pelo novo projeto, as áreas de circulação também serão reduzidas. “Hoje temos para cada três boxes, um corredor, pelo projeto da Prefeitura, isso aumentaria para 18 boxes, o que é complicado”.


 


Críticas ao tamanho dos boxes


 


De acordo com Luiza Perdigão, titular da Sercefor, apesar da resistência de parte do permissionários em relação ao projeto do novo Beco da Poeira, a mudança é “irreversível”. “Tanto o metrô como a requalificação do Centro são projetos para toda a cidade de Fortaleza. Não é possível que milhões de pessoas sejam prejudicadas por conta de duas mil”, afirmou ela. “Esta etapa do projeto põe fim a um impasse surgido na administração do ex-prefeito Juraci Magalhães”.


 


O evento de ontem era fechado para a imprensa, mas alguns permissionários estiveram presentes e fizeram diversos questionamentos. A maioria em relação ao tamanho dos boxes. “O projeto ainda pode mudar. Estamos abertos a nos reunir com vocês e encontrar soluções”, respondeu Luiza.


 


O presidente da Associação dos Permissionários do Beco da Poeira, Raimundo Liandro Carlos, disse que os comerciantes temem ainda pela segurança do local. “O prédio é muito antigo e será apenas reformado. Eles falam que o Beco é um barril de pólvora (por conta das ligações clandestinas de energia), mas aqui também pode cair”, avaliou ele.


 


Segundo Luiza Perdigão, tudo foi pensado de forma a zelar pela integridade de comerciantes e usuários. Ela revelou que a antiga fábrica passará por todas as intervenções necessárias. O telhado, por exemplo, será completamente substituído. Apenas com a reforma e construção dos novos boxes serão gastos quase R$ 6 milhões do orçamento total.


 


Ambulantes


 


Luiza Perdigão declarou que o comércio ambulante do Centro será reformulado. “A Prefeitura trabalha pela inclusão social, mas nenhuma atividade ilegal permanecerá”, garantiu, referindo-se à chamada Feira dos Malandros, na Praça da Lagoinha.


 


Parte destes comerciantes será transferida para um prédio na Rua Guilherme Rocha, que deve ficar pronto em três semanas. “Ambulantes como os que ficam na calçada do Centro de Especialidades Médicas José de Alencar, atrapalhando o fluxo de pedestres, não poderão permanecer”, acrescentou.


 


Processo de mudança se arrasta há quase 10 anos


 


Desde 2001, os permissionários do Beco da Poeira vivem uma indefinição. A Prefeitura, na gestão de Juraci Magalhães, comprou o espaço para o novo prédio, entre a Rua 24 de Maio e a Avenida Tristão Gonçalves, autorizando a Associação Profissional do Comércio de Vendedores Ambulantes e Trabalhadores Autônomos do Estado do Ceará a captar recursos para a construção dos boxes. O serviço começou sem alvará e sem aprovação do projeto pela Prefeitura. Por isso, em novembro de 2004, a obra parou.